domingo, 24 de janeiro de 2010

Precariedade

Agradeço a vossa participação.
Em primeiro lugar para vos dizer que tendo dúvidas sobre o uso do vocábulo precaridade ou precariedade, dado que ambos são correctos e têm precisamente o mesmo significado, fui “estudar” o assunto.
Transcrevo o que consta em Ciberdúvidas:

“Há na verdade dicionários mais antigos que registam "precaridade". Mas já o Vocabulário da Língua Portuguesa (1966), de Rebelo Gonçalves, só aceitava precariedade, qualificando de «inexacta a forma precaridade». A razão tem que ver com a forma de precário, base de derivação do substantivo: dos adjectivos sufixados com -ário formam-se substantivos terminados em -iedade — precário/precariedade, solidário/solidariedade, hereditário/hereditariedade.” Guiomar Belo Marques.

Achei interessante transmitir-vos esta explicação, esperando que não me levem a mal. Na realidade estou em vias de ficar complexado dada a tareia que costumo levar quando faço qualquer observação sobre a nossa querida e rica Língua.

Indo ao encontro da observação feita pelo nosso amigo Gilfer, que me obrigou a divagar para outras formas de precariedade, principalmente no que respeita ao relacionamento humano, acrescentaria uma outra não menos importante – A saúde.

Qualquer delas, como é evidente, influencia, por exemplo, o rendimento de cada pessoa na função que lhe compete na sociedade onde se insere. Quem tiver uma saúde precária vê-se em palpos de aranhas para produzir o mesmo que outra com a saúde perfeitamente estabilizada.

Mas nós falávamos da precariedade que o investidor/empregador, termo que uso para não chocar ninguém com o termo patrão, deseja ver aumentada, sem que se estabeleça e aponte o nível máximo que pode atingir. O trabalhador, esse, tem que trabalhar sem rede.

Faço aqui um aparte, dirigido especialmente ao trabraga. Eu neste momento não estou a defender nenhum sistema económico, pretendo apenas falar daquele em que vivemos e encontrar soluções, dado que todos concordamos que assim não está bem. Por isso não pretendam bloquear a minha participação com alusões ao socialismo e ao comunismo.

As comparações não servem para justificar qualquer sistema, dado que ambos podem ter defeitos.

Posto isto, e porque considero que a precariedade não pode, nem deve ser discutida isoladamente, dado que existem muitos outros factores a considerar – o relacionamento humano, por exemplo – de que falava Gilfer, gostaria de vos colocar o seguinte exemplo, que procurarei resumir.

Como todos já devem saber trabalhei numa multinacional onde se fabricavam semicondutores. A colocação dos cristais no seu suporte e principalmente as diversas ligações deste, aos pinos respectivos, era feita através de microscópios por operárias que trabalhavam oito horas por dia espreitando pelos orifícios do microscópio.

As crises nos mercados são cíclicas e diversas como todos sabemos. As menos profundas são normalmente anuais. Por isso todos os anos, havia balões. Balão é o termo usado na gíria para definir o despedimento de grupos de pessoas da mesma fábrica.

Mas quando o mercado recuperava era necessário contratar operárias. Assim, muitas operárias que tinham sido despedidas, voltavam à fábrica. Contudo, como a sua admissão dependia de um exame médico, aquelas que já tinham problemas de visão (o mais vulgar era a diferença dióptrica entre as duas vistas) não eram admitidas.

Ou seja quando eram admitidas pela primeira vez viam bem, depois podiam já não servir. Deste modo, possivelmente algumas centenas de operárias ficaram com saúde precária – cá está a precariedade na saúde de que falei antes.

Ora isto passava-se no fim dos anos 60. A precariedade era enorme. Despedia-se por dá cá aquela palha, muitos sectores não tinham sequer contracto de trabalho, e a justa causa era o motivo normalmente usado.

Será este o ponto a que se deve regressar?

A.M.

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