terça-feira, 30 de outubro de 2012

O reafundanço


Hoje fui ao sapateiro buscar as minhas velhas botas. Por umas solas novas e anti derrapantes, que a chuva está aí, paguei 35 €. Como vamos voltar aos protetores, solas de borracha de pneus velhos, ao tamanco e quiçá à alparcata, o melhor é começar já a treinar para diminuir o impacto quando se chegar ao pé descalço. Quando me levarem as cuecas descriminalizem o ato de andar em pelota na via pública, condenado por ser um atentado ao pudor; seria inadmissível que os gatunos que nos roubam a roupa nos mandassem prender por ofensa à moral pública, que aliás já ninguém sabe muito bem o que significa.
A ideia da refundação (ou será que ele disse reafundação?) é um gato escondido com o rabo de fora pois já toda a gente percebeu que querem alterar a Constituição de forma que ainda nos possam roubar alma. Então aproveitem a altura e alterem também o código civil da forma que vos der mais jeito.

Lembrando-me que um velho amigo me contou que o seu sapateiro oferecia um furo no cinto a quem mandasse colocar meias solas, não resisti à tentação de recomendar ao meu, que fizesse o mesmo. Nesta altura, com a crise a ser refundada, a recorrência a sapateiros e costureiras está a aumentar exponencialmente. O negócio vai de vento em popa e o meu sapateiro acha que fazer furos nos cintos também vai aumentar a receita. E quem sou eu para o contrariar?! As costureiras a apertar saias, camisas e casacos não têm mãos a medir e nalgumas localidades já se espera mais tempo para ter uma peça de roupa ajustada do que para ter consulta no médico de família.

As botas contudo ficaram ótimas, e já fiz um furo no cinto com um prego e um martelo.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Desgostoso desabafo num dia sombrio

Um dia, quando fazia um exame à caixa dos pirolitos, diz-me o neurologista:
- Agora, não pense em nada.
Dois ou três segundos depois já eu replicava:
- Doutor, não consigo deixar de pensar que não devo pensar em nada.
Como todos sabemos por experiência própria a capacidade craniana tal como um alto-forno ou uma central nuclear não se pode desligar, pois logo de seguida entra em coma e pimba, desfalece para todo o sempre.
Os relatos de alguns comatosos, como é o caso do autor do “Dinossaur Excelentíssimo”, provam que mesmo nessa situação ainda pensam que veem umas luzes ao fundo do túnel, mas que estando de olhos fechados, realmente, todas as visões se passam lá dentro da caixa, a que gosto de chamar caixa dos pirolitos porque havia uma fábrica que os fazia lá na minha terra, e a miudagem partia as garrafas para jogar ao berlinde.
Voltando ao assunto. Ver coisas que não estão no plano da nossa visão é coisa vulgar, como é o paradigmático caso de Nossa Senhora de Fátima. Não tenho dúvidas que os pastorinhos viram a sua figura, e foram sinceros no seu relato do episódio. Contudo, os olhos são apenas o sensor da visão, que de nada servirão para quem está em coma ou a dormir. Dizem algumas pessoas que viram em sonhos o Gualdim Pais em pessoa sentado na tore de menagem do Castelo do Almourol. Viram? Na escuridão da alcova e de olhos fechados? Ah! Ah! Ah! três vezes ah! Ver com as persinas do órgão de visão fechadas? Pois!
Bem, já me perdi! O que eu queria realmente dizer é que quando penso em criancinhas, vejo (vejo?) os meus filhos e depois os meus netos e que nunca, em qualquer momento, salivei com o desejo de os comer assados no forno ou em postas de churrasco.
Inspirado no “Vi, claramente visto” camoniano, afirmo que hoje vejo claramente muitas das nossas criancinhas a irem de manhã para a escola sem o seu pequeno-almoço.
Ou estou a sonhar?

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Racionar racional e insistentemente


Racionar racional e insistentemente
Com a minha idade, pelo amor ao meu país e às pedras da calçada da minha terra natal não posso fugir ao meu destino – aguentar, quanto me seja possível, a imposição desta austeridade. Austeridade, que atinge todos, mais uns do que outros, mas que a maioria paga sem ter contribuído para o maldito défice.

