Viagem em Fevereiro de 2006, programada e realizada apesar de raios e coriscos
Quando se programa alguma coisa que inclua mais de 2 pessoas só resta uma hipótese ao organizador: marcar o dia e a hora; quem quer vai, quem não quer fica em casa.
Se o desgraçado do organizador começa a querer conciliar os interesses e disponibilidades de cada um, o evento realiza-se é nunca!
Por essa razão, marcada que foi, não se volta atrás, quer faça sol, quer faça chuva.
Desta feita fez alguma, mas houve boas abertas.
O acontecimento poderia intitular-se “Viagem às origens” e denominar-se como nas coisas feitas em série de I, II e III, dado que se vem repetindo periodicamente sem data marcada mas correspondendo sempre a um impulso, tal e qual como o apito do telemóvel quando a bateria está fraca: carreguem-me, suplica ela!
E, lá vamos… não cantando e rindo mas rindo e cantando do tempo em que cantávamos e ríamos por obrigação devidamente oficializada nos matinais sábados de todas as semanas excepto nas férias. Muito perfilados, muito alinhadinhos!
Por dois dias a gente conta as pedras da calçada para ver se não falta nenhuma, procura os sítios onde se deram os grandes acontecimentos: olha, aqui foi a primeira vez que fui preso por andar a jogar à bola; ali naquela esquina foi onde malhei com os ossos no chão; a cheia de 1945 chegou àquele degrau – lembras-te? Eh, pá e que é feito daquele tipo que casou com a trapezista quando o circo Mariano esteve montado ali no largo?
Já morreu? E ela também? Porra que estamos velhos! E daquela zaragata no baile da M. quando tu comentaste em volta alta: “o baile não está mau, mas a tourada em Vila Franca estava melhor? Que grande arraial!
Dois dias depois a gente chega com os acumuladores na sua capacidade máxima e procura fazer um balanço.
Para além da sentimental recauchutagem, motivo primeiro da viagem às origens e de inegável êxito, quero deixar duas notas:
A primeira é negativa. Visitando a casa onde viveu Camões, em Constância, deparei com uma escultura colocada no Jardim-horto. Ao vê-la não consegui deixar de pensar no meu tempo de estudante, e nas diligências feitas para encontrar o canto nono em qualquer lado, já que o mesmo tinha sido amputado de “Os Lusíadas” escolares.
Poder-se-ia pensar, ao ver aquela peça de estatuária representando um casal na missionante posição da respectiva arte hindu, de que aliás Camões devia conhecer profundamente todos os segredos, que a velha, bolorenta e hipócrita moral dos costumes, tinha sido enterrada para todo o sempre.
Assim seria se…
Se a aquela bela peça não estivesse tapada com uma serapilheira, procurando esconder o mais usual acto de amor do mundo, como se um diácono censório alarmado com semelhante e impúdica posição providenciasse à sua ocultação.
O mais ridículo, é que uma coisa que poderia ser olhada apenas como uma obra de arte, erótica sem dúvida, passou a ser espreitada como peça pornográfica, dado que, mal escondida, deixa ainda perceber as torneadas pernocas da ninfa agitando-se no ar.
A parte positiva desta curta viagem encontra-se na ausência.
Não tendo a “obrigação” de ver televisão não tive que aturar o autêntico massacre da reportagem de um acto tão simples como o da trasladação de umas ossadas.
Contam-me que foi uma coisa demolidora.
quarta-feira, 29 de outubro de 2008
Fuga para trás
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