No cimo do quintal havia uma oliveira centenária. Com as pedras que havia por ali a miudagem construiu um muro á sua volta e deixou uma pequena abertura por onde, de rastos, penetrávamos no seu interior. Era o “Forte Apache”. Com pistolas de pau e arcos de varetas de chapéus-de-chuva, uns a defender e outros a atacar, procurávamos imitar as cenas dos filmes que nos chegavam da banda de lá. No centro do forte a velha oliveira era a referência.Escondidos entre os seus ramos observávamos a aproximação do inimigo e orientávamos as forças defensivas.
No fim dos “combates” nunca se sabia muito bem quem eram os vencedores e os vencidos. Não havia mortos e só de longe em longe um pequeno arranhão exigia o recurso ao mercurocromo. Nem mortos nem feridos!
Ainda há pouco tempo fui espreitar o local. Expliquei aos actuais locatários este mórbido desejo de “morder” o pó do passado. Foram muito simpáticos. A velha oliveira, agora com mais sessenta anos no pelo, ou seja, no tronco, lá está firme como se ainda esperasse que a juventude actual trocasse a virtualidade de um videojogo pela imitação esforçada na própria arena.
Claro que houve algumas ajudas para esta evocação. Primeiro foi a leitura de uma notícia que dava conta do cuidado que deve haver nas tintas usadas nos parques infantis. Alguma delas são tóxicas e representam perigo para as crianças usuárias desses espaços. Em segundo lugar foi a agradável constatação de não haver ninguém a pintar ramos de oliveira há sessenta anos, pois agora poderia não estar aqui a evocar a velha oliveira tantas vezes esgatanhada pela miudagem.
OBS: Texto dedicado a participante do Fórum do JN que usava o pseudónimo de Pinto Ramos de Oliveira
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