quinta-feira, 11 de março de 2010

Da imprensa diária

Seleccionei para hoje dois acontecimentos relatados na imprensa diária.
A última aula do filósofo José Gil e o depoimento de Fernando Pinto.
José Gil por ter dado ontem a sua última aula no Departamento de Filosofia da Universidade Nova de Lisboa.
Fernando Pinto por ter declarado que “fazer uma greve é uma coisa do século passado”.

José Gil entrou definitivamente num circuito mais alargado de leitores quando em 2004 foi publicado o seu livro “Portugal, hoje – O medo de existir”. A sua leitura ajuda a compreender a alma dos portugueses nos dias que correm. Isso é feito de uma forma muito clara, em linguagem acessível e com exemplos sucintos e esclarecedores.
Politicamente tem opiniões controversas como não podia deixar de ser pois critica tanto a esquerda como a direita, o que fica bem expresso na sua afirmação: “Sócrates é chico-esperto, Manuela Ferreira Leite não é líder”. Frase que por si só daria para ocuparmos algum do nosso tempo discutindo de forma construtiva tudo o que se encontra na retaguarda de tal afirmação do Filósofo.

Fernando Pinto é o Presidente da TAP, contratado há já bastantes anos para salvar esta empresa de aviação, a atravessar um momento muito difícil. O seu ordenado causou na altura alguma celeuma e em 2008, quando a TAP pela primeira vez publicitou os vencimentos dos membros do conselho de administração executivo o seu salário base era de 30 mil euros brutos por mês. Durante a sua administração houve períodos de boa recuperação económica, alternados com outros de pior desempenho, como o que se vive no actual momento.
Pressionado pela anunciada greve dos pilotos declarou à Lusa que a greve era uma coisa do século passado.
Imediatamente Carvalho da Silva através do mesmo canal afirmou que Fernando Pinto tinha mostrado a mesma mentalidade do século XIX.
Eis outro tema que nos proporciona diversas vertentes de discussão como por exemplo este:
Se o sindicalismo organizado verticalmente, ou seja por empresa, ao invés de ser combatido, tivesse vingado, não haveria agora sectores privilegiados em relação aos restantes trabalhadores a promover greves que só resultarão (se resultarem) em prejuízo para os restantes e para o país. Não é uma afirmação. É uma questão.

Se todos procurássemos encontrar consensos em vez de catar divergências para, tal como obuses, enviar contra o “inimigo” talvez se conseguisse criar aqui um clima mais ameno.
A.M.

1 comentário:

omitodesisifo disse...

Pois tive a oportunidade de assistir à última aula do professor. Não à totalidade mas à segunda parte "exclusivamente filosófica" como o próprio avisou. E assim entre a percepção "atómica" e a "molar" sobre que discursou durante meia hora recebeu uma enorme salva de palmas de uma assistência heterogénea. Perguntava a mim mesmo (que não bati palmas porque estava a filmar) quantos teriam aplaudido por terem percebido e quantos o teriam feito por não terem percebido absolutamente nada. Quanto a mim que ali fora levado por uma entrevista saída no próprio dia no Público onde afirmava a importância estruturante da Arte na vida social, mas sobretudo pelo livro lido nas férias e onde conclui que "Entre a neurose e a psicose, o português estrebucha" ou aquilo que classifiquei na altura como "um discurso irritante sobre a identidade perdida (ou nunca encontrada) dos portugueses. Irritante porque nos remete para um determinismo psico-social mas também porque dificil de contraditar. Deixa-nos assim de mãos atadas quase incapazes de reagir como um médico que nos diagnosticasse uma doença terminal que nos deixasse antever um fim próximo. Mas também irritante porque muito próxima da realidade do "chico-espertismo" nacional que nos afunda num mar de compromissos e corrupções num "pântano" antevisto por Guterres e onde mareamos desde então.
José Gil precisa de ser revisitado, com tempo. Conseguiu "democratizar" a visão filosófica que tem da sociedade portuguesa e isso merece a nossa atenção,mesmo se o seu discurso não pode ser reinvidicado por nenhuma frente política...