segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

O homem é um animal de hábitos?

Oliver Twist nasceu cerca de cem anos antes de eu próprio ver a luz dia.
Dickens concebeu-o como um órfão que, perdido no mundo, resiste às tentativas de subversão a que é sujeito.
Acontece que a citação do próprio autor de Oliver - o homem é um animal de hábitos - levanta uma série de questões que dariam para uma salutar discussão numa noite de inverno, à lareira, sorvendo cacau bem quentinho. Hei!... Sim, pois, em alternância pode ser ponche ou irish coffee.
Afinal, o que é o hábito?
A própria definição é um tanto ambígua: “disposição natural para a prática de certas coisas ou adquirida pela repetição frequente dos mesmos actos”.
Será que a disposição natural para a prática de certas coisas pode ser alterada pela prática de certas coisas que nos são impostas por outrem ou pelas circunstâncias da vida?

A minha experiência, já com barbas brancas, é a de que sim, não tanto pela imposição de alguém em especial, mas especialmente pelas contingências da vida.

Assim, de um momento para o outro tive que abandonar uma série de hábitos adquiridos por repetição diária, para me dedicar a uma nova actividade: “homem-a-dias”.
Já não vou semanalmente ao clube de que sou o sócio nº 2, nem às assembleias da associação profissional de que sou sócio nº 3, já não compro o jornal todos os dias, perdi o hábito de visitar alfarrabistas, de ir todos os anos à minha terra para contar as pedrinhas da calçada e até passam dias e dias sem visitar a Net e deixar pespegada uma piada ou um lamento nos sítios que visitava.
Agora, começo a habituar-me a ir ao mercado comprar batatas, a inventar o almoço ou o jantar, a lavar a loiça do almoço, a fazer máquinas de roupa e pendurá-la no estendal, a aspirar as passadeiras e até a fazer pão em casa para não ter que ir à rua comprá-lo.

Ora acontece que todos os hábitos por mais rotineiros que sejam acabam por nos cansar a psique, desencadeando estados que amarfanham a alma e bloqueiam os neurónios. Recorrer à imaginação para inventar, alterar ou melhorar as novas práticas é o antídoto aconselhável.

Exemplificando.
Há dias, enquanto o pargo assava no forno e olhava para os marmelos que o meu vizinho me ofereceu, deu-me para fazer doce com eles.
Não vou aqui dar receitas de marmelada que se encontram às centenas na Net, nem tão pouco do aproveitamento que, em sequência, se pode fazer das cascas e cascabulhos.
O segredo está em ir um pouco mais além e recrear o acto final usando a imaginação de que todos temos um pouco.
Enfrascar a geleia, que não por acaso ficou óptima e colocar-lhe um rótulo sugestivo transpõe-nos do plano rotineiro (habitual) para o campo criativo, que nos compensa da sensaboria do acto repetido e automático que nos reduz e apouca.

Ora olhai este belo rótulo.





















E as características do produto?...


















PS – Porque será que quando escrevo no Word “mulher a dias” não fica sublinhado como erro e fica quando escrevo homem a dias?
E depois eu é que sou machista!
Tá bem abelha.
A.M.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Meu diário, meu amor!

25 Agosto de 2005

Há muita gente que logo de manhã compra ou manda comprar todos os jornais do dia apenas para consultar assuntos específicos relacionados com a sua actividade. Pouco tempo depois já estão no caixote do lixo.
Mas a grande maioria de leitores são aqueles que, contaminados por um estranho vírus afectivo, compram todos os dias apenas um determinado jornal, que devoram página a página, letra a letra, como se, dado o seu preço, até o tutano lhe devessem chupar. Às vezes deixam uma coluna para saborearem mais tarde, talvez ao serão. Entram em vertiginosa órbita giratória quando dão conta que o jornal entretanto desapareceu porque serviu para forrar o caixote do lixo.
- Quem foi a besta que já me fez as palavras cruzadas? – Dizem quando se preparavam para aquele ritual diário e dão conta que alguém, lá em casa, se lhe adiantou.
Tomados por avassaladora paixão vão ter mais dificuldade em divorciar-se dele do que da própria mulher.

Eu pertenço a esta classe. Estou enforcado há pouco tempo com um, e ainda sinto saudades do meu primeiro, o qual tive que mandar para o brejo por causa de uns colunistas que me começaram a chamar nomes. A mim e a mais uns quantos como eu.
Já cheguei à conclusão que o desejo de ter um jornal só com colunistas que rimem com as nossas ideias para além de ser uma utopia era um grande aborrecimento. É bom lermos quem gostamos, mas também faz um bem danado a gente sentir-se espicaçado pelos comentários adversos de outros que julgamos odiar. Afinal são os nossos inimigos de estimação.

Por exemplo:
No dia em que tiver programado cuidar da minha colecção de selos não devo ler Helena de Matos. Devo, contudo, lê-la no dia reservado para cavar o quintal, ou ainda melhor se tiver um muro para deitar abaixo com uma marreta. E a coisa deve ficar por aqui.
Não convém comentá-la, como fez a “pobre” Maria João Seixas, pois logo pincham em cima os verdadeiros “amantes” de Helena, que, anónimos como eu, aproveitam para, esquecendo o objectivo, desancarem tudo o que tenha o mais leve tom róseo.

Foi o que fez um leitor no dia 25, em que para além colocar em dúvida a carteira profissional de Maria João Seixas como jornalista, tece as seguintes considerações a respeito da “adolescência tardia”:
“O chamado espírito jovem é geralmente lamentável, e tanto mais lamentável quanto mais velho for o corpo em que se manifesta. Um velho com o tal espírito jovem é uma coisa triste porque significa (contrariamente ao que é habitual dizer-se) que não atingiu a sabedoria, a abertura, a tolerância, o apaziguamento, a consciência crítica, o sentido do ridículo, a noção do essencial, a relativização dos acontecimentos, enfim, a visão larga da vida que a idade vai trazendo.”

E assim, inesperadamente, por acaso num dia 25, embora de Agosto, sou informado que ter um espírito jovem é uma desvantagem para compreender o mundo em constante mutação, os novos desafios, as recentes descobertas. Aterrado com esta acusação dá-me vontade de afivelar a máscara da sisudez, do sorumbatismo e da misantropia. António Macambúzio Mata, devo passar a assinar. Nessa altura passarei a ter uma figura distinta, e a ser complacente, tranquilo, inteligente, magnânimo, enfim um sábio que até um colaço não desdenhará convidar para a sua mesa

E os anos perdidos na luta para manter uma mente jovem? Tanto tempo perdido, meu Deus! Quando tinha sido tão fácil deixar a mente envelhecer ao ritmo celular, que desacerto fui eu procurar para, afinal, ser agora desclassificado?

Afinal sempre estive enganado. Eu pensava que velho ridículo era aquele que queria aparentar um ar jovem, pintava o cabelo e o bigode quando embranqueciam, e na falta dele puxavam a melena para o cocuruto ou usavam peruca. Faziam plástica para atenuar as gelhas e eliminar as plicas e mentiam quanto á sua idade.
Porquê? Porque possuíam a vã ilusão que podiam enganar o Tempo e ganhar vantagem em algumas aventuras terráqueas.

Ficamos então a saber que tudo se centra na cachimónia. Aquela parte dos neurónios que nunca é solicitada durante a nossa vida, deve ficar assim em descanso até que uma pasada de terra, ou a chama do crematório lhe tracem o destino final. Devemos usar os velhos neurónios, sensibilizados com as antigas imagens, onde estão fixadas as velhas regras do comportamento, sendo completamente proibido fazer “downloads” de actualização. Os nossos ancestrais ascendentes vão gostar!

Por isso eu não vou divorciar-me do meu querido jornal diário.

A propósito onde é que o arrumei? Tenho que ler melhor aquela história do Pat Roberson, líder religioso cristão, que recomenda que os EUA procedam ao assassinato de Hugo Chávez. Quero ver se Bush diz alguma coisa sobre o assunto.
A.M

domingo, 21 de novembro de 2010

Com três letrinhas apenas...

Cia, que na técnica comercial significa companhia, e que os amantes das palavras cruzadas sabem que significa "rema para trás", ou ainda pode ser uma espécie de cotovia (anthus fratensis) surge, também como Central Intelligence Agency de que toda a gente já ouviu falar mas não sabe muito bem para que serve.

Uma vez por outra, relacionado com este último significado, aparecem notícias que na maioria das vezes são logo desmentidas por pessoas tão amantes da verdade que perdem o seu precioso tempo a explicar-nos tudo, tintim por tintim. Para que não fiquemos com dúvidas, esgrimem argumentos analógicos em que o KGB serve de contrapeso para se definir o padrão oficial.
Resumindo. Eu já interiorizei que a CIA é o braço armado de Deus e o KGB o braço armado do mafarrico. Fica tudo explicado de forma muito sintética.

Numa referência recente, um falso agente daquela organização vem dizer que recebeu ordens do chefe:
- Vá e traga-me a cabeça do Bin Laden numa caixa. Ponha-lhe gelo para não se estragar.
O pobre homem que já tinha conhecimento de que havia uns cartazes à moda do farwest em que por baixo da fotografia estava escrito: VIVO ou MORTO – 500 milhões de dólares, não se conteve e perguntou a medo:
- O que faço ao corpo? Vale alguma coisa?

Pergunta estúpida, está bem de ver, visto que o corpo só serve para identificação quando a cabeça levou sumiço.

O grande problema, no meu fraco entendimento, é que o Bin Laden é uma autêntica Hidra de Lerna, quantas mais cabeças lhe cortarem mais cabeças vão crescer. Não vai chegar o orçamento para tanta caixa e tanto gelo.
Quem te avisa teu amigo é!
A.M. 6/Maio/2005

Apelo à tua religiosidade, Maria!

No reinado de Herodes, na terra da Judeia, aguardava-se a chegada do Messias que os libertaria da terrível opressão do império romano.
Diz-se que havia vinte e seis seitas religiosas, o que, a ser verdade, demonstrava total ausência de unidade da comunidade religiosa.
Deixo aqui um parêntesis para te pedir que não comeces a fazer comparações com o que se passa no mundo actual em que ambos vivemos.
Fixemo-nos no Herodes!
Dizia eu, que a falta de unidade provocava tantas interpretações da Sagrada Escritura quanto o número de seitas existente. Cada um ao seu e todos ao mesmo, como a mais básica regra das tácticas futebolísticas.
Claro que isto provocava grandes confrontos. Os fariseus eram acusados pelos Nazarenos de cumplicidades com o sistema, e estes por sua vez, eram apontados pelos saduceus como os inimigos a abater. Os nazarenos e os essénios procuravam passar pelos intervalos da chuva, para se chegarem à frente.

