segunda-feira, 23 de março de 2009

Virem o disco...


Um grupo de 4 entidades resolveu lançar a iniciativa Portugal é de todos no ano em que se comemoram os 35 anos de Abril de 1974.
Quem estiver interessado em participar deverá lançar ideias sobre três temas:
Reforçar a liberdade
Aprofundar a democracia
Construir uma sociedade mais justa
Ao ler sugestões já apontadas encontrei uma que me fez recordar aqueloutra efectuada no espaço que antecedeu este em que agora nos “digladiamos”.
A proposta é de um técnico de informática que defende a teoria de que os votos brancos deviam ter expressão parlamentar, deixando vago o correspondente número de lugares no hemiciclo.
Eh pá, genial ideia!
Ó pedraensapato, lembra-se da conversa entre voto branco ou voto nulo e do seu receio que os representantes dos partidos, mancomunados, resolvessem aproveitar os brancos para os distribuir entre si?
A ideia deste cidadão era muito boa se pudesse ser levada à prática quanto mais não fosse porque era uma boa maneira para diminuir o número de lugares na Câmara e concomitantemente, diminuir a despesa pública.
Mas como poderiam os representantes dos votos brancos controlar as mesas de voto de modo a evitar a admissível e tentadora vigarice?
Em http://sic.aeiou.pt/online/noticias/pais/especiais/25-abril-portugal-e-de-todos/ podeis participar dando as vossas sugestões e apreciar a imaginação, mas também alguma ingenuidade no modo como o nosso povo analisa o estado crítico em que nos encontramos.
Quanto mais não seja para retirar as peripécias do Benfica/ Sporting do calendário do “Desabafe Connosco”
Eh rapaziada virem o disco… quanto mais não seja para tocar o mesmo.
Bolas!
A,M,

sábado, 21 de março de 2009

Anulação canídea


Ao ler a notícia que uma escola do Texas enjaulava os alunos para que resolvessem disputas entre si, apresentou-se-me imediatamente, não a imagem de uma jaula mas a imagem dum contentor.
Se o caso lamentável dos alunos no contentor serviu para lançar o labéu de racista sobre os portugueses, que poderia eu dizer neste caso?
Nada.
Nada, porque todas as desgraças que existem por esse mundo fora não escolhem sítio para poisar e por mais que qualquer país se tente defender de imprevistos indesejáveis e unanimemente condenáveis, nunca estará completamente imune.

Certa vez, um amigo contou-me que desvairado com o desentendimento e as constantes brigas entre dois cães que possuía, os enclausurou num velho barracão ao fundo do quintal.
Num daqueles fins-de-semana com ponte foi com a família para o Algarve e só quando regressava quatro ou cinco dias depois é que se lembrou dos cães. Mal chegou a casa correu ao barracão e não havia vestígio dos animais.
- Comeram-se um ao outro, não há dúvida – finalizava ele com o ar mais sério deste mundo.

Que terá acontecido aos alunos enjaulados?
Será que o método resultou e se tornaram amigos inseparáveis?
Se tiver resultado digam-me que eu submeto imediatamente o projecto de uma fábrica de jaulas á consideração de uma dessas instituições europeias que disponibilizam o pilim necessário para nos tornarmos empreendedores. *
A.M.
* Vocábulo moderno em substituição do arcaico “empresário”

quinta-feira, 19 de março de 2009

A profilaxia é algum mito?

Às vezes, quando se critica uma coisa, vai-se longe demais e depois procura-se apagar os exageros de forma a torná-la mais credível e consentânea com os objectivos em vista.

Para querer dizer que "a mudança de mentalidades se exige", o Papa não precisava de afirmar que os contraceptivos agravam, repito, agravam, o problema da SIDA.
Toda a gente minimamente informada sabe que o uso do preservativo não é solução única e definitiva para debelar essa doença e que o seu uso tem a mesma finalidade que a recomendação para usar luvas quando se manipula um veneno perigoso - Profilaxia.

Vir dizer que uma coisa estudada e recomendada pela comunidade científica para evitar
a proliferação da SIDA contribua, afinal, para a aumentar, é um autêntico despautério mal pensado e mal medido, dado que aconteceu quando ia visitar uma região onde a incidência dessa doença tem o mais alto nível e onde os meios para a combater são mais escassos.

Se o Papa tivesse pensado na quantidade de tabus religiosos que a Igreja teve que esquecer ou remendar por efeito das descobertas científicas, não teria ido, certamente tão longe na sua crítica.

Bastaria que tivesse parado logo após ter dito que “os preservativos não estavam a ajudar na luta contra a SIDA.
Mas foi mais longe, afirmou que “pelo contrário aumentam o problema”.

