quinta-feira, 5 de março de 2009

Os usos e os costumes

Ainda me recordo do tempo em que eu e o meu irmão registávamos alguma terminologia usada pela minha avó que classificávamos de autênticos disparates. Muito mais tarde quando confrontamos o registo com o dicionário-tira-teimas, fomos obrigados a fazer um acto de contrição.

Claro que quando ela dizia que o café parecia água-chilra a gente percebia muito bem o que ela queria dizer, mas não sabíamos que chilra significava insípida.
Alguém hoje usa esse termo para dizer que o café está fraco?

Se o meu avô ainda escrevia pharmácia quando na escola já me ensinavam que devia ser farmácia, isso não me admirava muito dado que por cima da porta da botica, lá na minha terra, ainda estava gravado Pharmácia. É verdade que o meu avô já tinha abandonado alguma da sua aprendizagem escolar, como por exemplo, appetite, systema, apparelho ou succinto, o que prova que se foi adaptando aos acordos ortográficos que à sua revelia se foram fazendo e posso garantir que nunca lhe ouvi um protesto.

Se durante todo o nosso quase milenar percurso histórico tivessem existido prophetas que com o mesmo empenho daqueles que hoje procuram travar a aplicação do último acordo ortográfico, desenvolvendo theorias bloqueadores que resistam a qualquer cyclone reformador, (mesmo que só da língua), ainda estaríamos no “latinório.”

Se passados tantos annos ainda se continuasse a escrever columna eu nunca teria sido obrigado a aprender que tinha dado uma síncope ao “m”. E tal como acontece ás aféreses e às apócopes só existiria para explicar a evolução da nossa riquíssima língua.

Porque se não evoluísse era sinal de estar morta.
Ela mexe, e ainda bem!


Estou francamente ao lado do Movimento Internacional Lusófono que pugna pela aceleração da aplicação do acordo ortográfico.
Recomendo aos adeptos do Movimento Contra o acordo ortográfico que se vistam como o Bocage... por uma questão de coerência.
A.M.

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