… sou eu mesmo e com todo o propósito.
Depois de uma infância na província onde ter um ou mais cães era vulgar, mas em que as técnicas para despistagem de parasitas, tanto internos como externos, eram pouco eficientes, fiquei “vacinado” e depois do meu grito do Ipiranga que fez chorar muitas lágrimas a minha mãe, não voltei a tê-los à minha responsabilidade.
Não porque goste menos deles, mas porque não dispunha de tempo para respeitar os cuidados que eles merecem.
Quando nasceram os meus filhos o problema recolocou-se. A partir dos cinco ou seis anos de idade eles começaram a pressionar o pai:
- Ai que cãozinho tão lindo!
- Posso ficar com este?
- Oh mãe diz ao pai que a gente gostava de ter um.
- Tomávamos conta dele!
E eu lá ia resistindo conforme podia às pressões dos garotos. Que davam muito trabalho. Que a sua manutenção custava muito dinheiro. As doenças, os veterinários, os sacos de comida…
Quando inauguraram um dos primeiros centro comerciais da região, diz-me a minha mulher:
- Gostava de lá ir. Até podíamos almoçar por lá
Um belo dia, calhando, lá fomos e levámos os miúdos.
Só havia três lojas a funcionar. Todos os outros espaços ainda estavam para venda.
Por azar, julgo eu, porque nunca consegui provar que tenha havido conluio, uma delas era loja de animais, onde meia dúzia de pássaros, dois gatos e três cães compunham o estoque.
Quando dei por mim já vinha a caminho de casa e os dois pequenos lá atrás com o cachorro ao colo, desfrutando de mais alguma coisa do que da posse do bicho. Pelo menos foi o que me pareceu.
Quando chegámos já tinha nome. Era o Crapaud. Durante o percurso já tínhamos decidido democraticamente através de concurso de sugestões. Ganhei eu.
Como podem ver pela fotografia que junto, a sugestão foi-me dada pelas suas fuças.
Afeiçoei-me ao Crapaud, como não podia deixar de ser e lá começaram os trabalhos:
Vacinas, desparasitagem, embalagens de comida e até um osso falso para ele afiar a dentuça. Era muito provocador com os outros cães e um dia aproveitando o portão aberto foi-se meter com dois pastores alemães que passavam na rua. Os tipos não eram para brincadeiras, perseguiram-no e deram-lhe dois esticões no cachaço que ficou paralisado dos quartos traseiros. Tinha ficado com duas vértebras fendidas segundo o veterinário que o socorreu. No dia seguinte pôs-se de pé e ali ficou sem dar um passo.
Imediatamente percebi que queria ir à rua fazer aquilo que mais ninguém conseguiria fazer por ele, dado que era muito asseado e quando precisava punha-se com o nariz encostado à porta da rua até que alguém a abrisse.
Então, construí uma padiola. Colocava-a ao seu lado no chão, ele subia muito devagar para ela e eu e o meu filho transportávamo-lo para o quintal onde com a mesma lentidão procedia à sua higiene. Regressava pelo mesmo caminho e pelo mesmo processo.
Passados mês e meio já estava a andar normalmente e só nos invernos tinha crises que lhe tolhiam os movimentos pelo que era preciso tomar analgésicos.
O pior foi quando começou a ficar velho.
- Ai que cãozinho tão lindo!
- Posso ficar com este?
- Oh mãe diz ao pai que a gente gostava de ter um.
- Tomávamos conta dele!
E eu lá ia resistindo conforme podia às pressões dos garotos. Que davam muito trabalho. Que a sua manutenção custava muito dinheiro. As doenças, os veterinários, os sacos de comida…
Quando inauguraram um dos primeiros centro comerciais da região, diz-me a minha mulher:
- Gostava de lá ir. Até podíamos almoçar por lá
Um belo dia, calhando, lá fomos e levámos os miúdos.
Só havia três lojas a funcionar. Todos os outros espaços ainda estavam para venda.
Por azar, julgo eu, porque nunca consegui provar que tenha havido conluio, uma delas era loja de animais, onde meia dúzia de pássaros, dois gatos e três cães compunham o estoque.
Quando dei por mim já vinha a caminho de casa e os dois pequenos lá atrás com o cachorro ao colo, desfrutando de mais alguma coisa do que da posse do bicho. Pelo menos foi o que me pareceu.
Quando chegámos já tinha nome. Era o Crapaud. Durante o percurso já tínhamos decidido democraticamente através de concurso de sugestões. Ganhei eu.
Como podem ver pela fotografia que junto, a sugestão foi-me dada pelas suas fuças.
Afeiçoei-me ao Crapaud, como não podia deixar de ser e lá começaram os trabalhos:
Vacinas, desparasitagem, embalagens de comida e até um osso falso para ele afiar a dentuça. Era muito provocador com os outros cães e um dia aproveitando o portão aberto foi-se meter com dois pastores alemães que passavam na rua. Os tipos não eram para brincadeiras, perseguiram-no e deram-lhe dois esticões no cachaço que ficou paralisado dos quartos traseiros. Tinha ficado com duas vértebras fendidas segundo o veterinário que o socorreu. No dia seguinte pôs-se de pé e ali ficou sem dar um passo.