Pessoas que nunca foram passar férias para a Tailândia, Cabo Verde, Iracema ou Seichelles, nunca compraram automóveis, e a maior aventura da sua sacrificada existência foi ir comprar chocolates a Badajoz; gastaram no seu país todo o dinheiro que ganharam e guardaram em bancos nacionais o pouco que conseguiram poupar; gente que não se endividou, que não contribuiu para o buraco do crédito mal parado, é agora colocada no mesmo plano de responsabilidade daqueles que gastam à tripa forra na compra de bens de luxo e passam férias todos os anos nas melhores praias paradisíacas do mundo.
Assim, preso ao meu destino, e vendo esgotar-se o pouco que amealhei ao longo da vida, vejo-me obrigado a traçar planos de poupança ao ritmo das medidas que um servidor do capital internacional atabalhoadamente nos impõe.

 A primeira medida foi cortar com o jornal diário. Caramba, só agora descobri que poupo 24 euros por mês. O Fiat está parado na rua e só é usado para ir ao médico e ao hospital. Há cerca de mês e meio que já não lhe meto uma gota. No supermercado só adquiro marcas brancas. Ficando a salivar ao olhar para os bifes do lombo, comprava de vez em quando uns bifitos da vazia, recomendando ao cortador que não tivessem mais de 100 gramas; a semana passada decidimos, eu e a minha cara-metade, passar a comer paleta de porco que é muito saborosa embora leve algum tempo a cozinhar. O cafezinho da praxe é só depois de almoço. Esta poupança foi surpreendente pois concluí que para além da poupança também adormeço melhor à noite… a maior parte das vezes a ver aqueles fastidiosos programas em que uma quantidade de personagens tenta explicar-nos a situação económica do país.
Por causa da crise fiquei também a saber quanto custa mandar meter meias solas nuns sapatos. Quando vi que era compensador fui logo ao sapateiro com dois pares velhos que já tinha pensado meter no sapatão (não há e não vai haver tão depressa) e… ora faça o favor de lhes colocar meias solas, de preferência anti derrapantes, não vá eu partir uma perna e gastar mais dinheiro na cura do que nas meias solas – disse eu. Conversa puxa conversa com o sapateiro, fiquei sabendo que há duas profissões que ameaçadas de extinção estão hoje em franca ascensão – sapateiros e costureiras. A roupa que está larga ou apertada, o calçado que está gasto ou cambado, já não é substituído. Vai para o conserto. Quando vinha a caminho de casa, a pé, pensava que talvez os amola-tesouras, os ferreiros, os carvoeiros, os latoeiros, as bordadeiras, as cerzidoras, os limpa-chaminés, os relojoeiros, eu sei lá, todas as profissões que o desenfreado mercado de consumo tende a exctinguir, poderiam reflorescer, insuflando-nos uma nova mentalidade menos consumista e mais humanista.

Ocorreu-me esta lengalenga ao estudar as faturas da eletricidade. Tarefa difícil dada a complexidade de números, taxas, potências, preços de vazio e não vazio, impostos especiais, tarifas reguladas, enfim, coisa certamente construída com a finalidade de pagarmos a conta, essa sim, claramente visível, com numeração de tipo maior e a “bold”. Ao fim de três horas de estudo atento consegui decifrar a “roseta”! Fiz então um mapa com as médias de consumo diário em vazio e não vazio. Se calhar muita gente não sabe que no sistema bi-horário o preço do kilowatt é de 0,0778 euros das 22H00 às 8H00 e de 0,1448 euros durante o resto do dia.
Todo este trabalho se devia á extinção das tarifas reguladas que me irá permitir escolher o comercializador que ofereça melhor preço.

 Não vou dizer mais nada. Se ainda não foram ao site www.erse.pt vão, façam a simulação dos vossos consumos médios e depois comparem o que oferecem os fornecedores já existentes.
Acordos explícitos ou implícitos concorrentes para fixação de preços ou cotas de produção, divisão de clientes e de mercados de atuação ou por meio da ação coordenada entre participantes, eliminar a concorrência e aumentar os preços dos produtos obtendo maiores lucros, em prejuízo do bem-estar do consumidor, são cartéis.

