segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa

Suponhamos que numa aula de português do 9º ano o professor mandava os alunos desenvolver o tema: “Amo o meu país”.
Um aluno sentado na primeira fila começou a suar e ao fim de 15 minutos ainda não tinha conseguido alinhavar uma frase que demonstrasse esse amor. Pelo contrário, tudo o que tinha escrito só revelava indiferença, desdém e desafecto.
Na carteira atrás da sua um colega cutucava-o com o bico do lápis:
- Eh pá, estou à rasca, dá-me aí uma dica!
No fundo da sala havia um outro aluno que tinha entrado em transe e evocava os seres extra terrenos que nas suas naves espaciais haveriam de vir salvar o mundo de professores deste quilate. Então não era muito mais edificante o tema “Odeio o meu país”?

Quem ama o seu país vai ao sítio onde morou contar as pedrinhas da calçada.
Quem ama o seu país sofre com as suas doenças.
Sofre com o seu atraso no desenvolvimento tecnológico,
Com o seu rendimento per capita,
Com o número de acidentes na estrada,
Com a insegurança nas ruas,
Com a morosidade na justiça,
Com as listas de espera nos centros de saúde e nos hospitais,
Com o baixo aproveitamento escolar,
Com o lugar na cauda de Europa.
Mas, embora sofrendo não deixa de o defender contra todos os Vasconcelos que o tentam apunhalar pelas costas depois de se conluiarem com novos donos.
Quem ama o seu país critica o que está errado e fica penalizado por esse facto.
Tem pena que seja assim e arrepela-se perante cada infortúnio.
Sofre porque existe corrupção e se adiam leis para minorar o flagelo.
Sofre porque a justiça impende rapidamente sobre os mais pobres mas permite aos mais ricos prolongá-la até à prescrição.
Sofre porque o leque salarial se alarga dia a dia tornando a sociedade mais injusta.

Quem ama o seu país critica dolorosamente os males de que ele padece e regozija-se com as pequenas vitórias.

Quem não ama o seu país critica com alegria e sobranceria o que está errado e até as pequenas vitórias são ou ignoradas ou ridicularizadas.

O Amor comanda uns e o ódio orienta os outros.
Esta a diferença.
A.M.



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