O pai do Moreira tinha uma mula. Quando
o Moreira adormecia e via que não tinha tempo de chegar antes do toque da cabra
para o início das aulas, ia de mula. Amarrava-a a um poste de eletricidade junto
ao muro do colégio. No intervalo das aulas enfiava-lhe um saco com favas no
focinho para lhe encher o depósito.
Quando havia um furo entre as aulas o
Moreira, à vez, deixava-nos cavalgar o equídeo. Era uma festança!
Quando ia a trote não havia problema,
portava-se muito bem, mas quando a galope tinha uma querença que nunca
conseguimos contrariar.
Assim que via uma rua á direita não hesitava,
guinava imediatamente para a tomar e o cavaleiro não conseguindo dominá-la com
as rédeas, era projetado do selim.
Há sempre uma razão para evocar episódios
do passado como me aconteceu hoje.
Tenho um armazém com a tabuleta por
cima da porta “Durindana”. Era para ser um espaço concorrido mas pouco tempo
depois decidi usá-lo apenas para recriar os desabafos que coloco noutros espaços,
pelo que não procuro mantê-lo limpo e arrumado.
Todavia tinha a porta aberta, como na
Ilha das Flores, onde nem de noite se fechava a porta e quem passava abria-a
para ver as horas no relógio da sala… nos anos 40, como é de calcular.
Por essa razão uma mula mal parida passou
a entrar-me pela porta do armazém onde aparece para defecar quando a diarreia
mental fica incontrolável deixando-me o chão do armazém numa autêntica vergonha.
Já pensei se não seria uma mula-sem-cabeça, duende em forma de besta e com três
pés que anda por aí a vaguear, qual alma penada sem eira nem beira.
Tem todavia um nome! Não um nome
próprio. Nem sequer o sobrenome. Identifica-se por “averdadedoi” pelo que não é
difícil calcular onde lhe doi já que vive com um mu muito bem dotado.
Acabei!
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