sábado, 13 de março de 2010

Sobre "O triunfo da corrupção"

Já tenho ouvido dizer que no dia em que não arranjar nada para dizer mal, irá dizê-lo de si próprio. Claro que é um exagero que até tem um aspecto muito positivo – varre com o seu humor verrinoso todo o espectro político.
Nem sempre concordo com os seus artigos de opinião.
A maior parte das vezes porque de tanto puxar e repuxar os factos, para se adaptarem ao seu juízo final, acaba por falseá-los. Outras ainda porque tenho a minha própria opinião sobre o tema focado.

Todavia, estou absolutamente sintonizado com a coluna “O triunfo da corrupção” publicado no passado dia 12 de Março, no “Público” da autoria de Vasco Pulido Valente.
Ele parte do estudo do sociólogo Luís de Sousa, onde se diz que 63% dos portugueses toleram a corrupção desde que ela beneficie a generalidade da população, para concluir que isto não é um sentimento transitório, mas que já faz parte da nossa cultura.
Coloca uma série de questões que concorrem para esse arreigado sentimento, de que cito como exemplo esta:
“Quem pode considerar um ponto de honra pagar impostos, quando a fraude e a injustiça fiscal são socialmente sinais de privilégio e esperteza?”
Ou ainda:
“Quem vai pedir um recibo ao canalizador ou ao electricista, ou a factura no restaurante, quando sabe o que o Estado gasta sem utilidade e sem sentido?”

Conclui, por fim, que não é nenhuma admiração, perante tais incongruências que o “povo dos pequenos”, conspire contra a lei, falte ao trabalho, trabalhe mal, que meta cunhas para conseguir isto ou aquilo, que deite lixo para o chão, que conduza como se a estrada fosse propriedade sua e, por fim, que se mostre totalmente indiferente a política e ao país.

Quando há cerca de 14 anos me reformei foi-me feito um convite para dar aulas numa determinada escola técnica. Ofereciam-me 7500 escudos há hora e ao ouvido segredaram-me: “sem recibo verde”.
Automaticamente, porque ainda não tinha lido o artigo do Vasco Pulido Valente, respondi:
- Aceito 5000 com recibo.
O “angariador” olhou para mim, com um riso amarelo e virou costas.
Então fiquei livre para me dedicar às minhas “bricolages”.

Afinal, fui honesto ou fui palerma?
Se os honestos são minoria, vou fugir para uma ilha deserta, antes que me internem numa casa de saúde para doentes mentais.

Obrigado Vasco!
Um abraço,
A.M.

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