segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Eu, tu, ele e NOS

   Neste preciso momento, estou a sentir-me ludibriado. Chega-me esta publicidade, que não sendo enganosa para os novos assinantes, me relega para um plano inferior, deixando-me a pagar mais pelos mesmos serviços, a mim, que, no que diz respeito a fidelizações, peço meças. 

   A minha intenção imediata é dar-lhes com os pés, as pantufas ou os cascos, mas como sei que a concorrência procede de igual modo (vale tudo menos tirar olhos/ cada um ao seu e todos ao mesmo) fico-me... fico-me, meio aparvalhado sem saber o que fazer.
   Fujo para uma ilha deserta? Se tivesse um "Sexta-feira" para todo o serviço, era canja, até ia a nado. Por isso resta-me ir dar uma volta ao quarteirão, respirar fundo, pontapear a garrafa de plástico no meio do passeio ou mesmo soltar um profundo uivo canino para desintoxicar o "plexus".
À noite, durante o sono, o problema será estudado e ao acordar terei na mesinha de cabeceira o plano para enfrentar a situação.
   Por agora, fico-me.

sábado, 25 de agosto de 2018

“A minha alma está parva”


   Juro pela minha honra que a primeira vez que ouvi a expressão “a minha alma está parva”, foi da boca da minha mãe, lá para os anos quarenta do século passado. Por isso não venha a Clara Ferreira Alves acusar-me de plagiar o título do seu livro porque é falso e mesmo que fosse verdadeiro, não tinha moral para me criticar. Como é evidente também não creio que tenha sido a minha mãe a autora; por certo era dito popular, que indicia enorme surpresa por qualquer acontecimento.
    O meu “amigo” das linguísticas, Orlando Neves, também não inclui no seu “Dicionário de Expressões correntes” qualquer alusão a esta frase.
    Deste modo vos digo que a minha alma está parva por saber que já circula pela net uma petição pública para se investigar uma coisa que já foi investigada e propagada nos media por um processo que se chama jornalismo de investigação. Mas afinal temos que fazer uma petição pública para obrigar o ministério público a fazer o trabalho que lhe compete.
    Deve andar por aí uma pandemia qualquer que baralha os neurónios aos seres pensantes. A pandemia "peticionária". Parem por favor.
    Eu assisti ao programa da TVI sobre a investigação da jornalista Ana Leal. Quando confrontados com as acusações que são feitas aos três principais autarcas de Pedrógão, o presidente Valdemar Alves, à vice-presidente Maria Margarida Lopes Guedes e ao vereador Nelson Fernandes, denunciam um comportamento deveras comprometedor. O ar absorto do presidente, o sorriso malévolo/trocista da vice-presidente e o silêncio do vereador perante os factos que lhes são imputados, meus amigos… são comprometedores.
    Mas, o que mais me entristece e indigna são os contornos destes atentados.
    O presidente Valdemar Fernandes foi inspetor da PJ e ali trabalhou com Moita Flores de quem era amigo. De tal modo que Moita Flores o levou como assessor quando se tornou presidente da câmara de Santarém. Valdemar Fernandes foi o candidato do PS nas últimas eleições mas já tinha feito um mandato anterior como candidato do PSD. É primo do Tomás Correia presidente da Associação Montepio que considera como um irmão, o qual esteve envolvido no velho problema das Colinas do Vale Meão em Coimbra. O caso já foi encerrado; era tudo legal, de moral e éticas irrepreensíveis.
    Mais um caso como tantos outros que em catadupa vão acontecendo no nosso país. Depois não há culpados. Os processos prolongam-se através de recursos e mais recursos, que acabam por alimentar a existência de tantos escritórios de advogados (só a Itália tem mais advogados per capita do que Portugal) com dinheiro que foi sonegado ao erário público pelos arguidos. Na Itália até se justifica por causa da máfia. Mas por cá? Onde andam eles?