Certo dia levantou-se grande alvoroço contra a Igreja em Jerusalém.
Saulo foi um dos principais instigadores, e entrando pelas casas levava homens e mulheres para a prisão.
Era Saulo de Tarso, mais tarde conhecido como apóstolo Paulo, que um dia, seguindo por um caminho, já perto de Damasco, se viu envolvido por súbito esplendor vindo do céu ao mesmo tempo que uma voz lhe soava aos ouvidos:
- “Saulo, Saulo, porque me persegues?”
- Quem és, Senhor?
- Eu sou Jesus, a quem tu persegues.
Estou convencido, que Deus, sendo Deus, sabia de antemão o que dava corda às sandálias de Saulo naquela paranóica perseguição, e, malandreco, apenas alimentou a pretensão de pespegar um susto ao pobre homem.
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Ora eu, não sendo Deus, nem sequer Zandinga, não acreditando no professor Karamba e muito menos na Maya, a cartomante, interrogo:
- Maria, Maria, porque me persegues?

A.M. 5/Maio/2005

Nota: O espaço do JN, "Desabafe connosco", deu lugar ao "Blogues do leitor". Este por sua vez foi encerrado, tendo ficado no seu lugar para além dos colaboradores residentes (oficiais) uma nota que reza assim:
"O Jornal de Notícias decidiu melhorar os "blogues do leitor". Assim, e até ao novo espaço aberto à participação de todos, encerramos os blogues existentes. Esteja atento. Voltamos em breve com novidades."

Já lá vão alguns meses o que dá ao "voltamos em breve" um falso carácter.
Acontece que se forjaram ali algumas amizades e também inimizades, que tendem a cair no esquecimento dado o encerramento daquele ponto de encontro.
Para que não se percam no tempo algumas passagens desse período transcrevo aqui, agora, alguns desabafos, entretanto apagados pelo JN daqueles espaços.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

A greve do lixo

No dia 24 de Novembro vai dar-se uma greve geral.
Uns consideram-na justa e suportam as contrariedades que vai provocar no seu quotidiano.

Outros, sentem-se muito incomodados e entendem que as greves não deviam prejudicar ninguém.

Como se uma greve que não prejudica ninguém pudesse surtir algum efeito!...

Em Dezembro de 2005 disse a propósito da "greve do lixo":


A propósito da greve dos homens que têm a função de limpar o lixo que os outros fazem.
Só às horas extraordinárias, por acaso! Acaso tão evidente como esta greve dar-se pelo Natal.

Das duas, uma!
Ou as coisas estão a melhorar ou então existe manipulação nos inquéritos de rua.
Acredito na primeira hipótese.

À pergunta feita às transeuntes sobre o que pensavam da greve:

1ª Resposta: Acho bem! Coitados! Não há o direito de lhes retirarem regalias.
2ª Resposta: É o que resta aos pobres para defenderem os seus direitos. Os ricos não precisam porque têm dinheiro.

De um modo geral é costume ouvir as pessoas lamentarem-se do transtorno causado por uma greve. Como se alguma greve que não causasse qualquer tipo de transtorno tivesse razão de ser!...
Como por exemplo uma greve dos limpa-chaminés… no verão!
Ou uma greve dos guardas-nocturnos … de dia.
Uma greve de nadadores salvadores no Inverno.
Ou da banda de música da minha terra no dia 1º de Dezembro.
Ou mesmo dos deputados da Assembleia durante o ano inteiro.

Agora o lixo incomoda.
Pelo cheiro nauseabundo.
Pelo aspecto de sordidez que provoca na zona.
Pelo assustador perigo dos pestilentos miasmas.

Pensamos que o miserável lixo que fazemos e colocamos à nossa porta é levado por metamorfósicos duendes que se dissolvem no ar perante o nosso olhar.
Assim, de repente, humanóides iguais a nós, com pernas, cabeça, braços, olhos e até estômago absolutamente idênticos aos meus e aos teus, fazem uma prova de vida.
Ai Jesus! Isto é um crime! Que pivete! Nem consigo dormir!

Talvez a coisa esteja a mudar para melhor. Talvez!

A.M.

A arraia-miúda

Não comento o artigo de VPV no "Público" de hoje, dia 15 de Novembro de 2010, com o título "Casa de Loucos".
Aquilo que escrevi em 5 de Dezembro de 2005 continua actual.
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Quando chegamos à última página do jornal lá está o Vasco Pulido Valente no seu papel de comentador político para nos amarfanhar a alma.
Se acordamos já acabrunhados, de mal dormidos por pesadelos indefinidos, o melhor é não o ler nesse dia, pois pode muito bem acontecer que a depressão atinja valores tão profundos que sejamos levados para uma solução camiliana.
Confesso que nunca li nada do Vasco que me anime, me revigore, me titile o brio, me faça dar um salto na cadeira. Já nem sequer me consegue surpreender. Diz, metodicamente, mal de tudo e de todos.
Desengane-se quem andar à procura de uma luz orientadora, um sinal no caminho que o demova de alinhar no clube dos abstencionistas quando chegar a hora. Quem, num exercício de inteligência, procurar entre linhas e parágrafos o que resta do que foi desbaratado, não encontra nada senão escuridão e silêncio.
Afinal porque continuo a lê-lo?
Porque gostando do seu estilo, dos seus raciocínios, da sua ironia roçando o sarcástico, consigo abstrair-me da força depressora que emana da sua crónica, para ficar apenas o “sumo” da crítica.
Na “Liberdade vigiada” de hoje censura Cavaco por ter sugerido a criação de uma Secretaria de Estado para acompanhar as empresas estrangeiras em Portugal.
Mas satiriza igualmente Soares, o Governo e toda a esquerda em geral pelo argumento usado para combater aquela sugestão do Professor, ou seja, considerando-a uma tentativa de ingerência nos assuntos da área governativa.
As razões que considera válidas para combater a ideia são:
1- A mania da imitação do que se faz lá fora.
2- Implicação de mais burocracia (e logo mais despesa, digo eu).
3- O privilégio (mesmo que só aparente) concedido a estrangeiros geraria contestação do capital nacional.
Critica-o ainda por se apresentar como salvador e fazer acreditar à “populaça pouco versada em direito constitucional” que irá “mandar – com a lei, sem a lei ou contra a lei”.

Estou de acordo no essencial, dado que já tinha emitido uma opinião idêntica, desvalorizando o argumento eleito pela oposição a Cavaco, quando havia outros bem mais importantes e mais sérios.
O que não posso deixar passar em claro é o insidioso termo “populaça”.
Então oh Vasco, “população” não servia? Não ficava melhor? Eu sei que a técnica de enfatizar as coisas, resulta, realça, dá brilho, mas gaita à custa de nos achincalhar?
Olha a gente gritar numa manifestação:
- A populaça é quem mais ordena!
- A plebe é quem mais ordena!
- A ralé é quem mais ordena!
Ou mesmo,
- A rabacuada é quem mais ordena!

Não era preciso.
A.M.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Rocambole

Quando o tempo muda de cara só nos resta trocar-lhe as voltas elaborando um novo plano de actividades. Ir para a rua está fora de questão e no aconchego da casa a pinha solta-se, vai à deriva e se não a castigarmos imediatamente com uma qualquer ocupação desata a remexer no baú das velharias. Uma delas, cuja importância na escala de afazeres varia em função do boletim meteorológico, é, efectivamente, o meu rico PC.
Os mais velhos associam a sua existência e principalmente o seu uso à degradação dos princípios e costumes do nosso tempo e chegam a ter-lhe um ódio de morte, mas eu acho que o problema é outro.

Foi o que resolvi fazer, quando espreitando pela janela o céu revolto, uma página sem data se soltou da barafunda da arca e ficou ali a pairar à minha frente.
Falava de Rocambole. Só podia ser coisa muito antiga dado que a última vez que estive com Ponson du Terrail foi mais ou menos na mesma altura em que visitava regularmente o Júlio, sim, esse mesmo, o Verne e creio que o Salgari também estava muitas vezes presente.
A certa altura cheguei a comparar Ponson com Camilo, por associá-lo ao lote de escritores prolíferos. Diz-se que Camilo escreveu o Amor de Perdição em apenas quinze dias quando estava com um febrão dos diabos. Ou seria o Amor de Salvação?
Não era com certeza “Memórias de um suicida”.
O autor de Rocambole escrevia com uma velocidade impressionante e não fazia revisões.
“O comandante passeava com as mãos nos ombros lendo o jornal” parece que foi uma frase que todos os seus leitores mais atentos, nunca entenderam. Exprimia-se com enorme profusão de palavras para explicar coisas supérfluas, mas eu, naquela idade li-o com muito agrado. Os leitores gostavam tanto dele, que quando resolveu matar “Rocambole” protestaram tanto e tão alto, que o escritor teve que ressuscitá-lo. Então, o livro seguinte começava assim:
“Como a perspicácia dos nossos leitores adivinhou, Rocambole segue vivo”.
Era porreiro! Que tempos bons!
Aliás como estes, em que ainda cá estamos para recordá-los.

De qualquer modo, se não fosse ele, no dicionário rocambole seria apenas uma dança ou um bolo, como por curiosidade fui ver ao De Morais.
Se a gente for perguntar a um infante qualquer, por exemplo ao meu neto, o significado de rocambolesco ele não vai saber, mas a palavrinha lá está nos dicionários em memória do tipo que apesar de prolixo enriqueceu o léxico de muitos países.
Tivesse a nossa juventude lido Rocambole!

Morto e enterrado definitivamente com o seu progenitor, Rocambole revive permanentemente no espírito de muita gente que teima em complicar o que é simples, tecendo teias mirabolantes para tentar concluir o inexplicável.
O infinito, por exemplo.

Vamos mas é almoçar que se faz tarde!

A.M.

domingo, 31 de outubro de 2010

Toca o Hino!

A propósito de uma campanha publicitária da PT que em 2006 causou alguma indignação popular, levando a sua administração a substituir a “Portuguesa” pela popular composição “Bacalhau à Portuguesa”, de Quim Barreiros.