Como o cartel é proibido por lei é evidente que ninguém vai infringir a lei pois as coimas costumam ser muito pesadas. Mas lá que parece que pelo menos se reúnem no Gambrino e enquanto bebem Barca Velha, conversam das suas agitadas vidas.

Como não cabem todos ao mesmo tempo o pessoal dos medicamentos vai às segundas, o das gasolinas vai às quartas e agora os eletricistas vão à sexta.
Só há uma maneira de reduzir os custos elétricos: viver como as toupeiras ou como as salamandras.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Medidas à Lagarde


 
Retirando do baralho o Cristiano, o Tiger Woods, o Federer, o Mourinho, o Michael Jordan  e muitos outros artistas pagos na razão direta das receitas geradas pelos espetáculos em que interferem, temos os outros que são pagos pelas organizações capitalistas para sacar o dinheiro gerado por quem realmente produz riqueza.

Gente paga principescamente com a finalidade de gerir e direcionar as finanças internacionais de modo a manter “os escravos” mais ou menos alimentados, saudáveis e conformados enquanto direcionam as mais-valias para os seus fundos pessoais.

Sendo verdade que o senhor Nogueira Leite, recebe anualmente 189.000 euros da CGD onde é vogal, mais 35.000 da EDP e 64.000 da Brisa, perfazendo aproximadamente a quantia 280 mil euros, ainda fica aquém dos 380 mil pagos a Christine Lagarde (323 mil mais 58 mil para as despesas).

Fiquei a saber há relativamente pouco tempo que esta senhora como pivot importante do circuito financeiro mundial, na qualidade de funcionária internacional beneficia de um estatuto fiscal específico que a isenta de impostos.

No patamar nacional, Nogueira Leite, sente-se ludibriado e já ameaçou que se em 2013 lhe tirarem metade do que ganha em impostos, pisga-se para outro lado. Estará a pensar num emprego internacional com isenção de impostos? Ou estará a pensar em viver no Dubai vivendo dos rendimentos acumulados?

Pensando num trabalhador que ganha 500 euros por mês, bastar-lhe-ia trabalhar 1 ano com o ordenado de Nogueira Leite para viver 40 anos sem trabalhar a viver com os 500 euros mensais. É só fazer a conta, como diria o “picareta” falante.

Eis que desce a Moral à Terra para pedir satisfações a Lagarde por ter acusado os gregos de não pagarem os seus impostos e de caminho ajusta também contas com Nogueira por ter andado nos media durante meses defendendo o corte de salários e o aumento de impostos e agora ameaçar fugir para a estranja.

Pois que vá! E vá arranjando instalações condignas para os oficiais de bordo e respetivo comandante, que não tardarão a seguir-lhe o exemplo.

Dizia a minha avó, que era Ribatejana, quando ia à praça e achava o carapau muito caro: “Vão mas é roubar para o Pinhal da Azambuja”

Creio que na Extremadura dirão: Vão mas é roubar para o Pinhal de Leiria.

Nesse tempo os assaltos eram praticados nos caminhos desertos e sombrios, mas a evolução das técnicas e dos costumes refinou os processos e hoje somos atacados por decretos mesmo quando estamos a dormir ou na casa de banho a fazer a barba.

A esferográfica é a arma dos legisladores.

A mesma arma, na minha mão, só serve para assinar o cheque que paga os impostos.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

A Troika e a Chiquinha


“Preso à Chiquinha por uma promessa antiga de casamento, mal me lembrava do compromisso” é a frase de Valdemiro Silveira em “Caboclos” usada por Morais para definir o significado de compromisso. Como sinónimo, o mesmo dicionário, indica: comprometimento.
Valdemiro Silveira, escritor brasileiro, nasceu em 1873 e 1941, período em que o compromisso que se fazia a uma garota para lhe conquistar favores, era de levá-la ao altar. Nessa época, a palavra dada era sagrada e não raras vezes por impossibilidade de cumprimento dava-se um tiro nos miolos. Na cadeia de valores a honra estava num patamar superior de braço dado com a honestidade.

Hoje a honra está fechada numa arrecadação da cave. Já ninguém sabe muito bem o que significa e usam-na a torto-e-a-direito, sem sentido e com muito pouca vergonha.

"Eu pertenço a uma raça de homens que honra os compromissos do País", afirmou esta sexta-feira o primeiro-ministro, Passos Coelho, numa resposta a Francisco Louçã, coordenador do Bloco de Esquerda.
Passos Coelho desceu hoje à cave e foi buscar a honra para justificar que os acordos com a Troika são para cumprir.

E os compromissos que assumiu com o povo português que o elegeu? E as promessas feitas e imediatamente violadas logo que assumiu o poder? Não interessam? Não contam?
Perante o chorrilho de promessas pré eleitorais registadas pelos órgãos de comunicação e que circulam um pouco por todo o lado, nem sequer foi feito um pedido de desculpas ao povo.

A palavra dada à “populaça” é muito menos importante do que o compromisso com o capital internacional que nos usura sem dó nem piedade!
Pétain, por se ter comprometido com os nazis, foi considerado traidor e sentenciado a prisão perpétua.
A.M.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Diz o roto ao nu...


Há quem não possa negar que a responsabilidade do abuso que vem sendo praticado contra os contribuintes é dos dois partidos que se têm alternado no poder, usando o CDS como contrapeso, quando é absolutamente necessário, para formar uma maioria estável. Contudo não deixam de falar violenta e rancorosamente da outra:oposição que nunca poderá governar com base no sistema atual, como se a doutrina política que têm seguido (com pequenas nuances) fosse inquestionável. Entende-se.

No entanto, quando se acusam mutuamente do buraco em que estamos metidos são também muito agressivos, como se o povo fosse papalvo e não tivesse já compreendido que a alternância no poder serve apenas para mudar o elenco.

Durante os primeiros governos constitucionais o Gonçalvismo serviu para justificar o malogro da nossa situação financeira e económica. A partir de certa altura tornou-se ridículo fazer essa invocação, tão abstrusa como Vasco Gonçalves assacar as culpas do estado da nação ao 5 de Outubro de 1143, com a assinatura do tratado de Zamora. Eu, particularmente, perante o esbulho que estão a fazer ao povo começo a admitir que se não fosse o D. Afonso Henriques poderíamos viver bastante melhor.

Leio, incrédulo, que o grupo parlamentar do PS adquiriu novos carros no valor de 210 mil euros. Leio também as críticas desencadeadas por alguns simpatizantes do PSD, CDS  e talvez ainda mais para lá e interrogo-me: - Que carros têm os outros grupos parlamentares? Será que optaram pelo Microcard? Andam de Lambreta como o Mota? Finalmente, tendo a maioria no parlamento, porque não impõem medidas restritivas no que respeita a mordomias inclassificáveis?

Acusar o grupo parlamentar do PS de despudor? - Concordo

Apelidá-lo de “velho entulho parlamentar socialista – Idem

Pergunto:

- Os grupos parlamentares do PSD e CDS são púdicos?
- Ficaria bem chamar-lhes “novo entulho”?

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

A rebaldaria da governação


Os empresários ou alguém por eles criticaram algumas medidas que o governo tomou com a finalidade de diminuir o défice que acabaram por resultar num acréscimo do mesmo.
Falo do aumento das portagens que fez fugir os automobilistas para estradas nacionais gerando receitas inferiores às que existiam antes dos novos preços e do aumento do IVA que levou à redução do consumo, furando drasticamente as perspetivas da governação. Falo de todas as medidas que foram tomadas para resolver o problema das nossas finanças e da nossa balança de pagamentos e resultaram em autênticos falhanços como se o governo não possuísse uma plêiade de consultadorias a quem paga bom dinheiro para mandar fazer estudo do impacto das medidas que tem parido para satisfazer a voracidade da Troica, monstro que só deixará de beber-nos o sangue, quando já não for rentável sugar-nos a última pinga, tal como qualquer mina ou poço de petróleo quando deixa de ser rentável a sua exploração.
Pois bem, rejeitada que foi a TSU e discutidos outros métodos que equivalessem à arrecadação da mesma quantia, que seria de 2 mil e tal milhões e foi parar a quatro mil, segundo os cálculos do governo, resta saber, se tal como antes, aplicadas que sejam as medidas de austeridade anunciadas, a receita para os cofres do estado corresponderá à espectativa da quadrilha de governantes que elegemos para nos salvar do caos.
Uma das medidas propostas pela CIP, na celebérrima reunião do governo com os parceiros sociais, foi a do aumento do tabaco em 30% para permitir a redução da TSU que cabe às empresas em cerca de 7% com o argumento de que o governo iria arrecadar cerca de 500 milhões.
Li algures que o imposto sobre o tabaco (IT) rendeu cerca de 1 milhão e 300 mil euros em 2011. Dum aumento de 30% resultariam mais 390 milhões para o estado e não 500 como tem referido a CIP. Mas, o mais importante é não considerarem uma série de comportamentos subsequentes ao aumento do IT.

