terça-feira, 10 de julho de 2018

Janeiro/2005
"Penduro aqui, para que não se perca.

A Batalha de Aljezur
Existem muitas pessoas que passados tantos anos ainda enaltecem Salazar por ter evitado que participássemos na segunda grande guerra mundial quando em setembro de 1939, anunciou a nossa neutralidade. O que não se entende é por que razão, essas mesmas pessoas, defendem hoje com tanta sanha a nossa participação ao lado da coligação na guerra contra o Iraque.
Se agora devemos entrar na guerra contra o terrorismo, não devíamos ter entrado na guerra contra o nazismo?
Quando Franco e Hitler se encontraram em Hendaia em 1940 e acordaram sobre o apoio espanhol, logo que existissem condições logísticas para um ataque a Gibraltar ou um embarque aliado em Portugal, Salazar entendeu declarar-se neutro para passarmos ao lado do conflito. E passou.
E a neutralidade? Existiu ela?
Nas andanças que faço pelo país durante as férias ganhei o hábito de visitar os centros culturais e as bibliotecas que um pouco por todo o lado as autarquias tiveram o bom senso de instalar e desenvolver. Para quem, como eu, recorda as poucas e mal apetrechadas bibliotecas itinerantes da Gulbenkian, que nos anos 50 do século passado andavam de terra em terra pelo país, contribuindo para, apesar de devidamente filtradas pela censura, quebrar um pouco o isolamento de que quem vivia no interior, não pode deixar de reconhecer que neste aspeto algo mudou para melhor.
Porque muitas autarquias incentivam e ajudam os “filhos da terra”  a publicar obras sobre temas que digam respeito à região, tive a oportunidade de adquirir um livro que se chama “A Batalha de Aljezur”.
O autor, José Augusto Rodrigues, fez uma longa e cuidadosa investigação para executar este trabalho, do qual apenas quero referir o seguinte:
Ali, é relatado um episódio da Segunda Grande Guerra que se passou ao largo da costa entre Sines e S. Vicente. Um comboio marítimo aliado, de 25 barcos, que se deslocava para o norte de África, foi atacado por quatro bombardeiros Condor, oriundos da base Bordéus- Mérignac no sul da França (já ocupada). Dois caças Spitfires que escoltavam o referido comboio perseguiram os bombardeiros, conseguiram abater um deles, que incendiando-se, veio a despenhar-se na falésia junto à Ponte da Atalaia.
O que agora convém sublinhar é o seguinte:
Os comboios referidos eram perfeitamente visíveis de terra quando dobravam o Cabo de S. Vicente. O chefe do farol, Francisco Faria Regêncio, 1º sargento condutor de máquinas, comunicava através de radioemissor para a legação germânica em Lisboa, que por sua vez alertava para a base alemã no sul de França. Em pouco mais de uma hora os bombardeiros alemães apareciam sobre a presa.
Os corpos dos aviadores alemães mortos no acidente foram retirados pela guarda-fiscal e na noite de 11 para 12 tiveram direito a velório com guarda de honra da Legião Portuguesa. No funeral estiveram presentes individualidades portuguesas e alemãs, o exército português fez-se representar por dois pelotões do aquartelamento de Lagos, que executaram as salvas em honra dos falecidos. Durante o cortejo fúnebre as urnas foram levadas aos ombros por membros da célula local da Legião Portuguesa.
Inúmeras fotografias da cerimónia mostram os participantes fazendo a famosa e caraterística saudação
Mais tarde, com a devida autorização do Ministério do Interior, as autoridade alemãs distribuíram medalhas e condecorações (Cruz de Mérito da Águia Alemã, destinada a condecorar quem se tivesse distinguido em defesa da  Alemanha) a alguns elementos da Legião Portuguesa.
Entretanto Salazar, dormia a sesta e não tinha dado por nada.
Neutralidade?
PUFF!


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