segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Pseudo-pandemia

Pois é, pensei que terminada a dieta, ficava esganado.
Afinal, a gente senta-se à mesa, olha para o comer e... debica.
Conclusão, parece que o espanhol tinha razão.

Entretanto a terra deu mais uma ou duas voltas.
Já o saudoso Costinha, no filme "Cais do Sodré, representando um alcoólico, repetia amiudadas vezes, a propósito de tudo e de nada:
“O mundo é uma bola que rebola e cada volta que dá muda a face das coisas”.
Mais uma série de intervenções, uma data de acusações, sugestões, ideias soltas, enfim, material suficiente para ocupar a caixa dos pirolitos, porque pior do que o estômago vazio, é ter a cabeça com escritos.
Gostaria de pegar em todas as pontas que foram sugeridas.
Todas, menos aquelas que continuam a tender para a comparação, que como disse anteriormente não levam a lado nenhum quando usadas para se eliminarem entre si.
Contrariamente, se partíssemos do princípio que poderia existir uma outra coisa qualquer constituída por aquilo que cada uma tem de melhor e com o objectivo essencial de servir o país, talvez todos pudéssemos ficar mais esclarecidos.
Apetecia-me pegar nalgumas afirmações e sugestões que foram feitas, mas continuo a pensar que o tema precariedade só pode ser discutido depois de resolvidos outros problemas. Tanto assim é que não existe uma regra, chave única, que determine os limites da sua aplicabilidade.
Ainda esta noite fui surpreendido com a notícia de que a Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa, através do seu Presidente Wolfgang Wodarg apresentou uma moção para investigar a eventual existência de conflito de interesses entre a Organização Mundial de Saúde (OMS) e os laboratórios farmacêuticos.
Ele próprio, Exmo Sr. Presidente Wolfgang, declarou que assistiu “ao maior escândalo médico do século”. Calculo que se esteja a referir também ao século XX já que o XXI ainda é uma criança.
A OMS, acusada por este senhor de ter “relações impróprias” com as empresas do sector farmacêutico já veio a terreno tentar tirar o cavalinho da chuva, não vá ele constipar-se. E advoga em sua defesa uma série de lugares comuns, que não convencem ninguém.
A OMS que disse:
Alerta contra a 2ª vaga de pandemia da gripe A.
Manter alerta a nível 5.
A pandemia durará de 1 a 2 anos
Etc.,etc.
Ainda hoje, num hospital, olhava para alguns dos cartazes afixados em paredes e vitrinas, alertando para os cuidados a ter com o H1N1 e dei comigo a pensar que, a verificar-se o facto agora em investigação, talvez ele não seja assim tão mau.
É certo que as empresas farmacêuticas e principalmente os laboratórios que todos conhecemos, foram os principais beneficiários, pelo que serão os principais suspeitos da “inventona”, que lhes encheu os bolsos e os fez atravessar a crise financeira mundial com um sorriso nos lábios, mas também contribuiu para gerar trabalho e logo evitando despedimentos, criando emprego e, para não fugir ao assunto, contribuiu para que naquele sector o problema da precariedade não se colocasse de forma tão determinante.
Ou seja a Pseudo-pandemia também criou trabalho para as fábricas de máscaras, empresas gráficas e de publicidade, de lenços de papel, de anti-sépticos, de sabão, etc,, etc., e até dos telefones que entupiram as redes a ligar para as “linhas de saúde” que se reforçaram e criaram onde não existiam.
Um fartote.

E vai daí, dizem-me agora:
- Este gajo está a baralhar tudo.
Pois estou. Na minha juventude também joguei à batota e nunca gostei de fazer “macetes”.
Prefiro as cartas bem baralhadas.
Depois… toca a jogar que se faz tarde.

Então, poderemos discutir a possibilidade de neste sistema liberal e neo-liberal, nacionalizar, semi-nacionalizar ou apenas controlar de modo efectivo e não para inglês ver, alguns dos sectores de actividade que já aqui foram falados, incluindo este que agora citei e… não foi por acaso.