Caramba, contra os canhões marchar, marchar!
Agora só falta fazerem cuequinhas com as cores da bandeira nacional e a respectiva esfera armilar bem centrada… atrás.
Porque, se como diz o Sr. Director de Comunicação da PT, o Hino Nacional foi usado na campanha da PT para passar uma mensagem de orgulho em Portugal eu fico sem saber onde se encontra o enorme sucesso que o mesmo senhor garante.
Aumentou o orgulho nacional?
Subiram as vendas da PT?
É fácil verificar se as notas de música se transformaram em notas moeda, mas quanto ao orgulhozinho… hummm… tenho as minhas dúvidas.
Aquilo que eu sinto é uma enorme irritação pela constante repetição (matraqueação seria o termo mais correcto se existisse) que me leva a mudar de canal automaticamente para não ter que me pôr em sentido.
Acho mal? Acho bem? Nem eu sei…!
O meu medo é que no futuro, em qualquer acto público, quando a banda atacar a “Portuguesa”, em vez de arrepios de comoção, sintamos uma indiferença maior do que ouvir o tiroliro.
Mas se calhar isto são birras de velho!
6/JAN/2006

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Desisto!

Por hábito costumo almoçar à uma hora da tarde e aproveito para ouvir, mais do que ver, o telejornal, pois gosto de estar informado do que se passa lá fora. Fora dos meus muros, como está bem de ver.
Todos os nossos canais, antes e depois do período informativo, dedicam-se ao debique pormenorizado e profundo dos acontecimentos mais funestos que sempre existem em qualquer país, por mais pequeno que seja.
Porquê?
Porque o mercado continua a impor a sua regra básica da oferta e da procura e logo, se há mais clientes para o sangue que mancha o passeio, um assalto à mão armada, um choque em cadeia na auto-estrada (quantos mais mortos, melhor), ou mesmo um pequeno desentendimento familiar, jorra mais “cacau” dos anunciantes para alimentar todos os agentes da paranóia informativa.
Claro que os telejornais não estão imunes a esta onda, todavia ainda conseguimos alguma informação sobre a situação no mundo e particularmente no nosso país.
Há poucos anos, a pivot de um telejornal introduziu no noticiário uma reportagem sobre as urgências no hospital de S. José. Quando depois da apresentação, feita pelo repórter no exterior, o médico responsável se preparava para nos transmitir a situação naqueles serviços, a senhora no estúdio resolveu interromper para introduzir uma mãe que reduziu o seu problema a esta declaração
- O meu filho bateu-me e até me chamou vaca e puta!

Não é pois de estranhar que sentando-me hoje á mesa alguns minutos antes do noticiário das 13 horas e quando levava á boca uma bucha barrada com paté de sardinha, tenha encarado com alguma indiferença a conversa da apresentadora do programa sobre um homem que foi morto por ter violado um burro. O dono do dito lavou deste modo a sua honra.
Do burro? Não, a sua própria.
E quando julgava que ia começar o telejornal ainda ouvi a incrível estória dum homem que matou o cunhado por causa de biscoitos.

Tem piada, só agora reparo na relação entre as duas notícias.
Então… bis-coito...!
À hora do almoço.
Esta gente é doida varrida!
A.M.

Nota: A título meramente informativo acrescento que biscoito não tem nada a ver com "aquilo" duas vezes. Biscoito tem origem latina: biscoctu - cozido duas vezes.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Correlações temporais

Alguns amigos sabem da necessidade que sinto em regressar à gleba original, pesquisar nas ruas, na beira do rio ou no pinhal sobranceiro, algum vestígio que me re constitua e alente para singrar mais algumas milhas no mar do quotidiano.
Parto sem planos, sem regras, sem mapas. O que for soará!
Dois ou três dias depois, regresso com o casco restaurado e as velas remendadas.
Um dia, ao passar em frente da casa onde nasci e vivi até aos 17 anos, senti uma irreprimível vontade de revê-la por dentro - o meu quarto, a estante com livros, a lareira, a escada que dava para o quintal, o alpendre, o misterioso sótão.
Mal dei por mim batia à porta e pedia desculpa à simpática senhora que me atendeu por não ter conseguido reprimir o impulso de revisitar a casa donde saíra há mais de 50 anos.
Convidou-me a entrar e ali estava eu a mirar e a medir espaços, revolvendo a arca das recordações.
O meu amplo quarto de criança encolheu repentinamente e as portadas das janelas já não me pareciam conventuais. O largo e comprido corredor que atravessava toda a casa e desaguava na cozinha através de uma misteriosa meia-porta já não era a antiga pista de corridas.
Na varanda das traseiras estava um gato dormitando ao sol, mas não era o Cuco, e o cão preso por uma corrente ao fundo das escadas não era o Kiss.
Dali, olhei todo o quintal. Era comprido, feito em socalcos e percorrido lateralmente por uma passagem com degraus que ia até lá acima à última courela. Em cada uma delas havia um tanque do lado esquerdo dos quais saiam caleiras que transportavam a água ao longo de cada plano de terreno.
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Naquele dia o avô andava a regar os pés de laranjeira plantados há poucas semanas na última courela. Eu olhava com admiração a facilidade com que transportava os grandes baldes de água que retirava dos tanques. Por vezes parava para descansar um pouco e procurava-me com a vista para se certificar que não havia maroteira.
- Chega aqui, anda cá ver um bicho!
Aproximei-me desconfiado.
E lá estava a fera, negra e amarela, viscosa como uma lesma.
- É uma saramantiga – ensinou-me o avô.
- Vou contar à mãe que vi uma saramantiga – disse eu excitadíssimo – partindo numa correria direito a casa para partilhar o grande acontecimento.
Para não me esquecer do nome, pelo caminho, ia repetindo, saramantiga… saramantiga.
A meio do percurso já dizia, saramanteiga… saramanteiga.
Quando esbaforido cheguei ao pé de minha mãe gritei entusiasmado:
- Mãe, ó mãe, eu vi uma manteigueira.
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Realmente o quintal não era assim tão grande.
Para uma criança como eu, tinha precisamente o comprimento que vai de uma saramantiga a uma manteigueira.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

36 anos depois

Confesso que não dei muita atenção às minúcias do relato.
Também, para o fim em vista, isso não é muito importante.
Os contornos precisos não são essenciais para a figura que pretendo desenhar.

Um amigo que vive numa pequena terra do oeste português, ante a vaga de indignação que se gerou quando se tomou conhecimento que a Junta de Freguesia pretendia transferir a capela mortuária para outro local, aceitou, a pedido de alguns conterrâneos, elaborar um protesto para enviar às entidades competentes.
Fez um rascunho em que procurou focar todos os inconvenientes da medida enunciada, argumentou com as razões que lhe pareceram plausíveis e sugeriu alternativas.
Fê-lo circular pela vizinhança, pediu a opinião dos amigos no café da aldeia e creio que até o padeiro e o leiteiro foram consultados.
Estava óptimo! Parabéns! Prá frente com isso – incitaram.
Passou tudo a limpo com muito cuidado.
Ele sabe que a apresentação é um factor importante nestas coisas.
- Falta um título, pensou.
Pensou e achou: “O povo é quem mais ordena”.

Encerrado o protesto nos respectivos sobrescritos lá seguiram para a Junta de Freguesia, para a Câmara Municipal e demais entidades que costumam ser oficiadas nestes casos.
No café foi afixado um exemplar para que toda a gente tomasse conhecimento da diligência.

Mas o título, meu Deus?
Tocaram os sinos a rebate?
Parece que não. Mas uma emoção geral espalhou-se no povoado.
O conteúdo perdeu todo o sentido e só o título ficou a ofuscar as mentes, fazendo esquecer os mortos e a capela mortuária.

Quando o assunto foi discutido para se perceber a razão do alarido, ficou claro que o problema estava na palavra “ordena”.
Parece que a maioria concordou que tudo estaria bem se o título fosse: “ O povo é quem mais manda”.

O Zeca Afonso, entretanto, liberto das sua obrigações de cidadania neste ingrato país, contorce-se de riso lá onde está e não pode evitar uma ponta de orgulho por, passados mais de trinta anos, o seu verso ainda estar tão vivo entre os vivos.

Mesmo que seja para odiar!

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Desânimo


Descendo o rio num velho barco à procura de um pesqueiro aprazível na margem direita, onde instalar os apetrechos, deu em entrar água a bordo pelas frinchas da madeira que o calafate descuidara.
Nestas alturas agarra-se no vertedouro e toca de devolver ao rio a água que se vai acumulando no fundo. Se a inundação não for muito grande, tirando o incómodo, não vem daí mal ao mundo e a missão será cumprida até que se volte ao porto para reparar com pez e estopa as feridas do casco.

Passa-se o mesmo com a nossa vida.
Mas quando, com as longarinas desgastadas e a quilha a desfazer-se, a água entra em jorro pelas cavernas, não há vertedouro, que a salve.

A.M.

sábado, 19 de junho de 2010

Saramago

Há brasileiros que não gostam de Jorge Amado, Graciliano Ramos, Dalcídio Jurandir.
Há argentinos que detestam Jorge Luís Borges.
Há chilenos que não simpatizam Com Pablo Neruda
Há colombianos que não suportam Gabriel Garcia Marques.
Há espanhóis que odeiam César Arconada ou Jorge Semprún.
Há franceses que não querem ouvir falar de Jean-Paul Sartre.
Há venezuelanos que ostracizam Frederico Brito Figueroa e, apertando o nariz, suportam Vargas Llosa.
Há certamente cubanos que renegam Nicolás Guillén.
Há italianos que repudiam Antonio Gramsci.
Há uruguaios que olham de soslaio para Mario Benedetti.
Há americanos que expulsaram Charlie Chaplin e desconfiam de Upton Sinclair.
Há ingleses que antipatizam com George Orwell e ignoram Óscar Wilde sem ser por aquilo que todos sabem.
Há portugueses que não toleram Bernardo Santareno, nem Sofia, nem Manuel da Fonseca, nem Soeiro, nem Urbano, tão pouco Alegre, ainda menos Ary. Desprezam Joaquim Pessoa, de Romeu Correia nunca ouviram falar mas também não gostam.
Acham graça a Almada mas não o toleram, olham de soslaio para Jorge de Sena, nunca ouviram falar de Henrique Leiria mas interrogam-se: quem é esse gajo?
O José Gomes Ferreira?
Não podem com ele!
O Eugénio de Andrade?
Assim-assim!
O Miguel Torga?
Deus nos acuda!
A Maria Velho da Costa?
Pois tá bem!
Mau!
E que me dizem do Virgílio e da Lídia?
Não estamos para aí virados.

De quem a gente gosta mesmo é do Manuel de Portugal e do Chico da CUF.
Isso é que é malta fixe!

Então e o Saramago?
Uh! Uh! Uh! Uh! Uh!
O quê? Já morreu?
Coitadinho…!

A.M.
Nota: Alguém ainda acredita que não gostam do Saramago porque se esqueceu de semear vírgulas nos textos?

