quinta-feira, 1 de novembro de 2012

50 anos depois!

Fico estarrecido quando me dizem que se os nossos credores exigissem o pagamento de todas as dívidas cada português tinha de adiantar mais de 18 mil euros, ou seja, a dívida total de 190 mil milhões de euros ficaria saldada.
Acusado de tal dívida, fico a pensar onde foi que eu próprio me empenhei para adquirir alguma coisa que não tivesse hipóteses de pagar.
Será porque comprei um PC feito na China a pronto pagamento? Então foi porque a parte do carcanhol que devia ir para os chineses ficou retido em algum recôndito lugar e talvez tenha servido para as férias de algum sortudo no Haiti ou mesmo em Cabo Verde.
Será porque comprei um popó alemão que paguei integralmente? Então foi porque alguém por mim comprou um topo da gama que não conseguiu pagar, ou pagando, o dinheiro foi perdido por algum banco em investimentos de alto risco.
Havia aqui perto um supermercado que fechou as portas, que é o mesmo que dizer que abriu falência, e como sempre acontece nestes casos, o dinheiro escoa-se para todo o lado menos para pagar aos credores, que entretanto também estão endividados e resolvem também abrir falência, já que é fácil e sai mais barato montar outra empresa com outro nome mas que nem por isso deixa de ser irmã gémea da outra.
Em 1953 eu e o meu irmão abandonámos os estudos porque o meu pai deixou de poder suportar os custos da nossa educação. Tinha uma pequena loja na província que deixou de suportar os gastos da manutenção da família. Não querendo abrir falência porque naquele tempo “perdia-se o nome na praça” e nunca mais poderia montar outro negócio, resolveu fazer um acordo com os credores para lhes pagar mensalmente uma determinada quantia.
Para tal, eu com 17 anos, e o meu irmão com 15, fomos trabalhar e dos nossos salários retirávamos uma parte para ajudar a pagar a dívida. Recordo, que quando tinha 26 anos e nasceu a minha filha, ainda contribuía mensalmente com uma parte do meu vencimento para cumprir aquele acordo.
Acordo esse que agora classifico de maldito, porque a falência passou a ser uma metodologia para se iniciar outro negócio, ficando perdidas no tempo as dívidas aos credores e, o que é ainda pior, os salários devidos aos trabalhadores. A noção de honra, nos dias de hoje, não existe e quando evocada dá vontade de rir.

1 comentário:

Carlos disse...

"Honra" não rima com "lucro".
Por cá, ainda eu não era nascido, houve um comerciante que combinou honra com chumbo e o resultado não foi melhor, pois os filhos tiveram que somar às dívidas pré-existentes as despesas do funeral mailos responsos para livrar a alma do defunto do pecado mortal.
E por falar em lucro: Por quanto é que vão vender o HM da Estrela?