Quando medeiam alguns anos entre duas afirmações contraditórias produzidas pela mesma pessoa, ela pode sempre argumentar que entretanto a situação se alterou e que foi obrigada a fazer uma adaptação à nova realidade. Pode, também fazer um desmentido.
Para atenuar a má impressão que isso possa causar tem ainda a possibilidade de acusar os adversários de pouco imaginativos, monocórdicos ou mesmo de terem engolido uma cassete.
Mas quando o intervalo entre essas duas informações incoerentes e contraditórias é apenas o tempo que dura um almoço, a justificação torna-se mais difícil. A não ser que ele tenha sido bem regado, facto que nunca poderá servir de argumento por razões óbvias.
Conheci um criador de gado para abate que lamuriava pelo baixo preço das reses no mercado, mas barafustava com violência pelo preço que lhe pediam pelos bifes no talho.
Toda a gente se lembra com certeza do sketch da saudosa Ivone Silva sobre o enorme conflito que existia entre a Olívia patroa e a Olívia costureira.
Calígula, por exemplo, era um verdadeiro sofista na sua crueldade: declarava que puniria os cônsules se eles celebrassem o dia de festa instituído em memória da vitória de Accio e que os puniria se não o celebrassem.
Vem tudo isto a propósito da campanha para as autárquicas que alguns candidatos já estão fazendo. Não serão tão cruéis como Calígula, mas são certamente tão sofistas como Protágoras. Sem terem o cuidado de ler os seus discursos anteriores, defendem agora o que criticaram e criticam o que defenderam. Conforme a hora e o local são pró ou anti regionalistas; condenam as promessas dos opositores que eles próprios mantém nos seus programas eleitorais.
Estão convencidos que os eleitores não se apercebem das contradições e falsas promessas.
Até quando?
A.M.
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