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

A direita com o rabo de fora
    Afinal o ataque a Ricardo Robles era só por uma questão de incoerência. E era.
    O nosso Presidente acaba por vetar a lei que dava prioridade aos inquilinos na compra de casa.
Estivesse esta lei já em vigor, creio que Robles não se teria metido nesta negociata e metendo-se, corria o risco de ser preso. Não sendo aprovada permite aos críticos praticarem especulação sobre a venda de imóveis, com a enorme vantagem de, além da legalidade garantida, ser de absoluta coerência. É fartar vilanagem!
    Sou deputado e faço uma proposta para circular a 100Km nas auto estradas. Chumbaram-na.
Devo eu, por coerência, circular à velocidade que propus para não ser multado.
   Ou, por exemplo, proponho que se baixem os salários dos deputados e toca de ser chumbada logo à nascença ou mais tarde vetada pelo nosso presidente. Devo eu por coerência receber menos do que os outros deputados?
   Ora tomem! Segue manguito!
   PS – Já o meu avô citava um dito popular: “A moral é uma folha de couve e veio um burro e comeu-a.”
   Adormeci depois do almoço, enquanto esperava sentado, que deixassem de falar dos incêndios. Ainda comecei a contar o número de velhinhos entrevistados por este país fora, sobre esta onde de calor que ameaça bater todos os recordes. As televisões estão delirantes! Neste momento já existe uma competição para ver qual o distrito que ganha o título da temperatura mais elevada.
   Claro que não me alarmei porque a maioria dos velhinhos dizia que já estava habituada. As televisões, era notório, ficavam embaraçadas, o que elas queriam era filmar as velhinhas a arder… ena pá isso é que era um furo do caraças, para a estação e para o repórter.
   Acho que já estava acordado quando a locutora anunciou que, algures, estava a arder um eucaliptal, mas não tenho a certeza. Se calhar sonhei com o fruto dos eucaliptos que como sabemos é uma cápsula com válvulas, muito rija e irregular. Depois imaginei, ou sonhei que um colchão cheio com as cápsulas do eucalipto serviria muito bem para substituir a cama de pregos que os faquires usam para exercitar a sua resistência. Pim! Apagou-se!
   Só não revelo o nome da pessoa a quem ofereceria o colchão.

sexta-feira, 13 de julho de 2018



A vigarice
                                                                                                              A mentira roda meio mundo
                                                                                                            antes da verdade ter tido tempo
                                                                                                                     de colocar as calças
                                                                                                                     (Winston Churchill)

 Antes de tudo o que possam dizer, quero confessar que o meu habitat é no meio dos eletrões e por isso, se me meto em comentários do tipo deste que agora inicio, só estão autorizados a dizer: Porque te metes tu, sapateiro a tocar rabecão?
Vigarice deriva de vigário que por sua vez decorre do latim vicariu. Em português vigário é aquele que substitui outro, mas no Brasil além de ser o pároco em muitas freguesias também é espertalhão, finório.
O facto de haver duas origens diferentes para legitimar a origem do termo “conto do vigário” deixam-me embaraçado sem poder concluir quem é que contribuiu de modo definitivo para se chegar à vigarice. No Brasil contam a disputa dos vigários de duas paróquias, Pilar e Conceição, por uma imagem de Nossa Senhora. Um dos vigários teria proposto que a santa fosse amarrada a um burro que seria solto entre as duas igrejas e a paróquia para onde o burro se dirigisse ficaria com a santa. Só muito mais tarde se descobriu que o burro era do vigário dessa igreja.
Por cá, nesta terra que nunca mais ganha juízo, e como não pode emigrar continua à beira mar plantada, a história é outra. Quem a conta é nem mais nem menos o nosso estimado Fernando Pessoa, amigo de Abel Pereira da Fonseca, que talvez sem saber contribuiu para os extraordinários devaneios poéticos de Pessoa. Um lavrador ribatejano, Manuel Peres Vigário é abordado por um fabricante de notas falsas…
O livrinho custa à roda de 5 euros. Se quiseram eu conto a história. Basta pedirem.
O que interessa ao caso é que Vigário deu em Vigarice, ficando nós sem saber a verdadeira origem.
Vigarice, pois!
Passaram já muitos anos sobre a data de qualquer das origens descritas para a ligação “vigário/vigarista” mas uma coisa é certa, a evolução tecnológica, a democracia que determina que é proibido proibir seja o que for, mesmo que seja para dar cabo da humanidade, o espírito globalizante que foi desencadeado como se fosse uma solução para as desigualdades, também deram origem à transfiguração da vigarice.
Hoje com as novas roupagens, que novas tecnologias favorecem, a vigarice surge tão camuflada que só a invenção de um “vigariçómetro” nos pode ajudar se por acaso o inventor não for um vigarista ao serviço do grémio respetivo. Muita atenção, pois todo o cuidado é pouco. Lembrem-se de uma coisa importante, hoje já não há contos…há euros.  
A vigarice está no anúncio de uma pomada, duma frigideira, duma casa, dum medicamento, dum mero pedido de ajuda, nas letras muito pequeninas dos contratos de eletricidade, de telefone ou televisão, do pedinte que se faz de pobre, do são que se faz de doente, do rico que declara rendimento mínimo, do político que faz promessas que sabe que não vai cumprir.
Pelo caminho que isto leva, proponho uma nova disciplina escolar: aprendizagem de técnicas defensivas contra os vigaristas.

terça-feira, 10 de julho de 2018

Janeiro/2005
"Penduro aqui, para que não se perca.

