domingo, 30 de dezembro de 2012

A filha da mula do pai do Moreira


“Com o mal dos outros posso eu bem”

Existem ditados populares para todas as situações do nosso quotidiano, inclusivamente alguns deles contrariam-se quanto ao fundo moral que encerram.
No caso em apreço temos um aforismo popular que parece ter contribuído para o egocentrismo reinante, o que indicia a propensão portuguesa para o “lá diz o ditado”.
Passos Coelho por exemplo, a acreditar nas Boas Festas que nos enviou, não pode com o mal dos seus concidadãos, sente-se muito infeliz e vai fazer uma passagem de ano muito recatada. Não vai, contudo, deixar de comer as 12 passas da meia-noite enquanto em muitos lares portugueses se vai passar larica.  

Se é verdade que o peso do mal alheio é mais leve do que se fosse meu, não devia deixar de, algebricamente somados um e o outro, tenderem para o equilíbrio, dado que o mal era menor e o bem não seria tão bom.

Lembrei-me disto por causa da Mula que tive que escorraçar para não me infernizar o juízo. Fiquei muito mais aliviado quando constatei alguns percursos da mula na sua insana tarefa de sujar todos os lugares por onde passa.
A propósito de uma entrevista em que Urbano Tavares Rodrigues confessa que foi preterido diversas vezes por ser comunista, comenta a mula:
"Alguém lhe explica que com 86 anos e um filho de 4, há algo que não bate certo… tem pai que é cego”.

Sobre uma notícia com o título “Dubai acusa Mossad de matar membro do Hamas”:
“Excelente trabalho, façam favor de continuar”
Do artigo “Duas explosões no metro de Moscovo provocam mais de 30mortos”:
“Deve ser obra do lenin, desculpem, do putin”

 Uma outra em que se informa que o chefe das Farc morre num bombardeamento, relincha a mula:
“ O PCP vai já fazer uma homenagem a título póstumo”.

 Sobre “EUA: Reforma de saúde terá de ser votada de novo” vocifera a mula:
“… e não andam os médicos americanos a fazer como os seus congéneres cubanos que roubam a comida, etc., aos seus doentes e depois deixam-nos morrer de fome e frio às dezenas.”

 São apenas alguns aspetos da orientação política do chip que lhe enfiaram na cabeça e que o emissor colocado no cabresto divulga por tudo que é sítio.

Omito as obscenidades usadas para com outros comentadores das mesmas notícias.

Depois disto não posso deixar de sentir algum conforto. Afinal não é só comigo que a mula implica. Tenho companheiros de infortúnio.

 Ver:
http://www.jn.pt/search/SearchResults.aspx?u=6369&o=DateDescending&PageIndex=5

sábado, 29 de dezembro de 2012

A Mula do Pai do Moreira


      O pai do Moreira tinha uma mula. Quando o Moreira adormecia e via que não tinha tempo de chegar antes do toque da cabra para o início das aulas, ia de mula. Amarrava-a a um poste de eletricidade junto ao muro do colégio. No intervalo das aulas enfiava-lhe um saco com favas no focinho para lhe encher o depósito.
       Quando havia um furo entre as aulas o Moreira, à vez, deixava-nos cavalgar o equídeo. Era uma festança!
       Quando ia a trote não havia problema, portava-se muito bem, mas quando a galope tinha uma querença que nunca conseguimos contrariar.
       Assim que via uma rua á direita não hesitava, guinava imediatamente para a tomar e o cavaleiro não conseguindo dominá-la com as rédeas, era projetado do selim.
        Só obedecia ao Moreira, o que me leva a crer que a mula, matreira, só queria ser montada por ele.
        Há sempre uma razão para evocar episódios do passado como me aconteceu hoje.
        Tenho um armazém com a tabuleta por cima da porta “Durindana”. Era para ser um espaço concorrido mas pouco tempo depois decidi usá-lo apenas para recriar os desabafos que coloco noutros espaços, pelo que não procuro mantê-lo limpo e arrumado.
        Todavia tinha a porta aberta, como na Ilha das Flores, onde nem de noite se fechava a porta e quem passava abria-a para ver as horas no relógio da sala… nos anos 40, como é de calcular.   
        Por essa razão uma mula mal parida passou a entrar-me pela porta do armazém onde aparece para defecar quando a diarreia mental fica incontrolável deixando-me o chão do armazém numa autêntica vergonha. Já pensei se não seria uma mula-sem-cabeça, duende em forma de besta e com três pés que anda por aí a vaguear, qual alma penada sem eira nem beira.
        Tem todavia um nome! Não um nome próprio. Nem sequer o sobrenome. Identifica-se por “averdadedoi” pelo que não é difícil calcular onde lhe doi já que vive com um mu muito bem dotado.
      Acabei!

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

... e o passado vem à tona...

Quando andava na escola primária não havia televisão. O cinema era ambulante e o sonoro era feito pelo homem que dava à manivela da máquina e ora fazia voar o cavalo de Roy Roger, ora o fazia andar em marcha lenta. Quando aparecia à entrada dum desfiladeiro o “maquinista” gritava: lá vem ele! Por vezes passavam simultaneamente o mesmo filme em duas terras próximas, donde resultava que numa delas se via a segunda parte antes da primeira. No intervalo havia alguém que ia de bicicleta trocar as bobines.
A leitura era o que nos restava para passar o tempo e a carripana da Gulbenquian só passava uma vez por mês. Havia a coleção Manecas onde tomámos conhecimento com “A Gata Borralheira”, “A Branca de Neve”, “O Pinóquio”, “O Príncipe com orelhas de burro” e “O aprendiz de feiticeiro”.
Um dia, pelo Natal, quando o burro e a vaca ainda bafejavam o interior da manjedoura, o menino Jesus ofereceu-me um livro que continha duas histórias: “O doente de cisma” e “O médico à força” numa versão para crianças.
Recordo esse tempo com alguma saudade quando por esta ou aquela razão sou solicitado para rememorações. Desta vez, foi a notícia, de que menos 500 mil portugueses foram às urgências no hospitais e cerca 1 milhão às consultas em relação ao mesmo período do ano passado.
Imediatamente “vi, claramente visto” que algumas centenas de milhares de portugueses deixaram de cismar que estão doentes. Um príncipe com orelhas de burro, armado em aprendiz de feiticeiro, que não fala de Gepeto (seu criador) se armou em “médico”, não à força, mas a martelo, curou-os… definitivamente!

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

O fim do mundo... em quecas


A minha avó paterna, Maria de seu nome, contava que em 1910 perante a passagem do cometa Halley se profetizou o fim do mundo.  Muita gente consumiu tudo o que tinha na dispensa, talvez para não se estragar, e à noite veio para a rua esperar o fim do mundo.