Imediatamente percebi que queria ir à rua fazer aquilo que mais ninguém conseguiria fazer por ele, dado que era muito asseado e quando precisava punha-se com o nariz encostado à porta da rua até que alguém a abrisse.
Então, construí uma padiola. Colocava-a ao seu lado no chão, ele subia muito devagar para ela e eu e o meu filho transportávamo-lo para o quintal onde com a mesma lentidão procedia à sua higiene. Regressava pelo mesmo caminho e pelo mesmo processo.
Passados mês e meio já estava a andar normalmente e só nos invernos tinha crises que lhe tolhiam os movimentos pelo que era preciso tomar analgésicos.
O pior foi quando começou a ficar velho.
Não sei se sabem que esta raça de cães, como tem o focinho achatado, respiram muito mal e até ressonam quando estão a dormir, tal e qual como eu próprio desde que engordei um pouco. Por essa razão possuem menos longevidade do que a maioria dos seus congéneres.
Começou a ficar cegueta, e talvez por isso, por preguiça ou cansaço, também muito porcalhão. Deu em andar a encostar-se às pernas das pessoas talvez para chamar a atenção sobre si, ou então para sentir que não estava sozinho dado que também já estava mouco. Pregou duas vezes com a minha sogra no chão, que também algo surda e trôpega tropeçava frequentemente nele. Como minha querida sogra, ainda por cima, sofria de osteoporose ficámos com receio que partisse o colo de um ou dos dois fémures, sabe-se lá, e lá ia ela na mecha parar a uma cadeirinha de rodas que seri inevitavelmente eu a empurrar.
Perante tal conjuntura tivemos que tomar uma opção.
A eutanásia. Do Crapaud, como está bem de ver.
Eu não estou a brincar pois o assunto não dá para isso.
Vocês se calhar, numa situação como a minha compravam outro cão, já velho, cego e ainda mais surdo para, conluiado com o Crapaud, aumentar a possibilidade de dar cabo da velha senhora sobre a qual se contam as piores e mais injustas anedotas.
Eu disse “tivemos que tomar uma opção” mas na verdade ninguém tinha coragem para o levar ao veterinário para uma execução sumária. Com injecção letal, como fazem a humanos nalguns países.
Fui eu que tomei a decisão e portanto sou eu o responsável. Todavia faltando-me a coragem pedi a uma sobrinha nossa para o levar ao veterinário.
Contou-me ela, mais tarde, que o pobre bicho morreu sem dar por isso.
Como eu costumo dizer: quando acordou, estava morto!
Contei esta pequena história por várias razões:
A primeira porque me apeteceu.
A segunda porque me distraiu.
A terceira porque estava muito vento e não conseguia varrer o jardim.
A quarta para evitar responder directamente a provocadores encartados.
A quinta para informar que “entreveniente” é um erro de palmatória daquelas com cinco buraquinhos.
A sexta… Digo? Não digo!
A.M.
PS – O único cão que agora tenho chama-se Dómino e tem-se portado muito bem
Começou a ficar cegueta, e talvez por isso, por preguiça ou cansaço, também muito porcalhão. Deu em andar a encostar-se às pernas das pessoas talvez para chamar a atenção sobre si, ou então para sentir que não estava sozinho dado que também já estava mouco. Pregou duas vezes com a minha sogra no chão, que também algo surda e trôpega tropeçava frequentemente nele. Como minha querida sogra, ainda por cima, sofria de osteoporose ficámos com receio que partisse o colo de um ou dos dois fémures, sabe-se lá, e lá ia ela na mecha parar a uma cadeirinha de rodas que seri inevitavelmente eu a empurrar.
Perante tal conjuntura tivemos que tomar uma opção.
A eutanásia. Do Crapaud, como está bem de ver.
Eu não estou a brincar pois o assunto não dá para isso.
Vocês se calhar, numa situação como a minha compravam outro cão, já velho, cego e ainda mais surdo para, conluiado com o Crapaud, aumentar a possibilidade de dar cabo da velha senhora sobre a qual se contam as piores e mais injustas anedotas.
Eu disse “tivemos que tomar uma opção” mas na verdade ninguém tinha coragem para o levar ao veterinário para uma execução sumária. Com injecção letal, como fazem a humanos nalguns países.
Fui eu que tomei a decisão e portanto sou eu o responsável. Todavia faltando-me a coragem pedi a uma sobrinha nossa para o levar ao veterinário.
Contou-me ela, mais tarde, que o pobre bicho morreu sem dar por isso.
Como eu costumo dizer: quando acordou, estava morto!
Contei esta pequena história por várias razões:
A primeira porque me apeteceu.
A segunda porque me distraiu.
A terceira porque estava muito vento e não conseguia varrer o jardim.
A quarta para evitar responder directamente a provocadores encartados.
A quinta para informar que “entreveniente” é um erro de palmatória daquelas com cinco buraquinhos.
A sexta… Digo? Não digo!
A.M.
PS – O único cão que agora tenho chama-se Dómino e tem-se portado muito bem
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