sexta-feira, 6 de março de 2009

Ainda o acordo ortográfico


Em abono da verdade não quero deixar de confessar que o tema do acordo ortográfico me foi sugerido por um comentário crítico feito aqui mesmo neste espaço.
Embora o tema voltasse á baila, devido à sua entrada em vigor e também porque reanimou as hostes dos contestatários, encabeçados por Graça Moura, foi a sua observação, caro Caf, que me impulsionou. Foi, digamos assim uma espécie de provocação.

Claro que já calculava que sua crítica não residia numa defesa intransigente da língua tradicional, dado que quem considera a dialéctica um método de análise imprescindível não entra facilmente por esse caminho. Porque, como dá a entender, não devemos deixar de colaborar para “orientar” a evolução no caminho da dignificação do homem e do crescimento harmónico das sociedades.

Assim sendo, só restava o outro argumento, também usado pelos contestatários, do orgulho nacional ferido por moldarmos a nossa vontade aos desejos de países estranhos.
Desde o “Ultimatum” que não via um grupo de portugueses tão indignado.
O Império faliu! Morreu, paz à sua alma.
Nesse tempo Portugal não fazia acordos, estabelecia-os.
E no que respeita à língua, que apesar de tudo lá ia evoluindo, só era preciso fazer adaptações à realidade, de tempos a tempos.
Hoje, se se pretende que o Português seja uma língua considerada no mundo e falada por centenas de milhões de pessoas, temos que fazer acordos e talvez tenhamos mesmo que ceder a algumas exigências dos outros parceiros.
Não basta dizer que foram os brasileiros que nos impuseram todas as regras, é preciso prová-lo.

Mas o meu amigo, apesar de tudo, ainda mostra alguma relutância a um determinado tipo de evolução a que todas as línguas estão mais ou menos sujeitas – os estrangeirismos.
Há quanto tempo usa icebergue, andebol, bateria, bilhar, pudim, queque, bacon, etc, etc, sem se preocupar com o uso de anglicismos.
Está hoje alguém a considerar que alguidar, aljube, almofada, alcachofra ou mesmo oxalá, pelo facto de terem origem árabe foram introduzidas na nossa língua à nossa revelia e contra a nossa vontade?
Por Santiago!
E se de uma garagem sai uma camioneta de cabine aberta que transporta um batalhão, quem se vai dar ao trabalho de contar o número de galicismos?

Claro que nem tudo estará correcto no acordo ortográfico e talvez algumas coisas pudessem ter sido de modo diferente.
Discutir esses aspectos de forma construtiva? Vamos nisso.
Rasgá-lo ou simplesmente ignorá-lo é um disparate que mais tarde ou mais cedo nos sairá muito caro.
Mas isso é outro assunto.
Saudações democráticas,
A.M
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