Falta explicar porque razão o problema cresce.
Por ventura os preservativos em vez de preservarem a contaminação pelo virus preservam a aplicação de outras medidas como a muito falada e pouco desenvolvida mudança de mentalidades?

Talvez não saibam ler as instruções que os acompanham e estejam a usá-los de forma deficiente, tal como o figurante que ilustra o texto.
A.M.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Guerra colonial


No passado dia 4 de Fevereiro foi apresentado publicamente o novo site da A25A sobre a Guerra Colonial.
Quem esteja interessado em conhecer esse período que para o bem e para o mal deixa uma marca indelével na História do nosso País, não deixe de visitar:
www.guerracolonial.org/

A iniciativa partiu da A25A que recolheu para o efeito alguns apoios oficiais e particulares.
O Site da A25A está também disponível em: http://www.25abril.org/specific/25abril2/index.html

sábado, 14 de março de 2009

Tripas à moda do Porto

Recordo que não gosto de dobrada porque quando tinha os meus 17 anos e estava acampado com amigos no Monte Branco na Nazaré, um dia fomos convidados por um simpático casal de velhotes que conhecemos na praia, para ir almoçar a sua casa, situada no Sítio, lá no alto da falésia, onde D. Fuas esteve em risco de se despenhar. Ele era jornalista do Jornal do Comércio, que se não tivesse a triste sina de muitos periódicos, perfaria este ano a vetusta idade de 155 anos.
Naquele dia, livres da tarefa de cozer batatas e abrir umas latas de conserva, lá comparecemos à hora combinada para o almocinho.
Era a célebre dobrada com feijão que atacámos sem mais delongas logo que a dona da casa, ela própria, nos serviu. Distraído com a conversa, não sei quantas vezes a mulher do nosso amigo, sempre solícita, passou furtivamente por trás de nós para nos voltar a servir. Só dei por isso quando, já mais que saciado, reparo que tenho outra vez o prato cheio.
Sou do tempo das senhas de racionamento de que a malta mais nova nunca ouviu falar a não ser que os pais ou os avós, em vez de terem vergonha de contar aos filhos e aos netos as dificuldade por que passaram repetindo a velha lengalenga saudosista do “antigamente é que era bom” tenham preferido elucidá-los devidamente.

Dadas as condicionantes da época fui educado a não ter mais olhos que barriga o que significa que ainda hoje não gosto de deixar comida no prato.
Assim, perante aquela nova remessa de feijoada, não tive outro remédio senão cumprir a tradição, ou seja limpar o prato mas já sem ânimo para fazer corridas de bicicleta.

As células do organismo devem ter ficado de tal modo saturadas com a “tripeirada” que nunca mais voltei a comer nenhuma.
Talvez um dia volte a experimentar.

Agradeço ao Braga da Cruz que me deu o mote.
Onde?
Foi a frase “ainda diz que é abelha”.

Por isso esta história, que pretensiosamente pretendo que seja uma parábola.
Quem tem a coragem de servir 31 vezes “Magalhães e a memória em ano de eleições" não está com certeza à espera que alguém enfie na boca uma garfada que seja.
E ao contrário da dona de casa simpatiquíssima que nos queria agradar, este empregado de mesa que serve doses maciças do mesmo prato, está, intencionalmente a querer pregar-nos uma indigestão!
Não me importo que em vez de parábola considerem esta história uma lenda urbana.
Fico satisfeito do mesmo modo.
Bom fim-de-semana para todos.
A.M.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Magalhães - Esfola gatos e mata cães!

Custa-me meter a colher neste assunto porque pode dar a impressão que sou adepto incondicional de Sócrates enquanto 1º Ministro responsável por muito do que vai mal neste país. Não tenho absolutamente culpa nenhuma que o tenham alcandorado a tal posto.

Realmente toda a gente vê que a oposição que se considera alternativa de governo não apresenta ideias diferentes daquelas que Sócrates paulatinamente vai implementando e, porque é preciso que o povo saiba que existe, vai ralhando com o governo e criticando ninharias que em nada contribuíram para o estado em que o país se encontra.

Uma pessoa começa a ficar farta que a tomem por parva.
Ainda ontem, um distinto membro da oposição confrontado com o facto de as sondagens continuarem a dar a maioria ao partido do governo responde que as sondagens valem o que valem e nas urnas é que se vai ver.
A “ralé” pese embora a sua falta de formação política, ao ouvir isto não consegue deixar de pensar automaticamente que se as sondagens fossem penalizantes para o PS o mesmo autor se aproveitaria do facto para afirmar com toda a veemência que o Povo estava demonstrando o seu descontentamento.

