quinta-feira, 3 de junho de 2010

Medalhas de cortiça

Durante um certo tempo e perante o constante matraquear das desgraças portuguesas feitas por portugueses, que vivem em países mais desenvolvidos, me interroguei da razão dessa atitude. Será que queriam semear inveja nas nossas mentes? Será que pretendiam justificar perante si próprios a justeza da sua “aventura” procurando refazer as suas vidas longe da pátria? Seria pirraça, tipo infantil, do género: “eu tenho um berlinde mais bonito que o teu”? Será só para chamar a atenção?
Que sentido haverá em vasculhar o jornal “O Crime” ou os títulos do Correio da Manhã e transcrever aqui as desgraças do nosso quotidiano. O pai que violou a filha, o aluno que deu um estalo na professora, o banco que foi assaltado, o neto que bateu na avó?
Algumas vezes sem acrescentar comentários, mas na maioria das vezes acrescentando algumas notas do tipo: “toma lá que é para assares”.

Talvez não exista apenas uma razão. Deve haver um conjunto de razões difíceis de decifrar.

Durante algum tempo, interpretando o facto como uma provocação, sentimos o desejo de vasculhar os Correios da Manhã da outra banda para lhes mostrar que nem tudo são rosas lá onde moram.
Nessa altura passamos a ser anti-americanos. Depois de chancelados não há hipótese de comentar o mais pequeno acontecimento negativo passado naquele continente que não sejamos acusados, para além do nosso anti-americanismo, de pertencer a partidos políticos fascista e nazistas.

Durante algum tempo, na parte que me diz respeito, deixei de tentar “vingar-me” desencantando desaires como moeda de troca.
O ambiente melhorou um pouco… não muito.

Há poucos dias voltou a criticar-se neste espaço a indisciplina nas nossas escolas como se fosse a apoteose do infortúnio, quando ainda estamos algo longe dos vários massacre que ao longo dos anos têm acontecido nos EUA e não só. Lá chegaremos, porque segundo parece devemos copiar tudo o que ali acontece.
Até o índice de desemprego em Portugal merece comentários desagradáveis quando ultrapassámos a barreira dos 11%, como se lá, donde vem a crítica não houvesse desemprego.
Em Outubro de 2009 o desemprego nos EUA era de10,2% e em Março de 2010 recuperou um pouco, situando-se em 9,7%.
Será esta diferença suficiente para atribuir medalhas de ouro a uns e de cortiça a outros?
A.M.

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