A.M.


domingo, 24 de janeiro de 2010

Precariedade

Agradeço a vossa participação.
Em primeiro lugar para vos dizer que tendo dúvidas sobre o uso do vocábulo precaridade ou precariedade, dado que ambos são correctos e têm precisamente o mesmo significado, fui “estudar” o assunto.
Transcrevo o que consta em Ciberdúvidas:

“Há na verdade dicionários mais antigos que registam "precaridade". Mas já o Vocabulário da Língua Portuguesa (1966), de Rebelo Gonçalves, só aceitava precariedade, qualificando de «inexacta a forma precaridade». A razão tem que ver com a forma de precário, base de derivação do substantivo: dos adjectivos sufixados com -ário formam-se substantivos terminados em -iedade — precário/precariedade, solidário/solidariedade, hereditário/hereditariedade.” Guiomar Belo Marques.

Achei interessante transmitir-vos esta explicação, esperando que não me levem a mal. Na realidade estou em vias de ficar complexado dada a tareia que costumo levar quando faço qualquer observação sobre a nossa querida e rica Língua.

Indo ao encontro da observação feita pelo nosso amigo Gilfer, que me obrigou a divagar para outras formas de precariedade, principalmente no que respeita ao relacionamento humano, acrescentaria uma outra não menos importante – A saúde.

Qualquer delas, como é evidente, influencia, por exemplo, o rendimento de cada pessoa na função que lhe compete na sociedade onde se insere. Quem tiver uma saúde precária vê-se em palpos de aranhas para produzir o mesmo que outra com a saúde perfeitamente estabilizada.

Mas nós falávamos da precariedade que o investidor/empregador, termo que uso para não chocar ninguém com o termo patrão, deseja ver aumentada, sem que se estabeleça e aponte o nível máximo que pode atingir. O trabalhador, esse, tem que trabalhar sem rede.

Faço aqui um aparte, dirigido especialmente ao trabraga. Eu neste momento não estou a defender nenhum sistema económico, pretendo apenas falar daquele em que vivemos e encontrar soluções, dado que todos concordamos que assim não está bem. Por isso não pretendam bloquear a minha participação com alusões ao socialismo e ao comunismo.

As comparações não servem para justificar qualquer sistema, dado que ambos podem ter defeitos.

Posto isto, e porque considero que a precariedade não pode, nem deve ser discutida isoladamente, dado que existem muitos outros factores a considerar – o relacionamento humano, por exemplo – de que falava Gilfer, gostaria de vos colocar o seguinte exemplo, que procurarei resumir.

Como todos já devem saber trabalhei numa multinacional onde se fabricavam semicondutores. A colocação dos cristais no seu suporte e principalmente as diversas ligações deste, aos pinos respectivos, era feita através de microscópios por operárias que trabalhavam oito horas por dia espreitando pelos orifícios do microscópio.

As crises nos mercados são cíclicas e diversas como todos sabemos. As menos profundas são normalmente anuais. Por isso todos os anos, havia balões. Balão é o termo usado na gíria para definir o despedimento de grupos de pessoas da mesma fábrica.

Mas quando o mercado recuperava era necessário contratar operárias. Assim, muitas operárias que tinham sido despedidas, voltavam à fábrica. Contudo, como a sua admissão dependia de um exame médico, aquelas que já tinham problemas de visão (o mais vulgar era a diferença dióptrica entre as duas vistas) não eram admitidas.

Ou seja quando eram admitidas pela primeira vez viam bem, depois podiam já não servir. Deste modo, possivelmente algumas centenas de operárias ficaram com saúde precária – cá está a precariedade na saúde de que falei antes.

Ora isto passava-se no fim dos anos 60. A precariedade era enorme. Despedia-se por dá cá aquela palha, muitos sectores não tinham sequer contracto de trabalho, e a justa causa era o motivo normalmente usado.

Será este o ponto a que se deve regressar?

A.M.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Sobre a precariedade

Nota prévia: Olá zedasiscas, continuo aqui a conversa a sobre este tema, iniciada no Blogue de AlvesPimenta com uma finalidade - não ser imediatamente empurrado para fora do painel dos comentários, como já aconteceu hoje mais do que uma vez pelos motivos que conhecemos.

Todavia a sua frase sugeriu-me algumas considerações que não consegui suster, feitas de forma propositadamente exagerada, no estilo que já conhece e esperando que não me leve a mal.

De qualquer modo, creio que o sentido não é assim tão fantasioso.
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Então é uma fatalidade!

Assim a modos como: não gosto de morrer mas lá terá que ser.