O PS apresenta um projecto-lei para permitir casamentos Gay? – Vai de malhar no homem! O PS apresenta outro para diminuir o sal no pão? – Toma lá que é para assar!
Foi a Cabo Verde com um séquito exagerado? - Tumba, para aprenderes!
Ah! Foste dar um abraço no Chavez? Devias ter vergonha na cara!

Até o “Magalhães” é usado para zurzir no PM.
Porque o processador é da Intel.
Porque põe os miúdos a catar nos sítios pornográficos.
Porque serviu para fazer propaganda do governo.
Porque se torna obsoleto muito rapidamente.
Porque ainda não chegou para todos os alunos.
Eu sei lá!
A única virtude do Magalhães é ser azul – dizem alguns.

Estava capaz de afirmar que este tipo de críticas contribui definitiva e drasticamente para manter Sócrates no topo das intenções de voto.
Sois vós os culpados.
A.M.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Acordo Ortográfico com dedicatória a Anita


Cara Anita,
Desculpe a familiaridade do tratamento. Elimine por favor o "Sr.", e então o "Exmo." causa-me calafrios.
Para o exemplo/argumento que apresenta cá vai a minha resposta/sugestão:

Quando por evolução normal de todas as línguas os nossos avós ou trisavós foram confrontados com mudanças ortográficas que transformaram palavras até então homófonas em palavras homónimas terão talvez feito a mesma observação que a Anita.
Todavia, Anita hoje já sabe distinguir a diferença entra são (ser) e são (sadio), entre rio (rir) e rio (substantivo), entre amo (senhor) e amo (amar), etc., etc.
Quando tiverem passado tantos anos como aqueles que decorreram entre essa época e o momento presente, os seus netos, Anita, também já não terão dúvidas quanto ao significado de ato que imediata e automaticamente absorverão em função do contexto.
O grande problema é, como já disse anteriormente, fazer uma análise estática sobre um fenómeno evolutivo.
Chamo ainda a atenção para o facto de a única palavra indicada no acordo em que o”c” ou o “p” , por se terem tornado mudos são suprimidos que passou de homófona a homónima é “ato” (acto). Na mesma alínea dão-se também os seguintes exemplos;
Ação, acionar, afetivo, aflição (esta até já se escrevia sem c), aflito, coleção, diretor, exato, objeção, adoção, adotar, batizar, Egito, e ótimo.
Alguma destas lhe vai causar alguma confusão quando escrita ou pronunciada num convívio de amigos?
A título de brincadeira deixo aqui um poema de Teresa Martinho Marques que é um verdadeiro desafio para quem tem dificuldade de apreender contextos:

Rio no rio
Canto a um canto
De madrugada.
Não mato o mato
Semeio a semente
Na terra molhada.
De que me livro
Se ler um livro?
Da solidão.
São como um pêro
Todas as coisas
São como são.
Amo quem amo.
Ao amo obedeço
Sem sentimento.
Quem apaga a vela
E leva à vela o barco?
O vento.
Um sonho mau
Um sonho doce
Para trincar.
No meu quarto
Um quarto de hora
Chega para brincar.
A linha está torta
Torta de laranja
Para saborear.
Meia rota e velha
E só meia hora
Para a remendar.
São tantas as coisas
Que há neste mundo
Que um só dicionário
Não ia chegar…
E certas palavras
Menos egoístas
Não se importam
De as partilhar.

Faço votos para que a minha intervenção tenha conseguido aplacar, mesmo que ao de leve, a má impressão que o Acordo Ortográfico lhe possa ter provocado.
Com os cumprimentos de,
A.M.

domingo, 8 de março de 2009

Ainda o acordo ortográfico (II)


Ninguém com bom senso poderá criticar quem, embalado pela força do hábito, continuar a escrever sem obedecer às novas regras acordadas pelos países lusófonos.
Usei o termo "acordadas" em vez de "impostas" porque na realidade o Acordo Ortográfico prevê largo período de tempo para adaptação e nalguns casos até prevê o uso de duas formas como por exemplo aspeto ou aspecto, carateres ou caracteres, receção ou recepção, conceção ou concepção, etc.

O próprio acordo em Anexo II faz algumas considerações que não deixam de ser importantes para compreender as razões da sua necessidade e da dificuldade que existe em fazer uma uniformização total. Inclusivamente, aponta como razão principal para o fracasso dos acordos anteriores (1945 e 1986) a intenção declarada de impor uma unificação ortográfica absoluta.