A Batalha de Aljezur
Existem muitas pessoas que passados tantos anos ainda enaltecem Salazar por ter evitado que participássemos na segunda grande guerra mundial quando em setembro de 1939, anunciou a nossa neutralidade. O que não se entende é por que razão, essas mesmas pessoas, defendem hoje com tanta sanha a nossa participação ao lado da coligação na guerra contra o Iraque.
Se agora devemos entrar na guerra contra o terrorismo, não devíamos ter entrado na guerra contra o nazismo?
Quando Franco e Hitler se encontraram em Hendaia em 1940 e acordaram sobre o apoio espanhol, logo que existissem condições logísticas para um ataque a Gibraltar ou um embarque aliado em Portugal, Salazar entendeu declarar-se neutro para passarmos ao lado do conflito. E passou.
E a neutralidade? Existiu ela?
Nas andanças que faço pelo país durante as férias ganhei o hábito de visitar os centros culturais e as bibliotecas que um pouco por todo o lado as autarquias tiveram o bom senso de instalar e desenvolver. Para quem, como eu, recorda as poucas e mal apetrechadas bibliotecas itinerantes da Gulbenkian, que nos anos 50 do século passado andavam de terra em terra pelo país, contribuindo para, apesar de devidamente filtradas pela censura, quebrar um pouco o isolamento de que quem vivia no interior, não pode deixar de reconhecer que neste aspeto algo mudou para melhor.
Porque muitas autarquias incentivam e ajudam os “filhos da terra”  a publicar obras sobre temas que digam respeito à região, tive a oportunidade de adquirir um livro que se chama “A Batalha de Aljezur”.
O autor, José Augusto Rodrigues, fez uma longa e cuidadosa investigação para executar este trabalho, do qual apenas quero referir o seguinte:
Ali, é relatado um episódio da Segunda Grande Guerra que se passou ao largo da costa entre Sines e S. Vicente. Um comboio marítimo aliado, de 25 barcos, que se deslocava para o norte de África, foi atacado por quatro bombardeiros Condor, oriundos da base Bordéus- Mérignac no sul da França (já ocupada). Dois caças Spitfires que escoltavam o referido comboio perseguiram os bombardeiros, conseguiram abater um deles, que incendiando-se, veio a despenhar-se na falésia junto à Ponte da Atalaia.
O que agora convém sublinhar é o seguinte:
Os comboios referidos eram perfeitamente visíveis de terra quando dobravam o Cabo de S. Vicente. O chefe do farol, Francisco Faria Regêncio, 1º sargento condutor de máquinas, comunicava através de radioemissor para a legação germânica em Lisboa, que por sua vez alertava para a base alemã no sul de França. Em pouco mais de uma hora os bombardeiros alemães apareciam sobre a presa.
Os corpos dos aviadores alemães mortos no acidente foram retirados pela guarda-fiscal e na noite de 11 para 12 tiveram direito a velório com guarda de honra da Legião Portuguesa. No funeral estiveram presentes individualidades portuguesas e alemãs, o exército português fez-se representar por dois pelotões do aquartelamento de Lagos, que executaram as salvas em honra dos falecidos. Durante o cortejo fúnebre as urnas foram levadas aos ombros por membros da célula local da Legião Portuguesa.
Inúmeras fotografias da cerimónia mostram os participantes fazendo a famosa e caraterística saudação
Mais tarde, com a devida autorização do Ministério do Interior, as autoridade alemãs distribuíram medalhas e condecorações (Cruz de Mérito da Águia Alemã, destinada a condecorar quem se tivesse distinguido em defesa da  Alemanha) a alguns elementos da Legião Portuguesa.
Entretanto Salazar, dormia a sesta e não tinha dado por nada.
Neutralidade?
PUFF!