O cometa passou, seguiu impávido a sua rota e nem sequer a sua cauda assassina foi avistada a olho nu. Quando o mafarrico do cometa voltou em 1986, embora ainda tivesse preocupado algumas pessoas, passou despercebido.

O fim do mundo volta á ordem do dia, segundo determinação de uma profecia maia. Será no próximo dia 21. Mas se não acontecer nessa altura já está previsto por um geofísico que será no dia 16 de janeiro. A Terra deixará de girar e zás vai tudo pró brejo!

 Só o infinito não tem fim. Tudo o que nele existe tem fim. O “fim do mundo” acontece a milhares de pessoas todos os dias, umas vezes de forma imprevista outras anunciada. Todos os dias desaparecem milhares de estrelas que arrastam milhares de planetas para o seu fim enquanto tais. Em galáxias a anos de luz de distância ainda se podem observar estrelas que já morreram há muito tempo.

A perceção da nossa ínfima importância no meio deste espaço devia contribuir para melhorarmos o nosso comportamento como pessoas. Menos corrupção, menos egoísmo, mais solidariedade… principalmente do nosso governo para o qual não se prevê o “fim do mundo”.

E já não era sem tempo!
 

Recado


Apresentam-se ao público ladeados por colunas com a efígie de Cristo, vão á missa todos os domingos, incluindo a do Natal, e por vezes também vão às vésperas. Usam com muita convicção o “valha-me Deus”, “Deus nos acuda”, “Deus é grande”’ e invocam o Espírito Santo em momentos de aflição. Quando o peso da consciência os incomoda, confessam-se e comungam. Atualmente até podem roer a hóstia, que no meu tempo nem se podia tocar com os dentes.
Todavia o seu comportamento no que respeita a civismo é de uma baixeza ilimitada. Entram em qualquer lado onde a “porta” lhe seja franqueada para vazarem todo o fel que lhes queima as entranhas, provocando e insultando o anfitrião.

Anonimamente, claro, que a cobardia é a sua principal caraterística.
Autênticos escaravelhos enrolados na sua própria caca!

PS – Anonimamente mas com o rabo de fora

domingo, 9 de dezembro de 2012

Há bocas que nunca deviam pronunciar "transparência


Miguel Relvas regressou à ribalta. Andou recolhido durante algum tempo por acreditar que o tempo, que tudo apaga, limparia da memória dos portugueses o caso da sua meteórica licenciatura.
As coisas não se passam assim. Se ele desaparecer, como Sócrates e deixar de aparecer em público, as pessoas deixarão de pensar e de falar do caso, mas regressando às pantalhas, imediatamente as pessoas recordarão o episódio.

Principalmente se vier dar lições de moral, como foi o caso, quando enaltece a transparência das privatizações que este governo está a fazer. Uma transparência muito embaciada como a da sua licenciatura.

Quem deve ter ficado muito aborrecido (eu ficaria) foi Fernando Seara, quando ouviu Miguel Relvas, a fazer propaganda à sua candidatura a Lisboa, enaltecendo a gestão feita na Câmara de Sintra (o que sabe ele que eu não sei?). Facilmente se apercebeu que aquela propaganda, emitida de uma fonte de água muito pouco transparente, iria tirar-lhe muitos votos.    
Agora, só o mediatismo dos seus comentários na TV em defesa do Benfica o pode salvar, mas o impedirá de concorrer à Câmara do Porto para todo o sempre.

sábado, 8 de dezembro de 2012

Nós não somos esquecidos... Sr. Presidente.



Quando alguém erra, inocente ou conscientemente, só pode reconstituir a sua imagem reconhecendo o erro e tentando justificá-lo. Há quem pense, de forma lamentável, que varrendo o lixo para baixo do tapete, a casa fica limpa. Esperar que ninguém tenha reparado, ou reparando, o subvalorize, é um erro crasso que só pode desacreditar o seu autor.
As frases célebres para o mal ou para o bem ficam na história.
“O primeiro dever da inteligência é desconfiar dela mesmo” - Albert Einstein; ou,
“Não há sentido em ser exato quando você nem sabe sobre o que está falando." – John Von Neumann, são pensamentos próprios, universais, repletos de bom senso humanista, e ainda porque não se encontram na primeira pessoa do singular, como por exemplo:
“Eu nunca me engano e raramente tenho dúvidas”, que Cavaco Silva proferiu quando era primeiro-ministro e ficará para a história como uma tirada infeliz a que ficará
amarrado para todo o sempre.
Talvez por isso não reconhece os erros da sua atuação como dirigente governamental quando contemporizou com a destruição da frota pesqueira e de vários sectores da agricultura, por exigência da União Europeia.
Para que os apelos, repetidamente feitos agora, de que temos que nos virar para o campo e para o mar sejam levados a sério, era necessário que Sua Excelência o Presidente da República, reconhecesse que se enganou. Possivelmente não tinha dúvidas e por essa razão errou!
A população, sempre sensível às confissões de arrependimento não deixaria de voltar a acreditar em Sua Excelência.
Assim não!

 

domingo, 2 de dezembro de 2012

"REFUNDIDOS"




Hoje, 1 de Dezembro de 2012, celebrou-se miseravelmente, pela última vez, a restauração do país que em 1640 se libertou do jugo espanhol. Esta coisa do “jugo espanhol”, que nos ensinavam na escola, implantava na criançada uma aversão imediata e inconsciente contra os nossos vizinhos, de que Aljubarrota era o rastilho. A defenestração do traidor Miguel de Vasconcelos, lambido pelos cães na praça do Palácio Real era um analgésico que amenizava o sentimento patriótico da maralha da escola.
Hoje não estremecemos com a invasão das batatas e cebolas espanholas, porque as francesas estão na tulha mesmo ao lado e nas prateleiras em frente estão as bananas “Chiquita”, as laranjas da África do Sul, as nectarinas italianas e até kiwis dos antípodas australianos.
Com a produção nacional espartilhada pelas quotas estabelecidas pela UE e alegremente aceites e assinadas pelos neomiguelvasconcelistas tornámo-nos auto insuficientes e não conseguimos exportar de modo a equilibrar a balança de pagamentos.
Hoje, encaramos de modo indiferente a invasão de funcionários encartados do capital não tão internacional quanto isso, com a misericordiosa missão de nos orientarem na gestão da economia e das finanças.
Apáticos, assistimos ao beija-mão dos nossos governantes perante os governantes estrangeiros que de forma determinada nos emprestam dinheiro para comprarmos os seus próprios produtos e nos cobram juros altíssimos pelo empréstimo.
Daqui a alguns anos o monumento à Restauração será substituído, no mesmo local, pelo monumento à Refundação… felizmente espero não estar cá para assistir a mais esse crime!


sábado, 17 de novembro de 2012

Sumário da situação

 
Ser obrigado, em nome da austeridade a:

Entregar a casa ao banco credor
Tirar o filho da faculdade...
Deixar de comprar o jornal
Controlar obsessivamente o consumo da água e da eletricidade
Arrumar na arrecadação os aquecedores a gás
Pedir ajuda à família para pagar a amortização de um empréstimo
Explicar ao filho porque lhe cortamos o consumo dos refrigerantes
Ver o dinheiro da poupança a esvair-se para acudir a despesas inesperadas
Racionar o pão, o leite e a fruta
Diminuir a mesada do filho,

Só é suportável para quem conhece e valoriza problemas muito mais graves, como:

Perder o emprego
Dormir dentro do carro com os filhos porque foi despejado
Mendigar ajuda aos vizinhos para alimentar os filhos
Não ter dinheiro para pagar os medicamentos na farmácia
Mandar os filhos para a escola sem pequeno-almoço
Mendigar apoio social para o funeral do velho pai
Almoçar na “sopa dos pobres”
Não jantar

Uns e outros, contudo, interrogam-se e revoltam-se por saber que há gente (gente?) que:

Não paga impostos sobre uma parte dos seus proventos
Recebem um avultado subsídio anual de habitação isento de tributação
Deslocam-se em carros de alta gama pagos pelo erário público
Recebem ajudas de custo para se deslocarem para o local em que trabalham (trabalham?)
Têm senhas de refeição
Telemóvel
Cartões de crédito,
Etc…
Desabafo da minha Avó Maria:
- Vão roubar para o pinhal da Azambuja!

sábado, 3 de novembro de 2012

Férias mal repartidas

Ninguém terá dúvidas sobre a enorme capacidade económica e financeira da Alemanha, mas já todos, certamente ouviram dizer que também neste país existem alguns problemas motivados pela crise europeia, principalmente com os países da União.
De economia só percebo (e mal) do deve e haver caseiro, mas estou crente que as dificuldades alemãs derivam especialmente da contração das exportações, o que não é difícil compreender dada a austeridade reinante nos países mais pobres, que durante muitos anos compraram o que não tinham capacidade de pagar, endividando-se. A Alemanha viveu do que vendeu, possivelmente sabendo, que mais cedo ou mais tarde, alguns países não poderiam saldar as suas dívidas. Agora, é com parte do dinheiro ganho durante esse período que emprestam a juros altíssimos o dinheiro para lhes pagarmos a nossa dívida.
Resumindo, a Alemanha tinha um mercado florescente na Europa para colocar os seus produtos, de que viveu durante anos e agora, perdendo mercado é compensada com os juros da dívida do dinheiro que nos empresta.
Dizem que uma imagem vale por mil palavras.
Eu acredito nisso. E vocês?
 
                           Férias para alemães                              Férias para portugueses

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Nem as pensam...


Estava meio distraído pensando que a costeleta do cachaço tinha ficado muito passada, quando a metade atenta sintonizou a voz do Godinho a dizer autênticas barbaridades reveladoras de que devia ler um texto elaborado por alguém que lhe emendasse as calinadas e as incongruências.
Registei esta: “Os árbitros estão a tratar o Sporting como um clube de terceira” (sic).

Isto é uma demonstração muito clara do que pensam os presidentes dos maiores clubes portugueses, com a pequena diferença de que, mais espertos que Godinho, não o dizem em público. Como qualquer pessoa deduzirá, Godinho queixa-se que o Sporting devia ser mais bem tratado pelos árbitros do que, por exemplo, o Olhanense.
Todos os fins-de-semana as análises dos representantes dos clubes mais importantes visam os jogos dos seus adversários mais diretos com clubes da segunda ou terceira categoria, para registarem se foram ou não beneficiados. Sendo-o como acusam não têm uma palava de conforto para os clubes que foram prejudicados. E ninguém faz uma referência ao facto de na maioria das vezes os clubes mais fracos serem realmente prejudicados.

Por isso Godinho acha que o Sporting está a ser tratado como um clube de terceira, o que bem vistas as coisas e segundo os critérios vigentes na apreciação das arbitragens, não estará incorreto. Por acaso não estará o Sporting na metade inferior da tabela classificativa?

50 anos depois!

Fico estarrecido quando me dizem que se os nossos credores exigissem o pagamento de todas as dívidas cada português tinha de adiantar mais de 18 mil euros, ou seja, a dívida total de 190 mil milhões de euros ficaria saldada.
Acusado de tal dívida, fico a pensar onde foi que eu próprio me empenhei para adquirir alguma coisa que não tivesse hipóteses de pagar.
Será porque comprei um PC feito na China a pronto pagamento? Então foi porque a parte do carcanhol que devia ir para os chineses ficou retido em algum recôndito lugar e talvez tenha servido para as férias de algum sortudo no Haiti ou mesmo em Cabo Verde.
Será porque comprei um popó alemão que paguei integralmente? Então foi porque alguém por mim comprou um topo da gama que não conseguiu pagar, ou pagando, o dinheiro foi perdido por algum banco em investimentos de alto risco.
Havia aqui perto um supermercado que fechou as portas, que é o mesmo que dizer que abriu falência, e como sempre acontece nestes casos, o dinheiro escoa-se para todo o lado menos para pagar aos credores, que entretanto também estão endividados e resolvem também abrir falência, já que é fácil e sai mais barato montar outra empresa com outro nome mas que nem por isso deixa de ser irmã gémea da outra.
Em 1953 eu e o meu irmão abandonámos os estudos porque o meu pai deixou de poder suportar os custos da nossa educação. Tinha uma pequena loja na província que deixou de suportar os gastos da manutenção da família. Não querendo abrir falência porque naquele tempo “perdia-se o nome na praça” e nunca mais poderia montar outro negócio, resolveu fazer um acordo com os credores para lhes pagar mensalmente uma determinada quantia.
Para tal, eu com 17 anos, e o meu irmão com 15, fomos trabalhar e dos nossos salários retirávamos uma parte para ajudar a pagar a dívida. Recordo, que quando tinha 26 anos e nasceu a minha filha, ainda contribuía mensalmente com uma parte do meu vencimento para cumprir aquele acordo.
Acordo esse que agora classifico de maldito, porque a falência passou a ser uma metodologia para se iniciar outro negócio, ficando perdidas no tempo as dívidas aos credores e, o que é ainda pior, os salários devidos aos trabalhadores. A noção de honra, nos dias de hoje, não existe e quando evocada dá vontade de rir.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

O reafundanço


Hoje fui ao sapateiro buscar as minhas velhas botas. Por umas solas novas e anti derrapantes, que a chuva está aí, paguei 35 €. Como vamos voltar aos protetores, solas de borracha de pneus velhos, ao tamanco e quiçá à alparcata, o melhor é começar já a treinar para diminuir o impacto quando se chegar ao pé descalço. Quando me levarem as cuecas descriminalizem o ato de andar em pelota na via pública, condenado por ser um atentado ao pudor; seria inadmissível que os gatunos que nos roubam a roupa nos mandassem prender por ofensa à moral pública, que aliás já ninguém sabe muito bem o que significa.
A ideia da refundação (ou será que ele disse reafundação?) é um gato escondido com o rabo de fora pois já toda a gente percebeu que querem alterar a Constituição de forma que ainda nos possam roubar alma. Então aproveitem a altura e alterem também o código civil da forma que vos der mais jeito.