Para o caso das palavras em que o "c" é abolido como ato, diretot, efetivo, etc., e que muitas críticas tem suscitado porque há quem entenda que é uma subjugação aos brasileiros, convém considerar que já em 1945 se propunha a sua conservação o que para os brasileiros representava a sua restauração dado que já há muito tempo as consoantes mudas ou não articuladas tinham sido abolidas.

Não concordo de forma nenhuma que os acordos sejam geradores de desequilíbrios, como diz Noesis. Os acordos servem precisamente para tentar eliminar os desequilíbrios que já existem. Se não há a possibilidade de se chegar a um acordo que satisfaça ambas as partes os desequilíbrios continuarão a existir, engordando com o passar dos anos até que evoluindo cada uma no seu sentido passem a ter línguas distintas, com direito a tradução e retroversão.

Temendo ser mal interpretado ousaria afirmar que quem se opõe de forma radical ao acordo ortográfico é porque não consegue abstrair-se do momento presente e projectar no futuro as enormes vantagens de um acordo, que mesmo fazendo algumas cedências só pode projectar e elevar a língua portuguesa no conceito das outras nações.

O orgulho é coisa de que todos devemos possuir em doses mais moderadas ou mais exacerbadas em função das circunstâncias. De fato ou de facto se preferis, era muito importante que toda a gente sentisse muito orgulho na atenção, moderação e colaboração que dá aos seus semelhantes, e que reduzisse a chama que alimenta o orgulho sem sentido, individualista e comezinho.

Talvez o mundo fosse melhor.
A.M.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Ainda o acordo ortográfico


Em abono da verdade não quero deixar de confessar que o tema do acordo ortográfico me foi sugerido por um comentário crítico feito aqui mesmo neste espaço.
Embora o tema voltasse á baila, devido à sua entrada em vigor e também porque reanimou as hostes dos contestatários, encabeçados por Graça Moura, foi a sua observação, caro Caf, que me impulsionou. Foi, digamos assim uma espécie de provocação.

Claro que já calculava que sua crítica não residia numa defesa intransigente da língua tradicional, dado que quem considera a dialéctica um método de análise imprescindível não entra facilmente por esse caminho. Porque, como dá a entender, não devemos deixar de colaborar para “orientar” a evolução no caminho da dignificação do homem e do crescimento harmónico das sociedades.

Assim sendo, só restava o outro argumento, também usado pelos contestatários, do orgulho nacional ferido por moldarmos a nossa vontade aos desejos de países estranhos.
Desde o “Ultimatum” que não via um grupo de portugueses tão indignado.
O Império faliu! Morreu, paz à sua alma.
Nesse tempo Portugal não fazia acordos, estabelecia-os.
E no que respeita à língua, que apesar de tudo lá ia evoluindo, só era preciso fazer adaptações à realidade, de tempos a tempos.
Hoje, se se pretende que o Português seja uma língua considerada no mundo e falada por centenas de milhões de pessoas, temos que fazer acordos e talvez tenhamos mesmo que ceder a algumas exigências dos outros parceiros.
Não basta dizer que foram os brasileiros que nos impuseram todas as regras, é preciso prová-lo.

Mas o meu amigo, apesar de tudo, ainda mostra alguma relutância a um determinado tipo de evolução a que todas as línguas estão mais ou menos sujeitas – os estrangeirismos.
Há quanto tempo usa icebergue, andebol, bateria, bilhar, pudim, queque, bacon, etc, etc, sem se preocupar com o uso de anglicismos.
Está hoje alguém a considerar que alguidar, aljube, almofada, alcachofra ou mesmo oxalá, pelo facto de terem origem árabe foram introduzidas na nossa língua à nossa revelia e contra a nossa vontade?
Por Santiago!
E se de uma garagem sai uma camioneta de cabine aberta que transporta um batalhão, quem se vai dar ao trabalho de contar o número de galicismos?

Claro que nem tudo estará correcto no acordo ortográfico e talvez algumas coisas pudessem ter sido de modo diferente.
Discutir esses aspectos de forma construtiva? Vamos nisso.
Rasgá-lo ou simplesmente ignorá-lo é um disparate que mais tarde ou mais cedo nos sairá muito caro.
Mas isso é outro assunto.
Saudações democráticas,
A.M
.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Os usos e os costumes

Ainda me recordo do tempo em que eu e o meu irmão registávamos alguma terminologia usada pela minha avó que classificávamos de autênticos disparates. Muito mais tarde quando confrontamos o registo com o dicionário-tira-teimas, fomos obrigados a fazer um acto de contrição.