Mas mesmo neste caso, em que parece não existir maior fatalidade do que a morte, o Homem luta por adiá-la. Trabalha afanosamente para curar as doenças, recomenda dietas especiais, comportamentos adequados, processos variados que têm contribuído para adiar a visita da Parca. E na verdade tem-no conseguido como fica demonstrado pelo aumento da esperança média de vida nos países civilizados e até nos outros.

A precariedade parece definitivamente inevitável.

Caminha-se no sentido CCW.

Um dia atingido o Zénite da precariedade, iniciar-se-á um novo ciclo no relacionamento patrão/empregado, que foi onde tudo começou, desde que existe memória.

O senhor, precisando de empregados (escravos), vai ao mercado onde eles se vendem, abre-lhes a boca para ver a dentuça, apalpa-lhes os músculos e atende muito particularmente aos pés, não vão eles ser chatos. Arremata o preço com o mercador e a partir daí o trabalhador fica com trabalho garantido durante toda a vida, 24 horas por dia, se for necessário. Tem mesa, cama e só tem que lavar os trapos na celha atrás do dormitório comum.

É o cúmulo da estabilidade.

E tudo recomeçará mais uma vez.

A.M.

Trichocereus spachianus

Quando tarbraga apareceu com o pseudónimo de Cactus fiquei especialmente agradado com a escolha feita.

Também gostei da frase em rodapé: “Se picam porque os coleccionamos?”

Na verdade nem toda a gente simpatiza muito com eles, principalmente quando são do tipo do Trichocereus spachianus, representado na figura.

Efectivamente não ataca ninguém, apenas se recomenda que o manuseiem com cuidado evitando gestos bruscos que colidam com os seus espinhos.

Não se pode dizer que seja um coleccionador daqueles que passa muito tempo a cuidá-los, preocupado com as variedades que requerem uma atenção especial, mas ainda assim possuo muitos. Todos os anos, depois do Inverno, envaso os rebentos, pelo que se vão multiplicando, ao ponto de ouvir recriminações da minha mulher: Já não posso com tantos vasos; para que queres tu tanta “cataria”?

Todos os anos penso em fazer uma limpeza geral e mandar a maior parte deles para o lixo, ficando apenas com ou dois do mesmo tipo, todavia na altura própria não consigo, pelo que se vão multiplicando exponencialmente. Não posso adiar mais tempo, em Fevereiro ou Março vai ser uma mortandade!

Para sermos precisos devemos dizer que os cactos não picam ninguém, nós é que nos picamos neles. Nunca nenhum cacto correu atrás de mim para me picar. Instalados nos seus vasos e canteiros nem sequer se atiçam contra as visitas.

Já não simpatizo tanto com quem armada em cacto não deixa de me perseguir por todo lado para me dar picadelas. Por acaso não fazem sangue, mas requerem que a gente se vacine para que não se nos pegue a maleita.

Gaita, assim não vale

A.M.

PS. Já agora uma pergunta: Porque razão escolheu Cactus como pseudónimo, tarbraga?


quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Ajuda-te

Se o aconselhamento resolvesse tudo não haveria por certo tão maus filhos.
Filhos que não ligaram à educação que seus pais lhe deram e se transformaram em autênticos criminosos. A maioria dos que estão presos não seguiu certamente as honestas pisadas dos seus ascendentes e estes, por sua vez, não abandonaram os seus filhos nas prisões.

Vem isto a propósito do falso argumento utilizado para me invectivarem do piorio pela razão única de eu não aconselhar dois amigos a moderarem a linguagem que usam contra alguns personagens deste espaço, que eu não sei quem são mas que acredito existirem algures.
Se a razão fosse apenas essa o problema estaria resolvido, dado que já por diversas vezes, condenei publicamente esse procedimento, dirigindo-me directamente aos dois amigos em questão, tanto aqui, como pessoalmente, quando nos encontramos.
Inclusivamente já lhes pedi que não respondessem a provocações tentando provar-lhes que seria a melhor maneira de melhorar a habitabilidade do “Blogues do Leitor”.
Eles confirmarão, certamente, que essa tem sido sempre a minha atitude.

Mas quem me acusa de falso e hipócrita pretendia que eu fosse mais longe do que o simples aconselhamento. Também queria que eu rompesse com esses amigos e me juntasse ao seu coro, cuja letra, em larga medida usa o vocabulário que eu rejeito nestas circunstâncias.
Ou seja, pessoas que eu não conheço, não sei quem são, ou até se existem, exigem-me que expulse das minhas relações pessoais os seus próprios inimigos.
Isso não tem cabimento em nenhum lado e muito menos num espaço como este.

