segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Desgostoso desabafo num dia sombrio

Um dia, quando fazia um exame à caixa dos pirolitos, diz-me o neurologista:
- Agora, não pense em nada.
Dois ou três segundos depois já eu replicava:
- Doutor, não consigo deixar de pensar que não devo pensar em nada.
Como todos sabemos por experiência própria a capacidade craniana tal como um alto-forno ou uma central nuclear não se pode desligar, pois logo de seguida entra em coma e pimba, desfalece para todo o sempre.
Os relatos de alguns comatosos, como é o caso do autor do “Dinossaur Excelentíssimo”, provam que mesmo nessa situação ainda pensam que veem umas luzes ao fundo do túnel, mas que estando de olhos fechados, realmente, todas as visões se passam lá dentro da caixa, a que gosto de chamar caixa dos pirolitos porque havia uma fábrica que os fazia lá na minha terra, e a miudagem partia as garrafas para jogar ao berlinde.
Voltando ao assunto. Ver coisas que não estão no plano da nossa visão é coisa vulgar, como é o paradigmático caso de Nossa Senhora de Fátima. Não tenho dúvidas que os pastorinhos viram a sua figura, e foram sinceros no seu relato do episódio. Contudo, os olhos são apenas o sensor da visão, que de nada servirão para quem está em coma ou a dormir. Dizem algumas pessoas que viram em sonhos o Gualdim Pais em pessoa sentado na tore de menagem do Castelo do Almourol. Viram? Na escuridão da alcova e de olhos fechados? Ah! Ah! Ah! três vezes ah! Ver com as persinas do órgão de visão fechadas? Pois!
Bem, já me perdi! O que eu queria realmente dizer é que quando penso em criancinhas, vejo (vejo?) os meus filhos e depois os meus netos e que nunca, em qualquer momento, salivei com o desejo de os comer assados no forno ou em postas de churrasco.
Inspirado no “Vi, claramente visto” camoniano, afirmo que hoje vejo claramente muitas das nossas criancinhas a irem de manhã para a escola sem o seu pequeno-almoço.
Ou estou a sonhar?

1 comentário:

José Leite disse...

Não podemos deixar de pensar! O regime vai agonizando, mas procura sobreviver causando danos colaterais naqueles que nada têm a ver com o estado a que se chegou...