Lembrando-me que um velho amigo me contou que o seu sapateiro oferecia um furo no cinto a quem mandasse colocar meias solas, não resisti à tentação de recomendar ao meu, que fizesse o mesmo. Nesta altura, com a crise a ser refundada, a recorrência a sapateiros e costureiras está a aumentar exponencialmente. O negócio vai de vento em popa e o meu sapateiro acha que fazer furos nos cintos também vai aumentar a receita. E quem sou eu para o contrariar?! As costureiras a apertar saias, camisas e casacos não têm mãos a medir e nalgumas localidades já se espera mais tempo para ter uma peça de roupa ajustada do que para ter consulta no médico de família.

As botas contudo ficaram ótimas, e já fiz um furo no cinto com um prego e um martelo.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Desgostoso desabafo num dia sombrio

Um dia, quando fazia um exame à caixa dos pirolitos, diz-me o neurologista:
- Agora, não pense em nada.
Dois ou três segundos depois já eu replicava:
- Doutor, não consigo deixar de pensar que não devo pensar em nada.
Como todos sabemos por experiência própria a capacidade craniana tal como um alto-forno ou uma central nuclear não se pode desligar, pois logo de seguida entra em coma e pimba, desfalece para todo o sempre.
Os relatos de alguns comatosos, como é o caso do autor do “Dinossaur Excelentíssimo”, provam que mesmo nessa situação ainda pensam que veem umas luzes ao fundo do túnel, mas que estando de olhos fechados, realmente, todas as visões se passam lá dentro da caixa, a que gosto de chamar caixa dos pirolitos porque havia uma fábrica que os fazia lá na minha terra, e a miudagem partia as garrafas para jogar ao berlinde.
Voltando ao assunto. Ver coisas que não estão no plano da nossa visão é coisa vulgar, como é o paradigmático caso de Nossa Senhora de Fátima. Não tenho dúvidas que os pastorinhos viram a sua figura, e foram sinceros no seu relato do episódio. Contudo, os olhos são apenas o sensor da visão, que de nada servirão para quem está em coma ou a dormir. Dizem algumas pessoas que viram em sonhos o Gualdim Pais em pessoa sentado na tore de menagem do Castelo do Almourol. Viram? Na escuridão da alcova e de olhos fechados? Ah! Ah! Ah! três vezes ah! Ver com as persinas do órgão de visão fechadas? Pois!
Bem, já me perdi! O que eu queria realmente dizer é que quando penso em criancinhas, vejo (vejo?) os meus filhos e depois os meus netos e que nunca, em qualquer momento, salivei com o desejo de os comer assados no forno ou em postas de churrasco.
Inspirado no “Vi, claramente visto” camoniano, afirmo que hoje vejo claramente muitas das nossas criancinhas a irem de manhã para a escola sem o seu pequeno-almoço.
Ou estou a sonhar?

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Racionar racional e insistentemente


Racionar racional e insistentemente
Com a minha idade, pelo amor ao meu país e às pedras da calçada da minha terra natal não posso fugir ao meu destino – aguentar, quanto me seja possível, a imposição desta austeridade. Austeridade, que atinge todos, mais uns do que outros, mas que a maioria paga sem ter contribuído para o maldito défice.

Pessoas que nunca foram passar férias para a Tailândia, Cabo Verde, Iracema ou Seichelles, nunca compraram automóveis, e a maior aventura da sua sacrificada existência foi ir comprar chocolates a Badajoz; gastaram no seu país todo o dinheiro que ganharam e guardaram em bancos nacionais o pouco que conseguiram poupar; gente que não se endividou, que não contribuiu para o buraco do crédito mal parado, é agora colocada no mesmo plano de responsabilidade daqueles que gastam à tripa forra na compra de bens de luxo e passam férias todos os anos nas melhores praias paradisíacas do mundo.
Assim, preso ao meu destino, e vendo esgotar-se o pouco que amealhei ao longo da vida, vejo-me obrigado a traçar planos de poupança ao ritmo das medidas que um servidor do capital internacional atabalhoadamente nos impõe.

 A primeira medida foi cortar com o jornal diário. Caramba, só agora descobri que poupo 24 euros por mês. O Fiat está parado na rua e só é usado para ir ao médico e ao hospital. Há cerca de mês e meio que já não lhe meto uma gota. No supermercado só adquiro marcas brancas. Ficando a salivar ao olhar para os bifes do lombo, comprava de vez em quando uns bifitos da vazia, recomendando ao cortador que não tivessem mais de 100 gramas; a semana passada decidimos, eu e a minha cara-metade, passar a comer paleta de porco que é muito saborosa embora leve algum tempo a cozinhar. O cafezinho da praxe é só depois de almoço. Esta poupança foi surpreendente pois concluí que para além da poupança também adormeço melhor à noite… a maior parte das vezes a ver aqueles fastidiosos programas em que uma quantidade de personagens tenta explicar-nos a situação económica do país.
Por causa da crise fiquei também a saber quanto custa mandar meter meias solas nuns sapatos. Quando vi que era compensador fui logo ao sapateiro com dois pares velhos que já tinha pensado meter no sapatão (não há e não vai haver tão depressa) e… ora faça o favor de lhes colocar meias solas, de preferência anti derrapantes, não vá eu partir uma perna e gastar mais dinheiro na cura do que nas meias solas – disse eu. Conversa puxa conversa com o sapateiro, fiquei sabendo que há duas profissões que ameaçadas de extinção estão hoje em franca ascensão – sapateiros e costureiras. A roupa que está larga ou apertada, o calçado que está gasto ou cambado, já não é substituído. Vai para o conserto. Quando vinha a caminho de casa, a pé, pensava que talvez os amola-tesouras, os ferreiros, os carvoeiros, os latoeiros, as bordadeiras, as cerzidoras, os limpa-chaminés, os relojoeiros, eu sei lá, todas as profissões que o desenfreado mercado de consumo tende a exctinguir, poderiam reflorescer, insuflando-nos uma nova mentalidade menos consumista e mais humanista.

Ocorreu-me esta lengalenga ao estudar as faturas da eletricidade. Tarefa difícil dada a complexidade de números, taxas, potências, preços de vazio e não vazio, impostos especiais, tarifas reguladas, enfim, coisa certamente construída com a finalidade de pagarmos a conta, essa sim, claramente visível, com numeração de tipo maior e a “bold”. Ao fim de três horas de estudo atento consegui decifrar a “roseta”! Fiz então um mapa com as médias de consumo diário em vazio e não vazio. Se calhar muita gente não sabe que no sistema bi-horário o preço do kilowatt é de 0,0778 euros das 22H00 às 8H00 e de 0,1448 euros durante o resto do dia.
Todo este trabalho se devia á extinção das tarifas reguladas que me irá permitir escolher o comercializador que ofereça melhor preço.

 Não vou dizer mais nada. Se ainda não foram ao site www.erse.pt vão, façam a simulação dos vossos consumos médios e depois comparem o que oferecem os fornecedores já existentes.
Acordos explícitos ou implícitos concorrentes para fixação de preços ou cotas de produção, divisão de clientes e de mercados de atuação ou por meio da ação coordenada entre participantes, eliminar a concorrência e aumentar os preços dos produtos obtendo maiores lucros, em prejuízo do bem-estar do consumidor, são cartéis.

Como o cartel é proibido por lei é evidente que ninguém vai infringir a lei pois as coimas costumam ser muito pesadas. Mas lá que parece que pelo menos se reúnem no Gambrino e enquanto bebem Barca Velha, conversam das suas agitadas vidas.

Como não cabem todos ao mesmo tempo o pessoal dos medicamentos vai às segundas, o das gasolinas vai às quartas e agora os eletricistas vão à sexta.
Só há uma maneira de reduzir os custos elétricos: viver como as toupeiras ou como as salamandras.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Medidas à Lagarde


 
Retirando do baralho o Cristiano, o Tiger Woods, o Federer, o Mourinho, o Michael Jordan  e muitos outros artistas pagos na razão direta das receitas geradas pelos espetáculos em que interferem, temos os outros que são pagos pelas organizações capitalistas para sacar o dinheiro gerado por quem realmente produz riqueza.

Gente paga principescamente com a finalidade de gerir e direcionar as finanças internacionais de modo a manter “os escravos” mais ou menos alimentados, saudáveis e conformados enquanto direcionam as mais-valias para os seus fundos pessoais.

Sendo verdade que o senhor Nogueira Leite, recebe anualmente 189.000 euros da CGD onde é vogal, mais 35.000 da EDP e 64.000 da Brisa, perfazendo aproximadamente a quantia 280 mil euros, ainda fica aquém dos 380 mil pagos a Christine Lagarde (323 mil mais 58 mil para as despesas).

Fiquei a saber há relativamente pouco tempo que esta senhora como pivot importante do circuito financeiro mundial, na qualidade de funcionária internacional beneficia de um estatuto fiscal específico que a isenta de impostos.

No patamar nacional, Nogueira Leite, sente-se ludibriado e já ameaçou que se em 2013 lhe tirarem metade do que ganha em impostos, pisga-se para outro lado. Estará a pensar num emprego internacional com isenção de impostos? Ou estará a pensar em viver no Dubai vivendo dos rendimentos acumulados?

Pensando num trabalhador que ganha 500 euros por mês, bastar-lhe-ia trabalhar 1 ano com o ordenado de Nogueira Leite para viver 40 anos sem trabalhar a viver com os 500 euros mensais. É só fazer a conta, como diria o “picareta” falante.

Eis que desce a Moral à Terra para pedir satisfações a Lagarde por ter acusado os gregos de não pagarem os seus impostos e de caminho ajusta também contas com Nogueira por ter andado nos media durante meses defendendo o corte de salários e o aumento de impostos e agora ameaçar fugir para a estranja.

Pois que vá! E vá arranjando instalações condignas para os oficiais de bordo e respetivo comandante, que não tardarão a seguir-lhe o exemplo.

Dizia a minha avó, que era Ribatejana, quando ia à praça e achava o carapau muito caro: “Vão mas é roubar para o Pinhal da Azambuja”

Creio que na Extremadura dirão: Vão mas é roubar para o Pinhal de Leiria.

Nesse tempo os assaltos eram praticados nos caminhos desertos e sombrios, mas a evolução das técnicas e dos costumes refinou os processos e hoje somos atacados por decretos mesmo quando estamos a dormir ou na casa de banho a fazer a barba.

A esferográfica é a arma dos legisladores.

A mesma arma, na minha mão, só serve para assinar o cheque que paga os impostos.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

A Troika e a Chiquinha


“Preso à Chiquinha por uma promessa antiga de casamento, mal me lembrava do compromisso” é a frase de Valdemiro Silveira em “Caboclos” usada por Morais para definir o significado de compromisso. Como sinónimo, o mesmo dicionário, indica: comprometimento.
Valdemiro Silveira, escritor brasileiro, nasceu em 1873 e 1941, período em que o compromisso que se fazia a uma garota para lhe conquistar favores, era de levá-la ao altar. Nessa época, a palavra dada era sagrada e não raras vezes por impossibilidade de cumprimento dava-se um tiro nos miolos. Na cadeia de valores a honra estava num patamar superior de braço dado com a honestidade.

Hoje a honra está fechada numa arrecadação da cave. Já ninguém sabe muito bem o que significa e usam-na a torto-e-a-direito, sem sentido e com muito pouca vergonha.

"Eu pertenço a uma raça de homens que honra os compromissos do País", afirmou esta sexta-feira o primeiro-ministro, Passos Coelho, numa resposta a Francisco Louçã, coordenador do Bloco de Esquerda.
Passos Coelho desceu hoje à cave e foi buscar a honra para justificar que os acordos com a Troika são para cumprir.

E os compromissos que assumiu com o povo português que o elegeu? E as promessas feitas e imediatamente violadas logo que assumiu o poder? Não interessam? Não contam?
Perante o chorrilho de promessas pré eleitorais registadas pelos órgãos de comunicação e que circulam um pouco por todo o lado, nem sequer foi feito um pedido de desculpas ao povo.

A palavra dada à “populaça” é muito menos importante do que o compromisso com o capital internacional que nos usura sem dó nem piedade!
Pétain, por se ter comprometido com os nazis, foi considerado traidor e sentenciado a prisão perpétua.
A.M.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Diz o roto ao nu...


Há quem não possa negar que a responsabilidade do abuso que vem sendo praticado contra os contribuintes é dos dois partidos que se têm alternado no poder, usando o CDS como contrapeso, quando é absolutamente necessário, para formar uma maioria estável. Contudo não deixam de falar violenta e rancorosamente da outra:oposição que nunca poderá governar com base no sistema atual, como se a doutrina política que têm seguido (com pequenas nuances) fosse inquestionável. Entende-se.

No entanto, quando se acusam mutuamente do buraco em que estamos metidos são também muito agressivos, como se o povo fosse papalvo e não tivesse já compreendido que a alternância no poder serve apenas para mudar o elenco.