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Drogas

Se por acaso, um acaso meramente circunstancial, se procura reduzir a auto estima dos portugueses que circulam por este espaço, divulgando os consumos de álcool no nosso país, não posso deixar de realçar alguns aspectos que, como medida profilática podem atenuar o mal estar dos portugueses.

Se com o mal dos outros todos podem, segundo um dito popular, a verdade é que o conhecimento de que não estamos sós no que respeita aos índices negativos, tem o mesmo efeito que o Voltaren numa dor provocada pelo desgaste de uma qualquer vértebra lombar.

Os níveis de consumo de álcool na Europa Ocidental ultrapassam os do resto do mundo.

Os níveis de consumo na Europa de Leste são substancialmente mais baixos.

O consumo nacional desceu de 12, 9 litros de álcool puro por pessoa/ano em 1990 para 9,7 em 2002.

Apesar disso continuamos acima da média dos países da União Europeia que é de 8,06

Piores do que nós estão:

Luxemburgo – 11,9

Hungria – 11,1

Irlanda – 10,8

Alemanha – 10,4

França – 10,3

Estes são os factos!

Por isso, meus amigos, não fiquem confrangidos, por nos chamarem alcoólicos.

Ainda temos que beber mais uns copos para ficarmos ao nível da Alemanha, ela mesma, que marca o ritmo de desenvolvimento da Europa.

Mas onde estamos muito atrasados é na passa, na erva e na seringa.

Nestas áreas estamos a consumir muito menos do que em países que ingerem menos álcool, mas que estão em primeiro lugar no consumo de outras drogas.

Mais leves?

Mais pesadas?

DROGAS!

A.M

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Dia 11 de Junho (o dia seguinte)


Meter no mesmo saco o Estado e o Povo Português por não tratarem bem os antigos combatentes é uma incorrecção histórica.

O Estado é directamente responsável pela falta de atenção e mesmo de algumas desconsiderações que ao longo dos anos os antigos combatentes sofreram e é indirectamente responsável porque pela sua ausência e negligência não promoveu o reconhecimento que o País lhes deve.

Por outro lado o pedido de eliminação entre bons e maus soldados, feito por um historiador/sociólogo, no tempo e no modo como foi feito, não pode significar o branqueamento dos crimes da guerra colonial.

Quando pensava dizer qualquer coisa sobre a intervenção de António Barreto neste dia 10 de Junho, fui surpreendido pela edição especial do noticiário da SIC.

Ao tomar conhecimento da vida de João Sabadino Portugal e do seu regresso a casa quarenta e tal anos depois, desisti de abordar o massacre da Baixa do Cassanje em 1961.

A história de João Sabadino tirou-me a vontade de remexer no passado.

Por agora.

A.M.







quinta-feira, 3 de junho de 2010

Medalhas de cortiça

Durante um certo tempo e perante o constante matraquear das desgraças portuguesas feitas por portugueses, que vivem em países mais desenvolvidos, me interroguei da razão dessa atitude. Será que queriam semear inveja nas nossas mentes? Será que pretendiam justificar perante si próprios a justeza da sua “aventura” procurando refazer as suas vidas longe da pátria? Seria pirraça, tipo infantil, do género: “eu tenho um berlinde mais bonito que o teu”? Será só para chamar a atenção?
Que sentido haverá em vasculhar o jornal “O Crime” ou os títulos do Correio da Manhã e transcrever aqui as desgraças do nosso quotidiano. O pai que violou a filha, o aluno que deu um estalo na professora, o banco que foi assaltado, o neto que bateu na avó?
Algumas vezes sem acrescentar comentários, mas na maioria das vezes acrescentando algumas notas do tipo: “toma lá que é para assares”.

Talvez não exista apenas uma razão. Deve haver um conjunto de razões difíceis de decifrar.

Durante algum tempo, interpretando o facto como uma provocação, sentimos o desejo de vasculhar os Correios da Manhã da outra banda para lhes mostrar que nem tudo são rosas lá onde moram.
Nessa altura passamos a ser anti-americanos. Depois de chancelados não há hipótese de comentar o mais pequeno acontecimento negativo passado naquele continente que não sejamos acusados, para além do nosso anti-americanismo, de pertencer a partidos políticos fascista e nazistas.

Durante algum tempo, na parte que me diz respeito, deixei de tentar “vingar-me” desencantando desaires como moeda de troca.
O ambiente melhorou um pouco… não muito.

Há poucos dias voltou a criticar-se neste espaço a indisciplina nas nossas escolas como se fosse a apoteose do infortúnio, quando ainda estamos algo longe dos vários massacre que ao longo dos anos têm acontecido nos EUA e não só. Lá chegaremos, porque segundo parece devemos copiar tudo o que ali acontece.
Até o índice de desemprego em Portugal merece comentários desagradáveis quando ultrapassámos a barreira dos 11%, como se lá, donde vem a crítica não houvesse desemprego.
Em Outubro de 2009 o desemprego nos EUA era de10,2% e em Março de 2010 recuperou um pouco, situando-se em 9,7%.
Será esta diferença suficiente para atribuir medalhas de ouro a uns e de cortiça a outros?
A.M.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Os valores perdidos

A teoria de que “isto só lá vai” com a alteração dos valores éticos e morais é uma verdade que, por tão óbvia, nem seria necessário mencioná-la.
O importante é saber porque se degradaram esses valores.
O importante é saber como corrigi-los.

Terá sido por acaso? Não há responsáveis?
Continuamos todos a dizer que isto só lá vai com a restauração dos tais valores como se não houvesse nada a fazer, como se fosse um mal sem cura, um desígnio dos deuses a que não nos podemos furtar.

Oiçamos as promessas dos políticos quando das campanhas eleitorais (eleitoralistas).
Reparem como aliciam o eleitorado, como vão ao seu encontro, como sorriem, beijocam e dão passou-bens.
Vejam depois como, sendo poder, fazem o contrário do que prometeram ignorando e fugindo das pessoas e encerrando-se num casulo donde procuram justificar as decisões tomadas.

Depois é vê-los a servirem-se do poder para se atribuírem benesses, inventar institutos que só servem para colocar familiares e amigos e dando-lhes autonomia para estabelecerem os seus próprios vencimentos e demais alcavalas.

A Grécia tomou a decisão de reduzir o número de autarquias de 1000 para 300 como medida anti-crise. Nós bem poderíamos fazer qualquer coisa parecida mas ia ser o fim do mundo em cuecas. Basta a gente lembrar-se de algumas manifestações da população para promover a sua terra a concelho ou mesmo a freguesia... e a consegui-lo.
E todos sabemos que 30 municípios estão falidos e possivelmente muitos mais estarão em falência técnica.

Quem não se lembra de em 2006 o presidente da Câmara Municipal de Viseu ter proposto aos presidentes de junta de freguesia do seu concelho para correrem “à pedrada” os inspectores do Ministério do Ambiente?
Ou seja a entidade que deve fiscalizar e multar obras ilegais realizadas pelas juntas de freguesia é impedida de fazê-lo.
Foi uma atitude democrática ou ditatorial? (!)

Ferreira Torres, Isaltino de Morais, Fátima Felgueiras, Valentim Loureiro são os nomes sonantes de autarcas arguidos em processos, acusados das mais variadas irregularidades. O que acontece? Podem os partidos, envergonhados, retirar-lhes o apoio partidário; a população embevecida com a generosidade dos seus presidentes volta a elegê-los.
Popularidade?
Segundo o Expresso de 29/8/2009 o custo das campanhas autárquicas em 2009 ultrapassou seis vezes o custo das legislativas. Como é que isso é pago? Donde vem o cacau? Sim, eu sei, vem do Brasil.

Como é que se podem evitar estas malfeitorias, repor um mínimo de ordem na gestão pública dos diversos organismos, castigar quem prevarica?
Sim, porque isto contribuiria para restabelecer alguns dos valores perdidos!
Democraticamente ou ditatorialmente?

Já sei.
Com uma democracia musculada!
A.M.

domingo, 23 de maio de 2010

"Eles andem aí"

Que em 19 de Maio de 1910, milhões de pessoas tenham vindo para a rua à espera do fim do mundo, depois de terem devorado toda a comida que tinham em casa, não me parece um acto tão ridículo como o acreditar-se agora numa profecia idêntica para 2012.

O colapso previsto para aquela data baseava-se na passagem do cometa Halley perto da Terra e a especulação feita mostrando desenhos em que a sua enorme cauda varria o nosso planeta do mapa celeste alimentou facilmente muitos espíritos temerosos e pouco esclarecidos.
Nem todos, claro. Houve quem enriquecesse a vender máscaras de gás e garrafas de oxigénio e estes oportunistas certamente não acreditavam que o mundo fosse acabar. Para que lhes serviriam os proventos?

Desta vez nem sequer se trata de um fenómeno cientificamente previsível, nem cometas nem meteoritos a interceptarem o nosso percurso cósmico.
Parece que tudo resulta de uma profecia Maia baseada no seu calendário, que não faz o mínimo sentido e até já foi explicado que a data de 2012 se refere ao fim do próprio calendário.
Caramba, então eles previram o fim do mundo e não previram o seu próprio fim?

Nesta altura entra em cena a grande conspiração.
Os Maias afinal não fazem parte de uma civilização extinta.
“Eles andem aí” sobrevoando as nossas cidades e aldeias, vigiando os nossos passos e, diz-se, tomando conta da mente dos governantes mais poderosos do mundo.
Estamos fritos!
Eu, particularmente, sinto um grande embaraçamento (!) com a situação pois não sei como é que vamos conseguir pagar a nossa choruda dívida externa.
Dizem que o Sócrates anda todo contente com esta hipótese caída dos céus.
A.M.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Solidão - Retrato

O despovoamento é ibérico e o sentimento de solidão é o mesmo nos dois lados da fronteira.
Tenho um amigo que um dia resolveu fazer todo o percurso peregrino entre Roncesvalles e Santiago de Compostela. Passou por uma aldeia quase deserta onde julgava morar uma pessoa que conhecera alguns anos antes durante uma viagem pelo norte do país.
Viu um ancião sentado na soleira de uma porta e dirigiu-se-lhe:
- Buenos dias. Conoce usted a Javier Pineda?
- No. Lo siento no ser Paco González porqué ese señor vive mismo a mi lado.
A.M.
Nota: imagem de Dionísio Leitão

Instantâneo na feira

Enquanto o marido se afobava ao balcão da rulote aviando copos e coiratos assados aos visitantes que passavam, a mulher, sentada num degrau da mesma, segurava no colo um capão de cores garridas.
- Que lindo galo – elogia um cliente – que lhe vão fazer?
- Vamos comê-lo! – responde ela.
- Comê-lo?
- Não! Primeiro vamos cozinhá-lo.

terça-feira, 18 de maio de 2010

O puré de batata

Não estou com disposição para voltar ao tema dos casamentos entre pessoas do mesmo sexo. Já sei quem é a favor e quem é contra, conheço as razões em que se apoiam uns e outros e, ao fim e ao cabo, como já foi tomada uma decisão, o assunto esmoreceu.

