domingo, 8 de março de 2009

Ainda o acordo ortográfico (II)


Ninguém com bom senso poderá criticar quem, embalado pela força do hábito, continuar a escrever sem obedecer às novas regras acordadas pelos países lusófonos.
Usei o termo "acordadas" em vez de "impostas" porque na realidade o Acordo Ortográfico prevê largo período de tempo para adaptação e nalguns casos até prevê o uso de duas formas como por exemplo aspeto ou aspecto, carateres ou caracteres, receção ou recepção, conceção ou concepção, etc.

O próprio acordo em Anexo II faz algumas considerações que não deixam de ser importantes para compreender as razões da sua necessidade e da dificuldade que existe em fazer uma uniformização total. Inclusivamente, aponta como razão principal para o fracasso dos acordos anteriores (1945 e 1986) a intenção declarada de impor uma unificação ortográfica absoluta.

Para o caso das palavras em que o "c" é abolido como ato, diretot, efetivo, etc., e que muitas críticas tem suscitado porque há quem entenda que é uma subjugação aos brasileiros, convém considerar que já em 1945 se propunha a sua conservação o que para os brasileiros representava a sua restauração dado que já há muito tempo as consoantes mudas ou não articuladas tinham sido abolidas.

Não concordo de forma nenhuma que os acordos sejam geradores de desequilíbrios, como diz Noesis. Os acordos servem precisamente para tentar eliminar os desequilíbrios que já existem. Se não há a possibilidade de se chegar a um acordo que satisfaça ambas as partes os desequilíbrios continuarão a existir, engordando com o passar dos anos até que evoluindo cada uma no seu sentido passem a ter línguas distintas, com direito a tradução e retroversão.

Temendo ser mal interpretado ousaria afirmar que quem se opõe de forma radical ao acordo ortográfico é porque não consegue abstrair-se do momento presente e projectar no futuro as enormes vantagens de um acordo, que mesmo fazendo algumas cedências só pode projectar e elevar a língua portuguesa no conceito das outras nações.

O orgulho é coisa de que todos devemos possuir em doses mais moderadas ou mais exacerbadas em função das circunstâncias. De fato ou de facto se preferis, era muito importante que toda a gente sentisse muito orgulho na atenção, moderação e colaboração que dá aos seus semelhantes, e que reduzisse a chama que alimenta o orgulho sem sentido, individualista e comezinho.

Talvez o mundo fosse melhor.
A.M.

Sem comentários: