A caixa dos pirolitos começa a fervilhar. A pressão dentro da panela começa a subir e já sai algum fumo pelos ouvidos. Felizmente os gases são inodoros e só a visão do campo á nossa frente fica nublada. Os vultos, que eu sei serem figuras reais, parecem espíritos errantes que se movem e gesticulam como personagens de Ionesco. Ali, do lado esquerdo, está um tipo todo verde a fazer gaifonas para os passantes e mesmo em frente está outra estranha figura, esquálida e amarelenta, segurando na mão esquerda uma placa que diz: Pare, escute e olhe!
Examinando melhor, vislumbramos um querubim no topo da fantasmagoria que para além da inseparável corneta que o caracteriza, assume a posição de quem vai defecar. Em baixo, uma procissão de sapos que se dirige para lado nenhum levanta os esbugalhados olhos para cima temendo o pior. No canto do lado esquerdo estão sentadas duas megeras vestidas de negro. Uma levanta ao alto um cartaz que diz: Quem te avisa teu amigo é! A outra, mais incisiva, informa: Hoje em S. Miguel, amanhã no Paquistão!
No centro, bem no centro da tela, um Zé-povinho faz o seu gesto característico.
Então vejamos:
Se neste mundo se morre ao ritmo de milhares de pessoas por minuto, libertando para a estratosfera idêntico número de espíritos que precisam de ser realojados porque razão os delegados de propaganda só aparecem quando há uma catástrofe que, ao fim e ao cabo, só produz uma ligeiríssima inflação no deve e haver da Vida… ou da Morte?
Seja em Nova Orleães, na Índia, no Afeganistão ou no Iraque a exploração da morte para fins propagandísticos é um triste e deplorável exemplo de oportunismo… que se pretende dourar com uma pitada de valores humanistas.
Ah, seus grandes malandros, sempre à espreita de um sinal de fraqueza que vos escancare a porta.
- Entrai, entrai! Bem-vindos sejais! Que trazeis hoje no bornal? Espíritos malignos, tendes? Queria oferecer um à minha vizinha que vai dar à luz amanhã. Era para lhe fazer a vida tão negra como a minha. Ah, só trazeis espíritos papa-açorda? Passai por cá mais tarde, talvez lhes arranje colocação.
Tudo bem! Pode haver inflação de desencarnados. Outra coisa não seria de esperar com a crise que vai no Benfica.
Será que encarnarão no Sporting? Ou no Porto?
Gira o disco! A banda dos Bombeiros Voluntários da Minha Terra ataca o “Mundo cani” de Bernal.
Não conheceis?
Também não faz mal.
António Mata
Quadro de Hieronymus Bosch – Paraíso Terreno
Examinando melhor, vislumbramos um querubim no topo da fantasmagoria que para além da inseparável corneta que o caracteriza, assume a posição de quem vai defecar. Em baixo, uma procissão de sapos que se dirige para lado nenhum levanta os esbugalhados olhos para cima temendo o pior. No canto do lado esquerdo estão sentadas duas megeras vestidas de negro. Uma levanta ao alto um cartaz que diz: Quem te avisa teu amigo é! A outra, mais incisiva, informa: Hoje em S. Miguel, amanhã no Paquistão!
No centro, bem no centro da tela, um Zé-povinho faz o seu gesto característico.
Então vejamos:
Se neste mundo se morre ao ritmo de milhares de pessoas por minuto, libertando para a estratosfera idêntico número de espíritos que precisam de ser realojados porque razão os delegados de propaganda só aparecem quando há uma catástrofe que, ao fim e ao cabo, só produz uma ligeiríssima inflação no deve e haver da Vida… ou da Morte?
Seja em Nova Orleães, na Índia, no Afeganistão ou no Iraque a exploração da morte para fins propagandísticos é um triste e deplorável exemplo de oportunismo… que se pretende dourar com uma pitada de valores humanistas.
Ah, seus grandes malandros, sempre à espreita de um sinal de fraqueza que vos escancare a porta.
- Entrai, entrai! Bem-vindos sejais! Que trazeis hoje no bornal? Espíritos malignos, tendes? Queria oferecer um à minha vizinha que vai dar à luz amanhã. Era para lhe fazer a vida tão negra como a minha. Ah, só trazeis espíritos papa-açorda? Passai por cá mais tarde, talvez lhes arranje colocação.
Tudo bem! Pode haver inflação de desencarnados. Outra coisa não seria de esperar com a crise que vai no Benfica.
Será que encarnarão no Sporting? Ou no Porto?
Gira o disco! A banda dos Bombeiros Voluntários da Minha Terra ataca o “Mundo cani” de Bernal.
Não conheceis?
Também não faz mal.
António Mata
Quadro de Hieronymus Bosch – Paraíso Terreno
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