Durante os primeiros governos constitucionais o Gonçalvismo serviu para justificar o malogro da nossa situação financeira e económica. A partir de certa altura tornou-se ridículo fazer essa invocação, tão abstrusa como Vasco Gonçalves assacar as culpas do estado da nação ao 5 de Outubro de 1143, com a assinatura do tratado de Zamora. Eu, particularmente, perante o esbulho que estão a fazer ao povo começo a admitir que se não fosse o D. Afonso Henriques poderíamos viver bastante melhor.

Leio, incrédulo, que o grupo parlamentar do PS adquiriu novos carros no valor de 210 mil euros. Leio também as críticas desencadeadas por alguns simpatizantes do PSD, CDS  e talvez ainda mais para lá e interrogo-me: - Que carros têm os outros grupos parlamentares? Será que optaram pelo Microcard? Andam de Lambreta como o Mota? Finalmente, tendo a maioria no parlamento, porque não impõem medidas restritivas no que respeita a mordomias inclassificáveis?

Acusar o grupo parlamentar do PS de despudor? - Concordo

Apelidá-lo de “velho entulho parlamentar socialista – Idem

Pergunto:

- Os grupos parlamentares do PSD e CDS são púdicos?
- Ficaria bem chamar-lhes “novo entulho”?

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

A rebaldaria da governação


Os empresários ou alguém por eles criticaram algumas medidas que o governo tomou com a finalidade de diminuir o défice que acabaram por resultar num acréscimo do mesmo.
Falo do aumento das portagens que fez fugir os automobilistas para estradas nacionais gerando receitas inferiores às que existiam antes dos novos preços e do aumento do IVA que levou à redução do consumo, furando drasticamente as perspetivas da governação. Falo de todas as medidas que foram tomadas para resolver o problema das nossas finanças e da nossa balança de pagamentos e resultaram em autênticos falhanços como se o governo não possuísse uma plêiade de consultadorias a quem paga bom dinheiro para mandar fazer estudo do impacto das medidas que tem parido para satisfazer a voracidade da Troica, monstro que só deixará de beber-nos o sangue, quando já não for rentável sugar-nos a última pinga, tal como qualquer mina ou poço de petróleo quando deixa de ser rentável a sua exploração.
Pois bem, rejeitada que foi a TSU e discutidos outros métodos que equivalessem à arrecadação da mesma quantia, que seria de 2 mil e tal milhões e foi parar a quatro mil, segundo os cálculos do governo, resta saber, se tal como antes, aplicadas que sejam as medidas de austeridade anunciadas, a receita para os cofres do estado corresponderá à espectativa da quadrilha de governantes que elegemos para nos salvar do caos.
Uma das medidas propostas pela CIP, na celebérrima reunião do governo com os parceiros sociais, foi a do aumento do tabaco em 30% para permitir a redução da TSU que cabe às empresas em cerca de 7% com o argumento de que o governo iria arrecadar cerca de 500 milhões.
Li algures que o imposto sobre o tabaco (IT) rendeu cerca de 1 milhão e 300 mil euros em 2011. Dum aumento de 30% resultariam mais 390 milhões para o estado e não 500 como tem referido a CIP. Mas, o mais importante é não considerarem uma série de comportamentos subsequentes ao aumento do IT.

1 – Número de pessoas que deixa de fumar
2 – Número de pessoas que passa a fumar de forma racionada
3 – Número de pessoas que passa a comprar tabaco em Espanha
4 – Aumento do contrabando de tabaco
5 – Aumento do número de pessoal para fiscalizar a entrada do produto.
Etc.

Resumindo, e para terminar pois tenho que ir fazer uma sopinha de aipo e cenoura para o jantar, quem quer apostar que no próximo ano o IT será menor que em 2011?

Vale mais prevenir do que remediar


Só sabem dizer mal do governo (por enquanto com letra minúscula) e não lhe apontam uma única medida positiva. É injusto!
Decidem oferecer as vacinas aos velhos com mais de 65 anos e ninguém tem uma palavra de agradecimento para com, pelo menos, o ministro da saúde que vela por nós noite e dia qual Hígia no seu pedestal.
Assim pensava eu depois de ter ouvido a notícia num telejornal, há dias atrás. Contudo, logo no dia seguinte apareceram os farmacêuticos ou os donos das farmácias, vá-se lá saber, a queixar-se de não terem sido avisados previamente e entretanto já tinham feito as encomendas das vacinas para este ano.
- Bem feito! É para não serem gananciosos – pensei eu.
Já tinha posto o problema na beirinha do prato quando ontem fui tomar a bica matinal ao café do meu amigo Jorge e me lembrei de ir à farmácia, que fica logo ali ao lado, para comprar Atarax, pois os malandros dos ácaros incomodam-me mais do que três governos iguais a este.
É nesta farmácia que todos os anos por esta altura vou com a minha cara-metade apanhar a vacina gripal. Por isso, inocentemente, perguntei ao boticário:
- Então, já receberam as vacinas para este ano?
Que estavam encomendadas, foi a resposta.
Daqui, partiu-se para uma conversa onde me foi revelado mais um elemento do caso: as vacinas tinham sido oferecidas porque no ano passado por erro de cálculo, ou por alguma comissãozinha por baixo da mesa, tinham adquirido muito mais vacinas do que seriam necessárias.
- Então, mas a mutação anual dos vírus da gripe não obriga a fabricar novas vacinas que cubram melhor os diversos tipos de vírus? - Perguntei, meio incrédulo.
- Eles querem lá saber disso! Não fazem bem… mas também não fazem mal – disse o farmacêutico.
No caminho para casa vim matutando no assunto e sem querer comecei a deitar lenha para a fogueira, isto é, comecei a juntar outros dados ao raciocínio. A meio do caminho, voltei para trás e retornei à farmácia e pedi que me guardassem duas vacinas logo que chegassem. Tinha decidido jogar pelo seguro (não pelo Seguro porque também não me inspira grande confiança).

Quem sabe, no arreigado anseio deste governo em diminuir o défice, não juntariam às vacinas uma mezinha qualquer para dar cabo dos velhos com mais de 65 anos?

Nota: O uso do termo “colocar na beirinha do prato” refere-se ao tempo das vacas gordas quando se colocava na beira do prato aquilo que não prestava. No tempo das vacas magras, quando havia comer, a gente tinha a mania de colocar na beira do prato o mais saboroso, para comer no fim.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Quem tem medo da justiça?