Claro que quando ela dizia que o café parecia água-chilra a gente percebia muito bem o que ela queria dizer, mas não sabíamos que chilra significava insípida.
Alguém hoje usa esse termo para dizer que o café está fraco?

Se o meu avô ainda escrevia pharmácia quando na escola já me ensinavam que devia ser farmácia, isso não me admirava muito dado que por cima da porta da botica, lá na minha terra, ainda estava gravado Pharmácia. É verdade que o meu avô já tinha abandonado alguma da sua aprendizagem escolar, como por exemplo, appetite, systema, apparelho ou succinto, o que prova que se foi adaptando aos acordos ortográficos que à sua revelia se foram fazendo e posso garantir que nunca lhe ouvi um protesto.

Se durante todo o nosso quase milenar percurso histórico tivessem existido prophetas que com o mesmo empenho daqueles que hoje procuram travar a aplicação do último acordo ortográfico, desenvolvendo theorias bloqueadores que resistam a qualquer cyclone reformador, (mesmo que só da língua), ainda estaríamos no “latinório.”

Se passados tantos annos ainda se continuasse a escrever columna eu nunca teria sido obrigado a aprender que tinha dado uma síncope ao “m”. E tal como acontece ás aféreses e às apócopes só existiria para explicar a evolução da nossa riquíssima língua.

Porque se não evoluísse era sinal de estar morta.
Ela mexe, e ainda bem!


Estou francamente ao lado do Movimento Internacional Lusófono que pugna pela aceleração da aplicação do acordo ortográfico.
Recomendo aos adeptos do Movimento Contra o acordo ortográfico que se vistam como o Bocage... por uma questão de coerência.
A.M.

domingo, 1 de março de 2009

Courbet Versus Picasso

No Congresso de 2009 o PS promete legalizar o casamento entre homossexuais.

Embora negue a intenção, é evidente que esta medida tende de modo muito claro a satisfazer uma das reinvidicações dos partidos que se situam à sua esquerda.

Embora algumas vezes as sondagens sejam desvalorizadas pelos partidos toda a gente já se apercebeu da importância que lhe atribuem para fazerem inflectir a sua política no sentido de manter uma base de apoio que lhes permita obter um bom resultado nas urnas.

No caso em apreço embora elas indiquem uma vitória clara para o PS, a maioria absoluta não está assim tão certa, pelo que é preciso piscar o olho à sua esquerda.

Há outros indícios como sejam por exemplo a ênfase dada por Sócrates à nomeação como cabeça de lista para a Europa de Vital Moreira e à referência especial que fez da presença da Associação 25 de Abril
no referido Congresso.



Enfim, é a política em todo o seu esplendor.



Mas porquê as lésbicas?

O quadro de Picasso "Femmes nues à la fleur", pintado há precisamente 38 anos, representa o regresso do lesbianismo da clandestinidade onde se tinha mantido devido às políticas das ditaduras em ascensão a partir dos anos 30, que atribuíam à mulher o fundamental papel de procriadoras e mães.

Mas muitos séculos antes, nas mais diferentes culturas o lesbianismo era figurado tanto na pintura como nas letras sem que isso originasse movimentos de falso pudor como hoje se vê.

Por isso foi potenciado o episódio do quadro de Courbet impresso na capa de um livro de pintura.

Fosse o livro "O Amante de Lady Chaterley" ou "As sobrinhas da Viúva do Coronel" ou até "Lúbricas" de Rabelais, que nunca seriam apreendidos... a não ser que lhe espetassem na capa com a pintura de Courbet, "Sommeil" pintada em 1877 e que é, muito provavelmente, a mais famosa representação de lesbianismo na arte ocidental... porque na japonesa... oh... oh!
Embora sobre o mesmo tema estes dois quadros nunca serão entendidos da mesma forma no que respeita à sua percepção.
Podia o realismo de Courbet chocar alguns populares, mas o surrealismo de Picasso passaria despercebido.
Reparando melhor nos quadros existe ainda uma outra diferença:
Enquanto em "Le sommeil" as "ninfas" estão exaustas (felizes também), Picasso representa as suas com enorme vitalidade.
Mas isto vinha a propósito de quê?
Ah, pois!
Era para propor a Sócrates que mandasse introduzir no curso para polícias uma cadeira de artes plásticas. Não é que haja grande problema com atitudes como aquela da Feira de Braga, mas era bom não dar mais motivos para toda a gente desatar a gritar, durante uma semana inteira, que regressou a censura.
E, com esta medida ganharia votos à esquerda e à direita já que todos aproveitaram para lhe dar no toutiço.
A.M.