1 – Número de pessoas que deixa de fumar
2 – Número de pessoas que passa a fumar de forma racionada
3 – Número de pessoas que passa a comprar tabaco em Espanha
4 – Aumento do contrabando de tabaco
5 – Aumento do número de pessoal para fiscalizar a entrada do produto.
Etc.

Resumindo, e para terminar pois tenho que ir fazer uma sopinha de aipo e cenoura para o jantar, quem quer apostar que no próximo ano o IT será menor que em 2011?

Vale mais prevenir do que remediar


Só sabem dizer mal do governo (por enquanto com letra minúscula) e não lhe apontam uma única medida positiva. É injusto!
Decidem oferecer as vacinas aos velhos com mais de 65 anos e ninguém tem uma palavra de agradecimento para com, pelo menos, o ministro da saúde que vela por nós noite e dia qual Hígia no seu pedestal.
Assim pensava eu depois de ter ouvido a notícia num telejornal, há dias atrás. Contudo, logo no dia seguinte apareceram os farmacêuticos ou os donos das farmácias, vá-se lá saber, a queixar-se de não terem sido avisados previamente e entretanto já tinham feito as encomendas das vacinas para este ano.
- Bem feito! É para não serem gananciosos – pensei eu.
Já tinha posto o problema na beirinha do prato quando ontem fui tomar a bica matinal ao café do meu amigo Jorge e me lembrei de ir à farmácia, que fica logo ali ao lado, para comprar Atarax, pois os malandros dos ácaros incomodam-me mais do que três governos iguais a este.
É nesta farmácia que todos os anos por esta altura vou com a minha cara-metade apanhar a vacina gripal. Por isso, inocentemente, perguntei ao boticário:
- Então, já receberam as vacinas para este ano?
Que estavam encomendadas, foi a resposta.
Daqui, partiu-se para uma conversa onde me foi revelado mais um elemento do caso: as vacinas tinham sido oferecidas porque no ano passado por erro de cálculo, ou por alguma comissãozinha por baixo da mesa, tinham adquirido muito mais vacinas do que seriam necessárias.
- Então, mas a mutação anual dos vírus da gripe não obriga a fabricar novas vacinas que cubram melhor os diversos tipos de vírus? - Perguntei, meio incrédulo.
- Eles querem lá saber disso! Não fazem bem… mas também não fazem mal – disse o farmacêutico.
No caminho para casa vim matutando no assunto e sem querer comecei a deitar lenha para a fogueira, isto é, comecei a juntar outros dados ao raciocínio. A meio do caminho, voltei para trás e retornei à farmácia e pedi que me guardassem duas vacinas logo que chegassem. Tinha decidido jogar pelo seguro (não pelo Seguro porque também não me inspira grande confiança).

Quem sabe, no arreigado anseio deste governo em diminuir o défice, não juntariam às vacinas uma mezinha qualquer para dar cabo dos velhos com mais de 65 anos?

Nota: O uso do termo “colocar na beirinha do prato” refere-se ao tempo das vacas gordas quando se colocava na beira do prato aquilo que não prestava. No tempo das vacas magras, quando havia comer, a gente tinha a mania de colocar na beira do prato o mais saboroso, para comer no fim.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Quem tem medo da justiça?