 
Leio no jornal de 4 de outubro de 2012 que o relatório da Procuradoria Geral da República, relativo ao ano transato, chama a atenção para a falta de meios do Tribunal Constitucional, a quem cabe fiscalizar a riqueza dos titulares dos cargos...
públicos.
Este ingénuo lamento refere apenas a falta de meios e alvitra que a dimensão do gabinete é exígua e enquanto não for aumentada vai ser impossível cumprir esta sua missão.
Numa altura em que a tecnologia informática permite os mais eficazes e diabólicos meios de controlo, bastaria que fosse feita legislação séria, com a finalidade primordial de denunciar e castigar os faltosos. A medida mais importante seria acabar com o sigilo bancário e então uma rede com meia dúzia de operadores seria suficiente para controlar não só as riquezas dos titulares de cargos públicos como também o movimento de capitais para os paraísos fiscais.
Tenho a certeza que os 30% de trabalhadores que recebem o ordenado mínimo não se importariam que lhes vasculhassem as contas e aqueles que declaram apenas o ordenado mínimo e têm outras fontes de rendimento seriam também apanhados na teia.Sugiro, que na dúvida sobre o apoio que tal medida teria dos portugueses, fosse feito um referendo.
Afinal, quem tem medo?
Sobre a fuga de capitais para paraísos fiscais fico a saber que são os grandes bancos privados, como a UBS, o Credit Suisse e a Goldman Sachs à cabeça e de outras instituições como o Bank of America, o JP Morgan e o Ciybank, os principais responsáveis.
Quem foi o vice presidente da Goldman Sachs que hoje, entre nós, continua a “trabalhar” para esta instituição?
O país está entregue em boas mãos!
A.M.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Vejo e não acredito!

Segundo consta São Tomé não acreditou na ressurreição de Cristo até que o viu vivinho da costa. Logo a seguir foi apelidado de São Tomé, o crente.
Eu sou um pouco como São Tomé, preciso de ver para crer, embora saiba que nós vemos através dos olhos e as imagens são contruidas na cachola, facto que poderia ser
testemunhado por quem já sofreu a tortura pelo sono – três dias sem dormir e a gente vê tudo e mais alguma coisa.
Bem, isto vem a propósito, da vacina para os velhos com mais de 65 anos que este ano, graças à bondade do governo vão ser à borliú!
Logo que ouvi a notícia, em vez de ficar aos saltos de contente, dei em magicar que carga de água tinha levado este governo a este ato de benevolência, quando nos tem roubado salários e pensões com o argumento de que temos de reduzir o défice externo, interno e até o galáctico.
Comentando este facto com o Jorge cujo café fica mesmo ao lado da farmácia fiquei a saber que o ano passado sobraram milhões de vacinas dado que foram importadas mais vacinas do que aquelas que foram vendidas, dado que muitos velhotes, preferiram gastar o dinheiro da vacina num pão de centeio, numa bica e num pastel de nata. Estava ele a insinuar, o magano, que a benesse do governo se devia à descarga do estoque de vacinas do ano passado, que como todos sabemos ocupa um espaço que também custa dinheiro.
Segundo me informei, junto de um técnico do ramo, a duração das vacinas é de um ano dado ser o tempo de mutação do vírus, pelo que se não fazem bem também não fazem mal, antes pelo contrário, como se costuma dizer.
Contra minha vontade, pois nesse dia tinha resolvido pensar apenas que não devia pensar em nada, dei em congeminar sobre este assunto. Vejam lá que até admiti que pudesse ter sido sugerido ao Passos Coelho, por algum daqueles conselheiros que lhe foram impostos pelos amigos do peito, que era uma boa altura para inocular 605 forte ou droga similar nas vacinas da gripe para dar cabo dos velhos com mais de 65 anos.
Assim, decidi ficar para o fim e esperar para ver… se os apressados não começavam a cair que nem tordos. Em alternativa, se tiver ainda algum dinheiro disponível vou comprar a vacina na farmácia, que não tendo sido avisada da gratuitidade do Governo já as adquiriu nalgum laboratório. Talvez, dada a concorrência desleal, até façam promoções, como no Pingo Doce.
Vale mais prevenir do que remediar.
A.M.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Ainda o supersónico curso de Miguel Relvas


Como já se esperava a Procuradoria-Geral da República arquivou a averiguação preventiva ao modo como Relvas obteve a licenciatura na Universidade Lusófona, em Lisboa.
Pelas justificações que o próprio apresentou na altura todo o processo seria legal.
Tinha razão. Existe legislação que permite a um maduro bem apoiado frequentar duas ou três cadeiras durante um ano letivo, sair triunfante pela porta grande, com um canudo na mão.
Para trás ficaram 32 cadeiras por frequentar porque alguém “entendeu” que o aluno de ocasião tinha absorvido toda a matéria e só precisava de alguns retoques em quatro cadeiras.
Talvez, por vaidade, nesse dia foi jantar ao Gambrinos, não se esquecendo, como é óbvio, de convidar o lente que assinou a papelada. Nessa noite, mesmo na fase de sono mais profundo, não conseguiu desafivelar a careta em que a comissura dos lábios se arreganha para cima e que normalmente apresenta perante as Cãmaras de televisão. Sempre muito sorridente e bem disposto!

Tudo bem, não foram encontrados ilícios criminais, portanto toca de arquivar o processo.
Tudo conforme… como manda a sapatilha!
E agora? Arquivado que foi este processo, fica tudo na mesma?

Não se justificaria legislar eliminando definitivamente crivos camuflados por onde outros Relvas possam passar no futuro?
Claro que não! É imperioso que as leis contenham uma pequena abertura, que explorada por quem as elabora de moto próprio ou por encomenda, possa alcançar lugares de poder que nem uma “Beautiful mind” consegue por muito que se esforce.

Por isso, a populaça a que se refere o valente polido, estará eternamente sujeita a sofrer na pele e na carne os malefícios de decisões e determinações decretadas por “stupid minds”.
É o nosso fado!

PS - Por onde terá entrado o diploma de Relvas?

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Prefiro o pior Dão ao melhor Borges


