D. Maria R. ter-se-á ido de vez. Se foi, fez mal. Devia ter ficado para lhes puxar as orelhas e dar-lhes um nó sobre o toutiço o que convenhamos nem seria muito difícil.
Faço votos para que regresse. Tem força e capacidade para podar aquelas plantas.
Se tenho andado um pouco ausente foi porque o avô mandou o João buscar-me para me levar à sua presença. João é o motorista do avô, que já me conhece desde pequenino.
- Ó João, sabes o que é que o velho me quer?
Não sabia.
Quando cheguei estava ele sentado no seu cadeirão Luís XVI na sala das recepções oficiais. Vi logo que a coisa era grave, e foi a tremer, depois de lhe dar um fugidio beijo na careca, que ou vi a sentença.
- Se voltas a dirigir um comentário, uma palavra que seja, a alguma pessoa da lista que o meu secretário te vai entregar quando saíres, juro solenemente que mando chamar o notário para alterar o meu testamento. Não receberás nem um avo dos meus bens.
- tá vem vô-vô, mas eu nem sei…
- Vai e pensa. Não me desiludas!
Mais tarde ao ver a listinha percebi logo o ponto vista do velho. Ainda navega no tempo dos aristocratas e dos plebeus e entendeu, se calhar bem, que eu estava a denegrir o nome da família por manter relações com pessoas de baixo nível.
O velho é teso! Caramba!
O que não sabia, claro está, é que ele, altas horas da noite, logo que a minha avó começava a ressonar ia pé ante pé ao escritório espreitar os blogues do JN. (Talvez um dia venha a propósito explicar porque razão o vô vai para internet ás escondidas da vó.)
Estou mesmo a ver a barba a eriçar-se-lhe de indignação de cada vez que tuteiam ou insultam um Pereira da Mata.
- Ó Mata, não dizes nada?
- Ó Matinha, não dizes nada?
E eu, claro, nadinha! Que o velhote não é para brincadeiras, e ainda fico sem mesada.
- Se soubesses quem eu era até me beijavas os pés – disse há dias o segundo da lista.
E eu, moita-carrasco! Depois vou viver de quê?
O pior é que mesmo calando-me não me livro de ser insultado, e agora, pasme-se, até me ameaça com galhetas.
O problema não está no perigo em que incorro, porque é apenas uma ameaça sem sentido. O meu endereço electrónico está nos comunicados do almoço, o meu nome é verdadeiro, moro no Algueirão e tenho telefone registado na lista, onde está a minha direcção.
Assim poderia deslocar-se até aqui, ficava-lhe mais barato e a minha cara mais à mão.
Porque não se serve? Apareça.
Estou à sua espera para lhe beijar os pés.
Dou-lhe a possiblidade de escolha. Quer que lhos beije com o bucket ou com o roller.
A.M.
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