 
Leio no jornal de 4 de outubro de 2012 que o relatório da Procuradoria Geral da República, relativo ao ano transato, chama a atenção para a falta de meios do Tribunal Constitucional, a quem cabe fiscalizar a riqueza dos titulares dos cargos...
públicos.
Este ingénuo lamento refere apenas a falta de meios e alvitra que a dimensão do gabinete é exígua e enquanto não for aumentada vai ser impossível cumprir esta sua missão.
Numa altura em que a tecnologia informática permite os mais eficazes e diabólicos meios de controlo, bastaria que fosse feita legislação séria, com a finalidade primordial de denunciar e castigar os faltosos. A medida mais importante seria acabar com o sigilo bancário e então uma rede com meia dúzia de operadores seria suficiente para controlar não só as riquezas dos titulares de cargos públicos como também o movimento de capitais para os paraísos fiscais.
Tenho a certeza que os 30% de trabalhadores que recebem o ordenado mínimo não se importariam que lhes vasculhassem as contas e aqueles que declaram apenas o ordenado mínimo e têm outras fontes de rendimento seriam também apanhados na teia.Sugiro, que na dúvida sobre o apoio que tal medida teria dos portugueses, fosse feito um referendo.
Afinal, quem tem medo?
Sobre a fuga de capitais para paraísos fiscais fico a saber que são os grandes bancos privados, como a UBS, o Credit Suisse e a Goldman Sachs à cabeça e de outras instituições como o Bank of America, o JP Morgan e o Ciybank, os principais responsáveis.
Quem foi o vice presidente da Goldman Sachs que hoje, entre nós, continua a “trabalhar” para esta instituição?
O país está entregue em boas mãos!
A.M.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Vejo e não acredito!

Segundo consta São Tomé não acreditou na ressurreição de Cristo até que o viu vivinho da costa. Logo a seguir foi apelidado de São Tomé, o crente.
Eu sou um pouco como São Tomé, preciso de ver para crer, embora saiba que nós vemos através dos olhos e as imagens são contruidas na cachola, facto que poderia ser
testemunhado por quem já sofreu a tortura pelo sono – três dias sem dormir e a gente vê tudo e mais alguma coisa.
Bem, isto vem a propósito, da vacina para os velhos com mais de 65 anos que este ano, graças à bondade do governo vão ser à borliú!
Logo que ouvi a notícia, em vez de ficar aos saltos de contente, dei em magicar que carga de água tinha levado este governo a este ato de benevolência, quando nos tem roubado salários e pensões com o argumento de que temos de reduzir o défice externo, interno e até o galáctico.
Comentando este facto com o Jorge cujo café fica mesmo ao lado da farmácia fiquei a saber que o ano passado sobraram milhões de vacinas dado que foram importadas mais vacinas do que aquelas que foram vendidas, dado que muitos velhotes, preferiram gastar o dinheiro da vacina num pão de centeio, numa bica e num pastel de nata. Estava ele a insinuar, o magano, que a benesse do governo se devia à descarga do estoque de vacinas do ano passado, que como todos sabemos ocupa um espaço que também custa dinheiro.
Segundo me informei, junto de um técnico do ramo, a duração das vacinas é de um ano dado ser o tempo de mutação do vírus, pelo que se não fazem bem também não fazem mal, antes pelo contrário, como se costuma dizer.
Contra minha vontade, pois nesse dia tinha resolvido pensar apenas que não devia pensar em nada, dei em congeminar sobre este assunto. Vejam lá que até admiti que pudesse ter sido sugerido ao Passos Coelho, por algum daqueles conselheiros que lhe foram impostos pelos amigos do peito, que era uma boa altura para inocular 605 forte ou droga similar nas vacinas da gripe para dar cabo dos velhos com mais de 65 anos.
Assim, decidi ficar para o fim e esperar para ver… se os apressados não começavam a cair que nem tordos. Em alternativa, se tiver ainda algum dinheiro disponível vou comprar a vacina na farmácia, que não tendo sido avisada da gratuitidade do Governo já as adquiriu nalgum laboratório. Talvez, dada a concorrência desleal, até façam promoções, como no Pingo Doce.
Vale mais prevenir do que remediar.
A.M.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Ainda o supersónico curso de Miguel Relvas


Como já se esperava a Procuradoria-Geral da República arquivou a averiguação preventiva ao modo como Relvas obteve a licenciatura na Universidade Lusófona, em Lisboa.
Pelas justificações que o próprio apresentou na altura todo o processo seria legal.
Tinha razão. Existe legislação que permite a um maduro bem apoiado frequentar duas ou três cadeiras durante um ano letivo, sair triunfante pela porta grande, com um canudo na mão.
Para trás ficaram 32 cadeiras por frequentar porque alguém “entendeu” que o aluno de ocasião tinha absorvido toda a matéria e só precisava de alguns retoques em quatro cadeiras.
Talvez, por vaidade, nesse dia foi jantar ao Gambrinos, não se esquecendo, como é óbvio, de convidar o lente que assinou a papelada. Nessa noite, mesmo na fase de sono mais profundo, não conseguiu desafivelar a careta em que a comissura dos lábios se arreganha para cima e que normalmente apresenta perante as Cãmaras de televisão. Sempre muito sorridente e bem disposto!