Ouvi-a ontem, logo a seguir ao telejornal, enquanto descascava batatas para fazer um puré que acompanhasse umas fatias de carne assada.
Era o nosso Presidente em pessoa desculpando-se por ter que promulgar a malfadada lei, para não desunir ainda mais os portugueses numa etapa tão dramática como aquela que atravessamos. Creio que com esta decisão ganhou votos à esquerda para as próximas eleições presidenciais, mas não acredito que algum conselheiro lhe tenha segredado essa táctica. Sim, pois, já sei, que talvez tenha perdido alguns à direita, mas não devem ser muitos. Afinal, em quem poderiam votar os seus habituais apoiantes do centro-direita?

O que me chamou a atenção foi o argumento reticente que utilizou:

“Aliás, no mundo inteiro, só em sete países é designada por “casamento” a união entre pessoas do mesmo sexo. Dos 27 Estados da União Europeia são apenas quatro, aqueles que o fazem.”

Imediatamente a minha memória retrogradou até aos bancos da escola, e a voz do Marquês de Pombal feriu-me os tímpanos:

Vejo-me obrigado a declarar a abolição da escravatura por motivos económicos.
Não entra nem mais um escravo em Portugal e os que temos serão vendidos para o Brasil.

Em 1863 Ayres Gouveia propunha a abolição da pena de morte:

1º - Fica abolida a pena de morte.

2º - É extinto o hediondo ofício de carrasco.

3º - É riscada do orçamento do Estado a verba de 49$200 réis para o executor.

Ora acontece que nem um, nem outro, se desculpou por haver poucos países da Europa que se tivessem antecipado na tomada das mesmas decisões.
Nessa altura, mencionar tal facto, talvez fosse contraproducente, mas hoje, passados tantos anos, é com algum orgulho que recordamos o nosso pioneirismo.

Quem me diz a mim que daqui a cem anos Cavaco não é criticado por não se ter antecipado aos sete países que tiveram a ousadia de usar o termo “casamento” para a união de pessoas do mesmo sexo?

Distraído, já tinha descascado quase um quilo de batatas.

A.M.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

O respeito é uma coisa muito bonita!

Há algum tempo que venho recebendo “convites” de amigos para aderir ao Facebook.
Até agora tenho resistido, porque possuindo dois meios para estabelecer os contactos iria adicionar mais um à mesma máquina e aumentar o trabalho que tenho para gerir e organizar o sistema de comunicações.
Claro que sinto sempre um amargo de boca quando me fico nas covas perante as novas tecnologias; é como se estivesse a passar um certificado deste tipo:
“Eu, abaixo-assinado, declaro que devido ao peso da idade, já não me sinto mentalmente capacitado para aderir a qualquer novo sistema que obrigue a um esforço de aprendizagem do mesmo.”
Porque se este sentimento não é verdadeiro, para lá caminha.
E a gente a adiar, adiar, adiar…
Depois, lembrei-me do velhote da minha terra que quando a electricidade lá chegou não a aceitou e quando a água foi canalizada também não quis fazer a respectiva instalação.
Alumiava-se com candeeiros a petróleo e a empregada ia encher o cântaro à fonte.
Começo então a perceber, dada a minha relutância em aderir ao Facebook, que o conservadorismo daquele meu conterrâneo, das duas, uma, ou não era tão profundo como eu pensava ou então estou a a seguir-lhe as pisadas.
Vai daí, ontem, acabei por dar o passo.
Ainda não vi bem a maior parte das funcionalidades deste novo brinquedo, mas já fui contactado por dois camaradas felicitando-me e agradecendo-me por os considerar seus amigos. Então não sabiam? Tinham dúvidas?
O pior é que hoje de manhã, com a bica a fumegar, e lançando um olhar guloso sobre uma coluna do jornal deparo com esta notícia:

“Preocupados com questões de privacidade, um grupo de utilizadores juntou-se para fazer com que o próximo 6 de Junho seja um dia anti-Facebook. O protesto consiste em não usar a rede social. As regras adoptadas pelo Facebook em Dezembro fazem com que mais informação seja pública e mereceram ainda esta quarta-feira a reprovação de um grupo de aconselhamento da comissão Europeia, que as considerou inaceitáveis.”
Pensando bem, talvez o Facebook seja mais prejudicial para quem tem por costume esconder as suas “sem-vergonhices” atrás do anonimato.
Digo eu, que não percebo nada disto!
A.M.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Cochilando

Qual a melhor maneira de nos informarmos sobre qualquer assunto?
E, se já temos conhecimento de alguma matéria, onde foi que o recolhemos?
Se temos algumas dúvidas sobre temas específicos que critério usamos para procurar os esclarecimentos necessários?
Se falamos de pessoas já com certa idade e de ideias fundamentadas é certo que a sua inclinação penderá para todas as fontes que não inquinem os seus conceitos básicos sobre a vida, que ao longo dos anos se foram formando em função de todo o conhecimento absorvido.
Procurar explicar a razão porque uns são crentes e outros ateus, porque uns são mais conservadores e outros mais progressistas, para não falar de outros parâmetros, é tarefa destinada ao insucesso pela complexidade que envolve. Sabemos, todos nós sabemos, como não é líquido que os filhos sigam a orientação religiosa ou política dos pais, ou dos professores, não sendo raro que se encontrem em campos opostos ao nível das mais variadas ideias, pelo que o meio ambiente em que cada um de nós cresce, contribui em maior ou menor grau para aquilo que somos hoje.

O que levará alguém a dizer que uma fonte de informação é tendenciosa?
Aqui mesmo no “Blogues do Leitor” alguns intervenientes questionam-se mutuamente sobre a credibilidade das respectivas fontes. Como é evidente a lista de jornais e revistas que cada um entende ser fiável, não coincide.

Se consultarmos a biografia de Ratzinger na Wikipédia, poderemos verificar como é muito bem explicado que a sua família era anti-nazi, mesmo antes da guerra e que a inscrição na juventude hitleriana era obrigatória e que os seminaristas, não sendo inicialmente obrigados acabaram por sê-lo mais tarde. Ratzinger inscreveu-se aos 14 anos, mas o seu biógrafo teve o cuidado de acrescentar que ele não se manifestava muito entusiasta. Não acrescento mais, pois qualquer um pode, se tiver interesse, em ir ao sítio certo.

Será que esta biografia é isenta?

No dia 11 deste mês o Jornal de Notícias comentava que Ratzinger, enquanto cardeal protelou o pedido de exoneração feito pela diocese de Oakland nos EUA de um padre condenado por “molestar seis rapazes” feito em 1981. Só em 1987 o dito padre foi afastado.

Claro que este episódio não consta da biografia de Ratzinger.
Talvez por não ser importante, admito.
Não haverá contudo quem seja capaz de jurar a pés juntos que esta notícia, embora emanada por uma agência noticiosa muito prestigiada, é uma descarada mentira, porque não consta da sua biografia na Wikipédia.

No dia em que os jornais nacionais noticiaram que o Papa tinha chorado pelas vítimas de pedofilia, num deles, a notícia era complementada com uma fotografia do Papa cochilando.
Admito que quando ele chorou não havia fotógrafos presentes, mas caramba, não havia pelo menos uma fotografia do Sumo Pontífice acordado?
A.M.



quinta-feira, 15 de abril de 2010

Cuba – Vira o disco

O tema cubano, prospectado até ao tutano, deixou de ser bacano, que é como quem diz, só serve “amaricano”.
A Terra continua a girar. Guerra para aqui, manifestação para ali, conferências para isto, cimeiras para aquilo, agendas, declarações, protestos e rebeliões e tudo se vai moldando em função do equilíbrio ou desequilíbrio dos interesses dos grupos que comandam o mundo.

A queda do muro de Berlim e a desfragmentação da URSS deixou de ser arma de arremesso para a maioria dos anticomunistas. Esse facto é agora usado como prova de que o comunismo faliu e deve arrumar as botas para todo o sempre.
Por isso a importância crescente de Cuba e Coreia do Norte nas argumentações usadas para combater não já o comunismo, mas as ideias e princípios que lhe estão subjacentes.

Infelizmente, embora o alerta tenha sido lançado, ainda há quem dê corda ao viciado relógio das argumentações, sem que ele reaja e deixe de dar sempre o mesmo número de badaladas.
E insiste-se!

O Quirquistão que tem cerca de metade da nossa população, mas que possui o dobro da nossa área geográfica foi, em tempos, uma das inúmeras federações que constituíam a URSS. Mas o Quirquistão, que a maioria das pessoas nunca ouviu falar, também fazia parte dos badalados exemplos do desejo de autodeterminação dos povos oprimidos pela União Soviética. Atingido que foi o objectivo proliferante da Federação Russa, os nomes do Quirquistão, Uzbequistão, Tadjiquistão e outros, deixaram de fazer parte das preocupações anticomunistas, dado que, se tinham passado para o lado do mercado aberto e livre.

O regime de Kurmanbek Bakiyev que desde 2005 governava este país, caiu perante manifestações de revolta da população, enfurecida por ver o seu território saqueado por sucessivos governos corruptos. No dia 7 de Abril um movimento liderado por uma antiga ministra dos negócios estrangeiros enfrentou o regime e correu com aquele presidente a quem resta ser preso ou fugir para o estrangeiro.

Um dos revoltosos declarou:
Quando isto era a União Soviética, havia fábricas, centros desportivos, boas escolas. Desde então, só tem havido criminosos e ditadores”.