Como é evidente não posso transcrever num espaço público, sem o risco de transformá-lo numa praça de peixe, as conversas que tenho com pessoas reais.
Por essa razão estarei à disposição para me encontrar com qualquer um dos queixosos para falar deste assunto e provar que não sou tão hipócrita como me julgam.
Devem saber onde moro, sabem o meu endereço electrónico, portanto façam o favor de se apresentar.

Caso contrário, como já tinha pedido, façam o favor de me ignorar.
Muito agradecido,
A.M.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Minudências

Apesar de Eça de Queiroz ser, sem dúvida alguma, um dos mais biografados de todos os nossos escritores, a sua vida parece reservar ainda alguns segredos.
Embora a sua naturalidade e filiação sempre tenham gerado alguma polémica, tem, contudo, havido alguma contenção, talvez por respeito para com a família, que se costuma indignar quando se toca neste assunto.
Há meia dúzia de anos, José Hermano Saraiva tornou pública a sua interpretação que alterou radicalmente as genealogias conhecidas de Eça de Queiroz. Pelo facto de no registo do seu nascimento constar que é filho de José d’Almeida Teixeira de Queiroz e de mãe incógnita e, baseado na lei vigente em 1845 e ainda na consulta feita a ilustres magistrados, conclui que a omissão do nome da mãe só poderia significar que Eça de Queiroz era filho de uma senhora casada.
Para se abordar um tema deste tipo é necessário ter formação adequada e fazer muito trabalho de investigação. A um leitor apaixonado por Eça, como eu, apenas resta tomar conhecimento daquilo que se vai escrevendo sobre um dos maiores vultos da nossa literatura. Por vezes deparamos com informação que nos intriga e que dada a nossa insipiência, gostaríamos de partilhar com pessoas entendidas na matéria, para nosso completo esclarecimento.
Foi o que aconteceu.
De vez em quando, respondendo a um apelo interior, meto-me a caminho e faço uma expedição pelos alfarrabistas. Não procuro nenhuma edição em particular, nem sequer tenho um objectivo concreto. É um ritual que cumpro, olhando, apalpando e avaliando calhamaços, sem outra intenção que não seja o desfruto do momento, já que os preços são, normalmente proibitivos para a minha bolsa.
Numa dessas deambulações, encontrei-me certo dia, embasbacado, a olhar para os livros expostos numa daquelas barraquinhas verdes que existem sob as arcadas daPraça do Comércio. O proprietário, que conheço há muitos anos de outras andanças, disse-me:
- Podes mexer á vontade! E o preço é para amigos, como já sabes.
O meu irmão, que me acompanhava, já folheava este e mais aquele, ainda eu fazia uma leitura em diagonal da mercadoria patente.
“Ramalho Ortigão, Memórias do seu Tempo”, foi o título em que me fixei. Júlio de Sousa e Costa era o autor.
Não é possível – pensei.
Era uma edição da Livraria Romano Torres o preço de capa era de 15 escudos. Paguei 5 euros dos oito que estavam marcados na primeira folha.
O livro é meu!
Júlio de Sousa e Costa não publicou obra de vulto, que o consagrasse, não sendo portanto, figura de relevo no panorama literário nacional. Era contudo um homem muito culto, que mereceu o respeito das gentes da sua terra. Tomei dele lições de inglês num determinado período da minha juventude e pude confirmar algumas das “extravagâncias” que lhe assacavam e acabaram por fazer parte intrínseca do seu retrato psicológico.
O autor estrutura o livro do seguinte modo:
Deslocando-se a Lisboa com frequência por dever de ofício, visita regularmente Ramalho Ortigão que lhe fora apresentado por um amigo comum. De 1895 a 1915 mantém uma amizade constante, segundo as suas próprias palavras. Das conversas travadas durante esse período, ele nos dá testemunho neste livro.
Não me pronuncio sobre a veracidade do que ali nos é transmitido, mas é sem dúvida um óptimo documento para quem, como eu, se interessa pelas coisa e pessoas da nossa terra natal.
Dos diálogos travados com Ramalho, só quero referir aquele que se refere ao animismo.
Este assunto veio à baila porque a determinada altura o autor de “Holanda” lhe disse:
- Claro está, que você não deixou de visitar os seus amigos e grandes bruxos, entre os quais avultam o Fernando Lacerda, das polícias lisboetas e o Sousa Couto do Ministério da Justiça!
Júlio Costa confirmou e aproveitou para transmitir um recado que o Dr. Eça de Queiroz lhe enviara do Além, através da pena de Lacerda que como extraordinário médium que era, psicogravara a mensagem. Depois de lida, Ramalho, não querendo questionar a honorabilidade dos intervenientes, deixou, contudo, transparecer algum cepticismo.
- “Duvida, senhor Ramalho Ortigão?...”
- “Cheguei à idade em que já não se duvida de coisa alguma!... O que acaba de ler é extraordinário, e, confesso-o, só Eça de Queiroz seria capaz de o traçar.”
Do espiritual recado de Eça, apenas transcrevo esta sua experiência terrena:
- “Quando na Terra tive ocasião de assistir a experiências que interessaram muito o meu cuidado de observador. Em Paris, um dia, efectuou-se uma sessão em minha casa a que assistiram entre outros, o Navarro e o Faria; ali obtivemos notícias que pareceram autênticas de pessoas idas”.
Para provar esta querença queirosiana, Júlio Costa refere uma passagem do admirável livro póstumo “A cidade as serras” em que aparece o nome do Coronel Dorchas, que o meu conterrâne diz ser o Coronel Albert de Rochas, grande animador desta doutrina, com quem Eça se terá cruzado na capital francesa.
E a conversa termina com Ramalho Ortigão dizendo:
- “É certo que eu tenho uma ideia de ele me ter falado em Paris, de teosofia, esoterismo e metafísicas diversas, e muito convencido de que a morte não é o ponto final… Eça, tinha por vezes, uns saltos, manias, apreensões e ratices engraçadas, das quais, por fim se ria e comentava com imensa graça… a sua graça especial”.
Que valor merecem estas referências, feitas por um autor que só na sua terra é realmente reconhecido? Poderão acrescentar ou modificar alguma coisa do conhecimento que temos do nosso muito querido Eça?
A.M.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