Tudo bem, não foram encontrados ilícios criminais, portanto toca de arquivar o processo.
Tudo conforme… como manda a sapatilha!
E agora? Arquivado que foi este processo, fica tudo na mesma?

Não se justificaria legislar eliminando definitivamente crivos camuflados por onde outros Relvas possam passar no futuro?
Claro que não! É imperioso que as leis contenham uma pequena abertura, que explorada por quem as elabora de moto próprio ou por encomenda, possa alcançar lugares de poder que nem uma “Beautiful mind” consegue por muito que se esforce.

Por isso, a populaça a que se refere o valente polido, estará eternamente sujeita a sofrer na pele e na carne os malefícios de decisões e determinações decretadas por “stupid minds”.
É o nosso fado!

PS - Por onde terá entrado o diploma de Relvas?

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Prefiro o pior Dão ao melhor Borges


Existiu um Manuel Borges (por acaso Carneiro), magistrado e político que morreu em Cascais em 1883, na prisão, por causa da Vilafrancada, depois de ter sido um defensor do liberalismo desencadeado em 1820.
Havia um Borges que, à medida que foi ficando cego, se tornou mais lúcido e imaginativo. Foi Jorge Luís Borges escritor e poeta argentino que morreu em 1986, na Suiça.
Há um Paulo Borges que escreve umas coisas, é presidente da União Budista e do Partido pelos Animais e pela Natureza. (Não me esquecerei de um dia destes o interrogar sobre a tradição da tauromaquia em Portugal).
Há um Borges solicitador, outro músico, outro designer e um fadista. O Borges da Remax também consta dos catálogos consultados.
Existem Borges para todos os gostos.
Nós também temos um. Não é o Manuel, liberal condenado à prisão pelos miguelistas; que me conste não é cego e muito menos cultiva a lucidez; não é budista e o marialvismo ressuma da sua transpiração cutânea; não é solicitador e não canta o fado.
Talvez tivesse sido conselheiro da Remax onde conseguiu o treino necessário para hoje ter o poder de vender Portugal a retalho.
Consultando o seu currículo, ficamos a saber que se estabeleceu nos EUA em 1976 onde obteve os graus de mestre e doutor em economia. Em 1980 foi docente em França no INSEAD. Depois foi vice governador do Banco de Portugal lecionou na Universidade Nova, donde passou para a administração do Goldman Sachs, Citybank, BPN Paribas, Petrogal, Sonae, Jerónimo Martins, Cimpor e Vista Alegre.
Porra! Perante tal currículo, tanto conhecimento, tanta desenvoltura, tanta sapiência, quem é que se atreve a duvidar que a TSU seria como uma mina de ouro no Alentejo ou meia dúzia de poços de petróleo em Peniche, para já não falar do petróleo do Beato?
Não são apenas os empresários deste país que são ignorantes.
Há, neste momento, um país inteiro a não compreender que força, que poder “divino” ainda mantém este Miguel de Vasconcelos como conselheiro de estado.
Este Miguel e o outro Dr. Miguel devem voltar para os EUA no primeiro avião. Terão certamente uma boa reforma pelo contributo que deram para ajudar a economia americana. Merkel suportará uma parte da contribuição para os agentes que cumpriram a preceito todas as técnicas estudadas e recomendadas para que a Alemanha tenha um crescimento positivo e um baixo nível de desemprego.
Pela parte que me toca já comecei a fazer as malas para embarcar… para o outro mundo, onde tentarei organizar-lhes uma boa festa de receção quando chegar a sua altura, que pelas macabras e amarelentas fisionomias não demorará muito tempo.
Inté!