quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Os pilritos

Para além da fábrica de laranjadas e pirolitos havia um pequeno jardim na minha terra natal. Tinha forma rectangular e de cada lado mais comprido tinha quatro bancos de jardim. Junto de cada banco encontrava-se um pilriteiro que com a sua sombra protegia os seus ocupantes dos raios do sol no Verão e da cacimba nas primeiras noites do Outono.
Um único desses bancos tinha ficado tão perto do tronco do pilriteiro que passado algum tempo, engrossando, ficou a pressionar as costas do mesmo ao ponto de lhe abaular as tábuas.
Quando chegava a época em que os pilritos amaduravam a rapaziada para não ir ás uvas que ficavam do outro lado do rio ou aos medronhos que ficavam no meio do mato, ia para o jardim empoleirar-se nos pilriteiros. O fruto é pequeno, tais pequenas pérolas de um colar, de cor avermelhada. Ligeiramente adocicado deixa um travo ácido na boca que se vai acentuando desagradavelmente à medida que se comem pelo que ninguém matava a fome com pilritos. Era uma brincadeira.

Foi também a brincar que um dia resolvemos investigar porque razão havia sempre mais pilritos no chão debaixo daquela árvore do que em qualquer das outras suas companheiras. À segunda noite de observação camuflada já tínhamos desvendado o mistério. Era o ajudante de farmácia que ia com a sua garota passear para o jardim e quando cansados de andar resolviam sentar-se era aquele o lugar escolhido.
Foi a partir dessa altura que a maralha quando via passar um ou outro gritava:
- Até o banco abana!

Quando hoje, vejo pessoas crescidas, num espectáculo pretensamente cómico a fazer paupérrimas rábulas, que desfecham sempre com o “vai lá, vai! Até o banco abana!” só me apetece a título de vingança cobrar-lhes direitos de autor.
Ai, se a gente tivesse registado a patente…!

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