Existiu um Manuel Borges (por acaso Carneiro), magistrado e político que morreu em Cascais em 1883, na prisão, por causa da Vilafrancada, depois de ter sido um defensor do liberalismo desencadeado em 1820.
Havia um Borges que, à medida que foi ficando cego, se tornou mais lúcido e imaginativo. Foi Jorge Luís Borges escritor e poeta argentino que morreu em 1986, na Suiça.
Há um Paulo Borges que escreve umas coisas, é presidente da União Budista e do Partido pelos Animais e pela Natureza. (Não me esquecerei de um dia destes o interrogar sobre a tradição da tauromaquia em Portugal).
Há um Borges solicitador, outro músico, outro designer e um fadista. O Borges da Remax também consta dos catálogos consultados.
Existem Borges para todos os gostos.
Nós também temos um. Não é o Manuel, liberal condenado à prisão pelos miguelistas; que me conste não é cego e muito menos cultiva a lucidez; não é budista e o marialvismo ressuma da sua transpiração cutânea; não é solicitador e não canta o fado.
Talvez tivesse sido conselheiro da Remax onde conseguiu o treino necessário para hoje ter o poder de vender Portugal a retalho.
Consultando o seu currículo, ficamos a saber que se estabeleceu nos EUA em 1976 onde obteve os graus de mestre e doutor em economia. Em 1980 foi docente em França no INSEAD. Depois foi vice governador do Banco de Portugal lecionou na Universidade Nova, donde passou para a administração do Goldman Sachs, Citybank, BPN Paribas, Petrogal, Sonae, Jerónimo Martins, Cimpor e Vista Alegre.
Porra! Perante tal currículo, tanto conhecimento, tanta desenvoltura, tanta sapiência, quem é que se atreve a duvidar que a TSU seria como uma mina de ouro no Alentejo ou meia dúzia de poços de petróleo em Peniche, para já não falar do petróleo do Beato?
Não são apenas os empresários deste país que são ignorantes.
Há, neste momento, um país inteiro a não compreender que força, que poder “divino” ainda mantém este Miguel de Vasconcelos como conselheiro de estado.
Este Miguel e o outro Dr. Miguel devem voltar para os EUA no primeiro avião. Terão certamente uma boa reforma pelo contributo que deram para ajudar a economia americana. Merkel suportará uma parte da contribuição para os agentes que cumpriram a preceito todas as técnicas estudadas e recomendadas para que a Alemanha tenha um crescimento positivo e um baixo nível de desemprego.
Pela parte que me toca já comecei a fazer as malas para embarcar… para o outro mundo, onde tentarei organizar-lhes uma boa festa de receção quando chegar a sua altura, que pelas macabras e amarelentas fisionomias não demorará muito tempo.
Inté!

terça-feira, 25 de setembro de 2012

O Ministro do Interior


Quando se abre a boca deve-se ter muito cuidado. Se é para dizer asneira é melhor que entre mosca.
Só mais tarde, depois de ver a reação em cadeia que aquela frase, aludindo à fábula da Cigarra e da Formiga, provocou em todo o país, se apercebeu do disparate. Se fosse a Merkel a dizê-lo, ainda vá que não vá, pois só poderia ser acusada de meter a foice em seara alheia. Miguel vive nesta seara e logo ou é formiga ou é cigarra, ou seja, ou é preguiçoso ou é laborioso.
À noite, deitado na cama de papo para o ar, magicava num argumento, numa desculpa, que pudesse apresentar para alterar o juízo feito por todas as cigarras e formigas deste país.  

E descobriu, lá para as cinco da manhã, naquilo que lhe parecia ser uma boa explicação:
“Aquela declaração foi uma homenagem ao trabalho de todos aqueles que criam riqueza”

Ora os que não criam riqueza são cigarras. Os milhares de desempregados que nem comida têm para o dia-a-dia, quanto mais para abastecer a despensa são cigarras.
E os governantes que não produzem nenhuma riqueza mas apesar de tudo abastecem a sua despensa com o trabalho alheio serão formigas?

A tirada era bonita. Talvez até um dia venha a figurar no catálogo onde estão frases como esta: “Se soubesses o que custa mandar gostarias de obedecer toda a vida”.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

A chocadeira da corrupção


A principal caraterística das “Chain letters” é a corrente começar a saturar-se e recebermos catadupas da mesma mensagem durante algum tempo.
Uma das que me caiu no goto é aquela que aponta para uma revisão da constituição no sentido de tornar os deputados mais parecidos com o cidadão normal, que paga os seus impostos, que não beneficia de seguros de saúde, nem de senhas para o almoço, nem subsídios de deslocamento e de transporte, nem exíguos tempos para a reforma, nem subsídios de reinserção, nem tão pouco de imunidade parlamentar para fugir às falcatruas em que se mete.

Contudo os ovos são colocados na chocadeira antes da tomada de posse que se segue a uma eleição legislativa.

A norma número 1 era atribuir ao PR o dever (não o direito) de demitir o governo que não cumpre com as promessas que badalou durante as campanhas eleitorais. Houvesse algum meio de responsabilizar quem andou a enganar os eleitores para conquistar o poder e não duvido que a cotação que o povo faz da política e dos políticos, nunca teria descido tão baixo.
Devia haver uma lei das compatibilidades simples, compreensível, que não deixasse fendas por onde passa o grosso dos oportunistas. Também seria imprescindível que a lei que obriga os titulares de cargos públicos a fazer declarações de património e rendimentos fosse devidamente fiscalizada e não existisse apenas para inglês ver. Seria muito fácil com os meios que a informática dispõe para fazer cruzamento de dados se o sigilo bancário não fosse um tabu para todas as assembleias legislativas… e constituintes, também.

O argumento da defesa da privacidade tem o leve odor da defesa da ilegalidade.

Diz o povo: Quem não deve não teme!

 

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Começam a cair as máscaras

Parece que o ex-conselheiro de Passos Coelho, Nogueira Leite, teve que encerrar a sua página no Facebook dado que sofreu um ataque viral na internet depois de ter colocado ali um desabafo: “Se em 2013 me obrigarem a trabalhar mais de 7 mese...
s só para o Estado, palavra de honra que me piro, uma vez que imagino que quando chegar a altura de me reformar já nada haverá para distribuir, sendo que preciso de me acautelar. É um problema que é só meu, mas esta não é a condição de homem livre!”
Francisco Louçã comentou: “Eu fico. Porque é preciso enfrentar o governo, correr com a troika, não desistir de recuperar os salários e as pensões. É preciso vencer esta elite de Nogueiras Leites que, depois de recomendarem a redução dos salários dos outros e a proteção dos seus próprios privilégios, se atrevem a dizer que fogem.”
O que me assusta não é o Ferreira Leite pirar-se quando o barco se afunda, mas sim o sentir que a maior parte dos interesseiros que nos governam, acabarão por fazer o mesmo, saltando para os seus paraísos fiscais, de barco ou de avião, viver do que sonegaram ao erário público em seu próprio benefício. O melhor mesmo é lançá-los todos borda fora, aliviar o barco desta tara inútil de mentirosos, ladrões e assassinos de que fala o padre da Lixa, presbítero da Cidade do Porto.
Recomendo a Nogueira que não fuja para França pois o Hollande ameaça taxar de forma muito mais gravosa os altos vencimentos e então em vez de trabalhar sete meses de borla teria que trabalhar oito ou nove e dizem que é preciso fazer declaração de rendimentos cuja falsidade é severamente punida.
Este comentário tem o propósito de alertar para o crescimento de uma casta que na mais modesta posição política julgam poder-se alcandorar a lugares da esfera pública com a finalidade única de se servirem a si próprios. Vir a ser ministro ou secretário de estado é muito bom, mas um lugarzinho de presidente da Junta já não é nada mau.
É preciso interromper de forma drástica a mentalidade de que o Estado não tem por função controlar outra coisa que não seja o interesse de todos os seus membros e respetivos serventuários.
Fora com eles!