Tenho um colega que mora aqui perto e gosta de receber os amigos lá em casa. Nunca menos de três. Chama-se Olímpio e a sueca é a sua perdição. Quando chegamos já tem a mesa preparada, as cadeiras nos seus lugares, os baralhos a jeito. A gente senta-se e dá logo reis para escolher parceiros. O primeiro rei é o que dá cartas, trunfo é paus e toca para frente que se faz tarde. O Olímpio é um ás. Quando vamos na terceira ou quarta vaza já ele sabe o jogo que cada um ainda tem na mão. Fica fulo quando se fala e berra logo:
- Vocês julgam que isto é a sueca da Meia-Via?
A Meia-Via é uma terrinha ali para o Ribatejo assim a modos do tamanho de Ranholas no concelho de Sintra – é só casas ao lado da estrada. Segundo ele diz só na Meia-Via é que se pode piscar o olho, dar punhadas na mesa, dobrar o canto da carta com a unha, ou mesmo usar códigos de palavras. Uma vez, vendo-o tão embrenhado no jogo, e já com a boca seca pensei alto:
- Mas afinal não se bebe nada nesta casa?
Então não ficou fulo comigo acusando-me de estar a dar sinal ao meu parceiro para destrunfar? A gente diverte-se um bocado. Só quando estou adoentado é que me nego. Ao sábado é dia de suecada. Quase sempre. À noite quando saio a minha mulher pergunta-me:
- Onde é que vais? - Vou aos jogos olímpios – respondo eu.
A.M
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