Sem comentários e sem pedir resposta para nada.
A.M.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Recordando Mário Lebre

No passado dia 27 de Março de 2010, durante a Assembleia-geral da Associação 25 de Abril, em Lisboa foi apresentada e aprovada por aclamação, a seguinte proposta:

“Militante antifascista e democrata assumido desde a sua juventude, abandona aos 13 anos a sua terra natal, Chão de Semide – Miranda do Corvo, indo trabalhar para Coimbra como empregado de mesa. Mais tarde, após cumprir o serviço militar muda-se para Benavente onde participa activamente na campanha do general Humberto Delgado passando a ser perseguido pela PIDE e obrigado, após as eleições, a abandonar Portugal e a viver exilado em alguns países europeus: França, trabalhando como carpinteiro; Bélgica e Alemanha, trabalhando como serralheiro. Em 1967 radicou-se definitivamente no Canadá onde viveu cerca de 40 anos. Inicialmente em Montreal (dois anos) e os restantes em Toronto onde trabalhou como soldador numa fábrica em Brampton, tornando-se membro da União de Soldadores do Ontário e do Sindicato dos Caldeireiros até à data da sua reforma por acidente de trabalho em 1995, vindo a falecer em 29 de Janeiro de 2006.

Quando da sua estadia em Montreal adere ao Movimento Democrático Português onde permanece até 1987, data em que rompe com aquele Movimento por razões ideológicas. Esta ruptura leva-o com um pequeno grupo de amigos antifascistas que com ele comungavam dos ideais da Democracia e da Liberdade a fundar, no ano de 1994, a Delegação da A25A em Toronto, mais tarde designada por exigência da Lei Canadiana, de Associação Cultural 25 de Abril – Núcleo Capitão Salgueiro Maia da qual se torna o principal impulsionador, vindo a ser seu vice-presidente e presidente.

Mário Lebre viveu intensamente a Revolução dos Cravos e a sua ligação à A25A e aos Militares de Abril era bem patente nos laços de amizade que rapidamente se desenvolviam, levando-o a afirmar em entrevista que concedeu dois anos antes de falecer: «Depois de minha mulher e duas filhas a quem muito amo, é verdade ser a Associação 25 de Abril a maior riqueza da minha vida...», e essa ligação veio a determinar que o casamento de sua filha Nancy se realizasse em Lisboa e o “copo de água” que se seguiu tivesse lugar na Associação 25 de Abril.

Graças ao seu dinamismo e entusiasmo as comemorações anuais do 25 de Abril em Toronto ultrapassavam o âmbito da Associação Cultural 25 de Abril, projectando-se em toda a Comunidade Portuguesa aí radicada e junto das autoridades locais e provinciais, contando todos os anos com a presença de um Militar de Abril convidado expressamente para o efeito.

Mas o seu espírito de entrega à causa dos direitos humanos faziam dele um activista contra a política de Salazar e Caetano e contra a Guerra Colonial, intervindo militantemente na defesa das grandes causas como a da libertação de Nelson Mandela, a da Independência de Timor Leste, a da oposição à Guerra no Iraque e à proliferação das Armas Nucleares ou na defesa vigorosa da causa do Povo Palestino.

Homem de ideais e de acção, bem podemos afirmar como escrevia Vasco Lourenço em O Referencial em artigo de homenagem à sua memória por ocasião da sua morte, «Continuas connosco Mário Lebre!», porque não era apenas um homem de grande porte físico, era, sobretudo, um Grande Democrata que através de uma vida de luta e de sacrifícios contribuiu generosamente para que o espírito de Abril permaneça vivo.

O associado da A25A, Mário Lebre, foi durante toda a sua vida um lutador pelos ideais da Democracia, da Paz e da Liberdade, ideais que consubstanciaram o 25 de Abril, identificando-se totalmente com os princípios e fins da Associação 25 de Abril a quem serviu, prestigiou e projectou no Canadá, não só junto da Comunidade Portuguesa como junto das Autoridades e Instituições congéneres de Toronto. Até na sua morte, doando o seu corpo à Ciência, sempre seguiu o caminho que norteou a sua vida e que pensava ser o mais justo no apoio às causas dos mais necessitados e dos mais fracos e aos sublimes valores da Democracia e dos Direitos Humanos.

Pelas razões expressas propõe à Assembleia-Geral da A25A que a memória do falecido Associado n.º 2.329 Mário de Almeida Lebre seja honrada e distinguida com a sua elevação à categoria de Sócio de Honra da A25A, nos termos do Capítulo II, Subcapítulo A, Secção 2, Art.º 10.º, do Regulamento Interno.”

sexta-feira, 26 de março de 2010

Contraste humilhante

Um relatório recente do Banco Mundial referia que "a globalização parece aumentar os problemas e as desigualdades... os custos de ajustamento para maior abertura são suportados exclusivamente pelos pobres."


A Agência Central de Inteligência norte-americana (CIA) dizia em 2002:
"A economia global vai espalhar conflitos e estabelecer uma diferença maior entre vencedores e perdedores. Grupos excluídos enfrentarão profunda estagnação económica..."


A ONU, também no mesmo ano afirma que "o processo de globalização está concentrando o poder e marginalizando o pobre."


Mais recentemente o Banco Mundial mencionava que “54,7 % da humanidade vive em estado de miséria ou pobreza extrema.”


Condicionado por um facto que estando à vista de todos e nem necessitava de ser confirmado por entidades insuspeitas, "apeteceu-me" representar aqui, figurativamente, os pólos antagónicos da sociedade em que vivemos e para o qual estado todos contribuímos.
Se a figura que representa a fome é um desenho com assinatura que não consegui desvendar, mas que é uma extraordinária demonstração de sensibilidade e arte do seu autor, é porque não tive coragem de colocar uma da enorme quantidade de fotografias que giram por aí, representando gente famélica, autênticos seres de pele e osso. Principalmente de crianças.
São exemplos que envergonham qualquer pessoa com um mínimo de sensibilidade.
Já este magnífico exemplo de fartura e esbanjamento só provoca um ligeiro sorriso, espartilhado que está, entre o ridículo e a pena.

Perante tal situação, não consigo entrar na banda de frequência do pequeno conflito, geral ou individual, que uns, mais do que outros, usam para passar o tempo.

Um bom fim-de-semana para todos.
A.M.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Dois planos - as mesmas motivações

Haveria muito a dizer sobre as reacções que o plano de saúde de Barak Obama está a provocar entre a população dos EUA.
Não se compreende que possa haver qualquer relutância em implementar uma medida humanista, a não ser que esteja a ser criada por poderosos grupos do ramo segurador reagindo perante a ameaça de virem a perder o mercado de que se alimentam.
Não consigo entender que alguém que já usufrua de um sistema de protecção na saúde, mesmo que desembolsando algumas dezenas de dólares semanais para um seguro de saúde, alinhe em qualquer manifestação que clama a plenos pulmões: “Matem a Lei”.
A divergência básica que existe entre democratas cifra-se no rendimento do agregado familiar, que os mais liberais pretendem que seja fixado em $88 mil e os mais conservadores em $66 mil, ou seja 4 ou 3 vezes o estabelecido para o nível da pobreza.
Essa diferença de opinião entre os democratas tem a ver com a sustentabilidade dos encargos que a lei acarreta para o erário público, que para a maioria dos republicanos será absolutamente catastrófica.

A maioria dos órgãos de informação faz referência a 45 milhões de pessoas abrangidas por esta medida, das quais 9 milhões não são cidadãos americanos.
Todavia há quem afirme que são apenas 30 milhões.
Como assim?

A diferença - 15 milhões - faz-me lembrar o litígio entre os dois amantes, Luís e Cristina, cuja paixão foi reduzida a pó, pelos números da sorte naquele fatídico dia em que o euro milhões lhes sorriu.
Eu disse, sorriu?
Se no tempo dos Montéquios e Capuletos já existisse o “Euromilhões”, Shakespeare teria escrito um Romeu e Julieta muito diferente.
No caso do Luís e da Cristina, estou convencido, que os conselheiros matrimoniais ou estavam a dormir ou impuseram-se como parte interessada no negócio.
“Penso eu de que”…
A.M.

sábado, 13 de março de 2010

Sobre "O triunfo da corrupção"

Já tenho ouvido dizer que no dia em que não arranjar nada para dizer mal, irá dizê-lo de si próprio. Claro que é um exagero que até tem um aspecto muito positivo – varre com o seu humor verrinoso todo o espectro político.
Nem sempre concordo com os seus artigos de opinião.
A maior parte das vezes porque de tanto puxar e repuxar os factos, para se adaptarem ao seu juízo final, acaba por falseá-los. Outras ainda porque tenho a minha própria opinião sobre o tema focado.

Todavia, estou absolutamente sintonizado com a coluna “O triunfo da corrupção” publicado no passado dia 12 de Março, no “Público” da autoria de Vasco Pulido Valente.
Ele parte do estudo do sociólogo Luís de Sousa, onde se diz que 63% dos portugueses toleram a corrupção desde que ela beneficie a generalidade da população, para concluir que isto não é um sentimento transitório, mas que já faz parte da nossa cultura.
Coloca uma série de questões que concorrem para esse arreigado sentimento, de que cito como exemplo esta:
“Quem pode considerar um ponto de honra pagar impostos, quando a fraude e a injustiça fiscal são socialmente sinais de privilégio e esperteza?”
Ou ainda:
“Quem vai pedir um recibo ao canalizador ou ao electricista, ou a factura no restaurante, quando sabe o que o Estado gasta sem utilidade e sem sentido?”

Conclui, por fim, que não é nenhuma admiração, perante tais incongruências que o “povo dos pequenos”, conspire contra a lei, falte ao trabalho, trabalhe mal, que meta cunhas para conseguir isto ou aquilo, que deite lixo para o chão, que conduza como se a estrada fosse propriedade sua e, por fim, que se mostre totalmente indiferente a política e ao país.

Quando há cerca de 14 anos me reformei foi-me feito um convite para dar aulas numa determinada escola técnica. Ofereciam-me 7500 escudos há hora e ao ouvido segredaram-me: “sem recibo verde”.
Automaticamente, porque ainda não tinha lido o artigo do Vasco Pulido Valente, respondi:
- Aceito 5000 com recibo.
O “angariador” olhou para mim, com um riso amarelo e virou costas.
Então fiquei livre para me dedicar às minhas “bricolages”.

Afinal, fui honesto ou fui palerma?
Se os honestos são minoria, vou fugir para uma ilha deserta, antes que me internem numa casa de saúde para doentes mentais.

Obrigado Vasco!
Um abraço,
A.M.

quinta-feira, 11 de março de 2010

A cómoda simplificação das coisas

A calamidade que aconteceu na ilha da Madeira sensibilizou toda a gente. Relataram-se os acontecimentos em pormenor, mostraram-se os efeitos das enxurradas, entrevistaram-se sobreviventes que perderam família e haveres. O movimento de apoio foi enorme dada a gravidade da catástrofe e ao espírito de solidariedade que felizmente ainda vai resistindo perante a adulteração de alguns valores morais e éticos imposta pelo materialismo desenfreado desta sociedade mercantilista.
Falou-se do assunto durante semanas mas havia um detalhe do mesmo que era considerado um tabu.
Quem ousasse procurar explicação para a gravidade do acontecimento que não fosse apenas imputável à fúria da natureza era imediatamente acusado de ser desumano e insensível perante a grande desgraça.
Alvitrar que se tivesse havido o cuidado de não obstruir ou desviar os cursos das ribeiras, impedir construções nas linhas de água, alargar ou aprofundar os cursos junto à parte baixa da cidade era considerado um sintoma de desumanidade por um lado e por outro de oportunismo político.

Outro acontecimento, mais recente, foi o suicídio do aluno de uma escola de Mirandela que se lançou no rio Tua devido ao facto de vir a ser vítima de “bullying” já há algum tempo.
Claro que toda a gente sensível e com um mínimo de humanidade condena esta prática, que vem crescendo em quantidade e intensidade nos últimos anos. Como desaprovará as praxes violentas que mais tarde, em continuidade, acontecerão nas escolas superiores, tanto civis como militares.
Mas ai de quem avente a hipótese de haver outras causas que possam ter influenciado a atitude daquele aluno!?
Sem dúvida que já se devia ter feito alguma coisa para combater a violência nas escolas, mas será que para a reduzir ou eliminar não se devem procurar outras causas fora dela?
Não se podem admitir outras razões de carácter social, familiar ou inerentes à própria índole do suicida, e agir preventivamente?

Sim, pois, mas só mais tarde quando toda agente já tiver esquecido este acidente.
A.M.

Da imprensa diária

Seleccionei para hoje dois acontecimentos relatados na imprensa diária.
A última aula do filósofo José Gil e o depoimento de Fernando Pinto.
José Gil por ter dado ontem a sua última aula no Departamento de Filosofia da Universidade Nova de Lisboa.
Fernando Pinto por ter declarado que “fazer uma greve é uma coisa do século passado”.

José Gil entrou definitivamente num circuito mais alargado de leitores quando em 2004 foi publicado o seu livro “Portugal, hoje – O medo de existir”. A sua leitura ajuda a compreender a alma dos portugueses nos dias que correm. Isso é feito de uma forma muito clara, em linguagem acessível e com exemplos sucintos e esclarecedores.
Politicamente tem opiniões controversas como não podia deixar de ser pois critica tanto a esquerda como a direita, o que fica bem expresso na sua afirmação: “Sócrates é chico-esperto, Manuela Ferreira Leite não é líder”. Frase que por si só daria para ocuparmos algum do nosso tempo discutindo de forma construtiva tudo o que se encontra na retaguarda de tal afirmação do Filósofo.

Fernando Pinto é o Presidente da TAP, contratado há já bastantes anos para salvar esta empresa de aviação, a atravessar um momento muito difícil. O seu ordenado causou na altura alguma celeuma e em 2008, quando a TAP pela primeira vez publicitou os vencimentos dos membros do conselho de administração executivo o seu salário base era de 30 mil euros brutos por mês. Durante a sua administração houve períodos de boa recuperação económica, alternados com outros de pior desempenho, como o que se vive no actual momento.
Pressionado pela anunciada greve dos pilotos declarou à Lusa que a greve era uma coisa do século passado.
Imediatamente Carvalho da Silva através do mesmo canal afirmou que Fernando Pinto tinha mostrado a mesma mentalidade do século XIX.
Eis outro tema que nos proporciona diversas vertentes de discussão como por exemplo este:
Se o sindicalismo organizado verticalmente, ou seja por empresa, ao invés de ser combatido, tivesse vingado, não haveria agora sectores privilegiados em relação aos restantes trabalhadores a promover greves que só resultarão (se resultarem) em prejuízo para os restantes e para o país. Não é uma afirmação. É uma questão.

Se todos procurássemos encontrar consensos em vez de catar divergências para, tal como obuses, enviar contra o “inimigo” talvez se conseguisse criar aqui um clima mais ameno.
A.M.

domingo, 7 de março de 2010

Só há um. Os outros são reflexos.

Em primeiro lugar quero pedir desculpa aos meus amigos.
Em segundo lugar quero pedir desculpa aos meus inimigos.
Quanto a mim é um acto condenável uma pessoa fazer-se passar por outra, mesmo em espaços como este e, por isso desde o início que me registei com a minha única e verdadeira identidade.
Muito cedo reparei que a maioria das pessoas não procedia da mesma maneira e logo a seguir concluí que se uns apenas procuravam manter-se anónimos por vergonha de se revelarem ou por receio de serem incomodados, outros havia cuja intenção era unicamente a de não poderem ser responsabilizados pelas atitudes que viessem a tomar.
Perante este cenário não faria sentido criticar a proliferação de nicks, dado que esse facto pouco altera o número de anónimos que vivem neste espaço.
O que tenho condenado, isso sim, é o uso de vários nicks com a finalidade de açambarcar mais lugares no painel dos blogues e comentários, o que, até com o passar do tempo, deixei de fazer por verificar que o civismo e respeito pelos direitos dos nossos semelhantes se inserem num longo percurso que começa na infância; primeiro em casa e depois na escola.

Quando criei Redima Aparte, personagem madeirense, tinha efectivamente a finalidade de pregar uma partida a quem passa o tempo a insultar quem “pensa diferente”. Existem coisas que não se podem criticar, tabus cravados nas mentes cuja abordagem provoca atitudes violentas e ultrajantes. A tendência para catalogar a pessoa quanto à sua índole e carácter pelas opiniões que manifesta é uma autêntica doença, que elimina qualquer tentativa de diálogo.

Mas também pretendia que Redima Aparte perante as provocações que Pereira¬_Mata se propunha fazer-lhe perdesse as estribeiras e abrisse o baú onde guarda a gíria militar aprendida na tropa, para lhe responder. Por essa razão Redima já confessara publicamente que tinha feito a tropa no Regimento de Engenharia para preparar o terreno. Com uma guerra declarada entre ambos, pretendia atrair simpatias por um lado e antipatias pelo outro.

Mas por incrível que pareça aquele traste, criado exclusivamente para me insultar, não conseguiu soltar um único palavrão. Nem o filtro chegou a ser accionado para colocar estrelinhas no seu lugar.
Por manifesta incapacidade em assumir o papel daquele personagem fiz abortar o projecto.
Repare-se que apesar da ligeireza da linguagem, Redima logo foi acarinhado à chegada e perante alguns ataques por causa de João Jardim, foi defendido e avisado das coordenadas dos potenciais inimigos.
Começava assim a “campanha de angariação de novos sócios” sem haver o cuidado de antecipadamente divulgar os “estatutos do clube”.
Um dos personagens que me acusa de tentar aliciar quem vem desaguar no “Blogues do Leitor” foi precisamente um dos primeiros a fazê-lo com Redima. Se não apaguei nenhum dos comentários que lhe foram feitos foi precisamente para que ficassem registadas como prova.

Não tenho a veleidade de pensar que perante tudo isto algo vá mudar por aqui.
Para o ano alguém perguntará:
- Como vão as coisas pelo “Blogues do Leitor”?
Alguém responderá:
- Tudo como dantes no quartel de Abrantes.

quinta-feira, 4 de março de 2010

O Divertimento

Afinal resolvi não os assoprar só para medir as vossas possibilidades no que diz respeito ao discurso, imaginação, argumentação e senso comum de que sois capazes.
Fiquei esclarecido.
Ou por outra, tirei a prova dos nove do que não são capazes.
Feita a prova porquê apagá-la?
Continuai, continuai nesse aranzel que haveis de chegar a qualquer lado. Não sei onde, mas não duvido que ainda haveis de concluir que andastes perdidos por atalhos que não levam a lado nenhum.

Ainda um dia gostava de perceber onde está o gozo de passar o tempo a trocar chalaças e remoques de mau gosto. Sim, efectivamente já mais do que uma vez li comentários onde os autores criticavam o nível deste fórum e confessavam que só cá vinham para se divertir. Como facilmente se pode deduzir só procuravam tapar a porta a alguém que resolvesse fazer a pergunta:
- Então porque não vai dar uma volta?
- Já expliquei antes. É para me divertir – repetiriam

A mim não me faz nenhuma confusão que as pessoas venham aqui para se divertir, até acho muito bem! Então haviam de vir aqui para se aborrecer?

Mas o que é divertimento para uns será igualmente para outros?

Uma pessoa levanta-se de manhã já com a artilharia pronta a disparar impropérios?
Ou será que só mais tarde, depois de se irritar com o trânsito, se lembra disso?
Ou será para se vingar do ralhete do patrão?
Ou porque está com azia? Ou quando tem insónias?

Eu, por exemplo, também venho aqui para me divertir, mas pelo resultado da partidinha sobre o grande falhanço do convívio do Almourol, aqueles que se divertiram com apupos e piadas ao convívio e aos convivas levaram a mal a nossa brincadeira. Até do lado de lá do Atlântico choveram protestos.
- Isso não se faz – disse-me uma senhora
Se o Pamplinas fosse vivo era a ele que eu pediria para classificar as brincadeiras que acontecem no “Blogues do Leitor”. Certamente, ele, que nunca se ria, ia achar muita piada e arreganhar a fateixa.

Também por isso vou deixar o vosso divertimento registado.
A.M.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Patinagem curricular

Estava à espera.
Mr. Picard é muitíssimo previsível.
Só esperava que não usasse a mesma cartilha. Cum raio, podia ter reescrito a mesma ladainha. Copy e past? Só? Seu preguiçoso!!!

Ele posta e em seguida comenta.
Às vezes repete o mesmo comentário duas, três, quatro vezes. Número que depende do seu grau de irritação. Isto é, utiliza o método do Tadeu. O que até nem é de estranhar dado que outras pessoas também o fazem.
Obedece a uma lei da comunicação que diz que a mesma mentira contada muitas vezes se torna verdade. Também dá muito menos trabalho, como é óbvio.
O texto que agora volta aparecer, com o título “curriculum”, já tem teias de aranha do tipo daquelas que o Indiana Jones encontrou numas catacumbas quando andava à procura da Esmeralda Perdida. Já o vi aqui mais vezes do que o número de vezes que passam na TV o “Melhor é impossível”.
Numa determinada altura estive para rebater ponto por ponto todas as especulações, interpretações e mentiras que o autor engendrou. Digo engendrou com toda a propriedade, dado que quanto a provas… nicles.
A falta de provas de que carece, viram-se contra mim. Agora sou acusado da minha minúcia e organização por arquivar documentos. Quando um certo JMS andava por aqui (andará com outro pseudónimo) era suportado e gabado por possuir o melhor arquivo mundial, com capacidade superior à World Digital Library. Recebia palmas e incentivos.

Já começo a desconfiar que não vou encontrar uma porta de saída para me safar dos labéus que este monsieur me lança nos costados.
Mas será que merece a pena argumentar alguma coisa?
Creio que foi um seu amigo e simpatizante que há dias me acusou de mentiroso.
Prova: uma fotografia da mendicidade numa zona dos EUA que publiquei aqui e não correspondia à data e local indicados. A fotografia e os dados foram retirados de um site na internet que não tive o cuidado de confirmar. Reconheci o erro e pedi desculpa.
Não serviu de nada. Esse episódio continua a servir para me considerarem aldrabão:
- Quelo lá não digue una parole que no senza una buzia – proclamam em desvario.

Ora vejamos em primeiro lugar os louvores (sobe o meu ponto de vista, dado que vindo o comentário de quem vem. só posso agradecer):
- Self-educado
- Módico escritor
- Self admitido comunista
Depois vejamos os opróbrios:
- Sofro de ódio perverso
- Solto piadinhas saloias
- Sou sarcástico. Uso indirectas à espera que os barretes sirvam a alguém.
- Vasculho a internet à procura de material que prejudique a Grande Nação Americana.
- Ignoro o que se passa no meu país.
(um aparte para sem sarcasmo algum e com elevada educação, Mr. Picard acrescentar que eu talvez até ignore o que se passa dentro da minha própria casa. Quem é que falou em ódio, perversidade e piadinhas saloias?)
- Colecciono religiosamente durante anos e anos todos os textos e comentários e esqueço-me de referir os meus. (caramba, tenho que fazer tudo? Tenho que argumentar para a minha defesa e também para a vossa?)
Respondendo:
Educado - foi do chá que me deram em pequenino e logo não é tão self como isso.
Módico escritor – Julgo-me pior do que aquilo que me classifica. Agradecido.
Self admitido comunista – Será que o self significa que por admitir ser comunista não o sou realmente? Então porque me perseguis? Façam de conta que não sou.
Sofro de ódio perverso, diz. Ó homem isso é ter-se a si mesmo em grande consideração.
Só me faltava sofrer de um sentimento tão destruidor da minha paz de espírito.
Piadinhas saloias – Não posso negar. Moro na zona.
Sou sarcástico – Sim, q.b.
Vasculho a internet à procura de coisas, etc., etc. Um vasculho é bom para limpar as teias de aranha. Se não tiver, ou não houver aí por essas bandas, posso enviar um pelo correio. Consulto a internet para ver muita coisa, para procurar aquilo que me aponta não é preciso. Leio o jornal diário e oiço os noticiários.
A respeito do que se passa dentro da minha própria casa, como é evidente não sei de tudo. Normalmente confio nas pessoas e em qualquer altura posso ser traído. Depois logo se vê. O que nunca me aconteceu foi trair alguém. Desmerecer da confiança que me dedicam. E o Mr. pode dizer o mesmo?
Colecciono religiosamente… taratata..tá…tá.
Então vossemecê não se lembra que o JMS é que tinha o arquivo e eu sugeria que não era preciso gastar armários e prateleiras com dados, porque se encontra tudo na net?

Eu já nem sei o que lhe hei-de dizer mais.
Depois disto só lhe sugiro que se tire dos seus cuidados e quando vier a Portugal procure-me. O senhor pede-me desculpa dos nomes que me chamou e dos defeitos que me atribuiu e eu, de joelhos, peço-lhe humildemente perdão pelo meu sarcasmo.
Envie-me um sinal de compreensão.
Muito agradecido,
A.M.

PS – Parabéns pela vitória do Canadá. Espero que o averdadedoi não me leve a mal por causa dos americanos terem perdido. Neste caso não posso agradar aos dois como está bem de ver. E já agora informava que o jogo foi transmitido em canal aberto da TV Cabo (ZON) e que me deu muito prazer assistir. Foi um óptimo jogo. Embora a gente por cá não pratique essa modalidade gostei de ver.
E aí pelo Canadá e pelos EUA que canais é que costumam dar em directo as finais de hóquei em patins (de rodas)?

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Psicografando Gualdim Pais

Há dois ou três dias, li uma reportagem sobre William Faulkner onde se afirmava comprovadamente que bastantes personagens de alguns dos seus romances tinham sido pessoas reais, isto é, pessoas que tinham existido numa determinada época. Mas o que mais me admirou foi o facto de este autor usar os verdadeiros nomes. Fiquei a saber que Candace e Bem Compson, figuras centrais de “O som e a fúria” tinham sido seres humanos verdadeiros.
O facto explica-se porque Faulkner se baseou no diário de um proprietário esclavagista cujo bisneto, seu amigo, lhe ofereceu. Como é evidente, para além da entidade das personagens, também alguns episódios são autênticos e apenas recebem os retoques correspondentes à índole e ao estilo do autor.
Embora autorizado pela família do velho esclavagista poderá considerar-se que o romancista cometeu plágio?
Na minha opinião acho que não.
Qualquer enredo, por mais mirabolante que possa ser, envolve sempre o conhecimento de algo. Muitas vezes são passagens curtas da vida, de conversas que se escutam, de livros que se leram, de histórias contadas à lareira no tempo dos nossos avós.
É em função dessas “sabedorias” que qualquer autor constrói um romance. Umas vezes inicia-o sem saber como vai acabar, outras vezes forja-o no pensamento durante muito tempo até ficar pronto e só depois o passa para o papel.
Aquilo que acontece com um enredo que se alonga ao longo de 300 folhas, acontece também no conto mais curto ou mesmo no comentário mais simples.

Uma das acusações que me costumam fazer é a de ser hipócrita e sarcástico por fazer críticas veladas, quer a factos quer a pessoas. Talvez seja, mas não tenho a intenção de ferir ninguém como se prova pelo facto de não citar nomes ou de adulterar os verdadeiros.

Transcrevo aqui um comentário que publiquei em Agosto de 2004 quando no falecido “Desabafe Connosco” se discutiam filosofias exotéricas e, como de costume não citei ninguém em concreto. Houve quem se ofendesse. Peço-lhes muitas desculpas.


Psicografando Gualdim Pais

Os fados já tinham sido. Fui num pé e vim no outro. No meio, uma pensão de três estrelas. Voltarei um dia…(a Coimbra), se ainda tiver tempo – disse eu.
Votos de boa viagem agradecem-se sempre, mesmo…depois.

Quem é que se lembra dos fogareiros a petróleo? Daquelas cabeças com espalhador e o bico sempre entupido? Aquela azáfama constante de desentupir o bico, porque a chama amarelada, deixava as panelas esmaltadas em mísero estado?
Quem se recorda disso? Talvez o amigo Braga da Cruz, quiçá o Amaral, H.T. ou o Pedro d’Ajuda, creio eu.

Acontece que dois ou três dias depois de ter regressado, esparramando uniformemente uma linda chama azul pelo meu espalhador, logo o bico se entupiu. Com a agulha procuro limpar qualquer sujidade, mas a cada tentativa a chama se convulsiona e amareleja. Sujidades do petróleo, concluo eu.

Tendo perdido o controlo do jacto, decidi que o melhor era deixá-lo fluir ao sabor das impurezas que o alimentam. Seja o que Deus quiser!

Resolvi falar com o Gualdim Pais.
Porquê? O Gualdim sempre fez parte do meu imaginário, pois o Castelo do Almourol fazia parte da paisagem em frente da janela do meu quarto de criança.
Sabendo agora que podemos falar com os espíritos dos nossos antepassados, resolvi experimentar as minhas capacidades de médium e procurar esclarecer algumas dúvidas, quanto mais não seja para alijar o meu alforge de pendentes.

Por sorte, atendeu-me logo à primeira tentativa, e passo a psicografar as respostas às perguntas formuladas.

- É o Sr. Gualdim Pais em pessoa?

- Em pessoa não, em espírito. Informo que teve uma sorte danada em encontrar-me, pois só há dois dias me libertei duma missão no Iraque. Tenho já variadíssimas ofertas para ocupar outro corpo, mas ainda não me decidi.

- Sabendo que os espíritos só se lembram das suas experiências de vida (digamos assim) quando se libertam do corpo que ocupam, poderá ajudar-me a clarificar algumas dúvidas?

- Pode disparar, “à volonté”.

- Fala francês?

- Mas que raio de jornalista é você que não sabe que os Templários são pessoas viajadas?

- Desculpe, é o nervoso pela minha primeira entrevista nestas circunstâncias.
Mestre Gualdim, sabemos que reconstruiu o Castelo do Almourol em mil, cento e tal, mas poderá informar-nos de quem o construiu.

- Precisamente em 1171, então não está lá escrito? Agora quem o construiu ainda não sei. Reina por aqui uma grande confusão e ainda não tenho dados concretos. À época eu habitava o corpo de um chefe aborígene, e com as dificuldades de comunicação ninguém sabia o que se passava em Portugal. Olhe cá, com os meios que hoje existem quem é que sabe onde é Portugal?

- Pois tem, mais uma vez, razão. Diga-me agora:
Porque motivo, o mestre rejeitou o nome de Nabância e deu ao local o nome de Tarmaná?

- Isso é mentira! O que eu fiz foi outra fortaleza do outro lado do Nabão a que dei o nome de Tarmaná. Queria o quê? Que lhe chamasse Nabância II, como o Rococop 1, 2 e 3?

- Sabe que Tarmaná deu em Tomar, não sabe?

- E que culpa tenho eu disso?

- O que lhe queria perguntar era se, com um conhecimento que abrange séculos e num posto de observação tão privilegiado como o seu, considera que a animosidade existente entre cristãos e islamistas quando o Emir de Marrocos arrasou a cidade tem algo a ver com a animosidade que ainda hoje os divide.

- Bolas, até que enfim, me faz uma pergunta inteligente. Tenho um tratado prontinho sobre esse assunto. Estou aguardando que seja concebido um cronista. Logo que o ocupe, tratarei que seja dado à estampa.

- Agora não estou a entender, mestre. Quando ocupais um novo corpo não esqueceis todas as vossas experiências anteriores? É o que se diz por aqui.

- É o esqueces! Ouve cá, não sentes de vez em quando que estás a viver um momento pelo qual já passaste? Somos nós a tocar a campainha.

- Sim…realmente. Não será uma coincidência?
Bem, a ligação está a falhar, porque o meu neto acendeu repentinamente a luz. Voltarei a tentar a ligação. Tanta pergunta que fica por fazer…

- Fico aguardando. Câmbio.