As diferenças

Este é o Mário de Sousa de que poderíamos aqui falar com orgulho. Este é o Mário de Sousa que apenas é cientista. Não é engenheiro de nada, nem presidente de coisa nenhuma nem projectista dos jardins da Babilónia.

Ele é, simplesmente um dos mais conceituados cientistas do mundo na área da procriação medicamente assistida, a quem centenas de casais inférteis agradecem o usufruto de uma vida com filhos.

Estoutro, é o Mário de Sousa, a quem a ciência ainda não conseguiu atribuir uma ordem. Tudo indica que é um ser especialíssimo, pelo que não se virá a integrar em nenhuma das já existentes. A Academia das Ciências lançou um concurso público para encontrar um nome que o possa caracterizar. O vencedor receberá um prémio pecuniário em que se inclui uma visita ao Pinheirinho, no ponto mais alto da cidade do Porto, além de uma viagem de 15 dias à Tailândia com massagens incluídas.

Acontece, que para além do abismo técnico entre o cientista e o engenheiro há um extenso mar a separá-los, quanto ao comportamento em sociedade.

Do primeiro apenas transcrevo uma pequena parte das palavras de uma sua paciente:

Não tantas vezes como seria desejável, surgem pessoas como o Professor Mário Sousa, maiores que a vida. Penso que é a pessoa mais humana, mais caridosa e mais humilde (não obstante o seu reconhecido brilhantismo) que alguma vez conheci. Aliás, conhecê-lo é uma experiência marcante: apercebemo-nos imediatamente que estamos perante alguém especial.

Quanto ao segundo ainda não se pode dizer nada enquanto não for estabelecida uma ordem que corresponda às sua características. Dessa decisão resultará o seu internamento. Num manicómio ou num zoo.
A.M.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Deixem-se de lérias

Se o caminho da nossa salvação como país independente passa por se perder tanto tempo com factos e episódios que em nada contribuem para resolver os problemas mais graves, como o desemprego, a despesa pública, o défice, a educação, a saúde ou a justiça, então, estaremos definitivamente condenados.

Neste momento está na ordem do dia o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
O governo pretende levar à prática esta medida do seu programa e uma parte da oposição pega nesse facto e faz dele um cavalo de batalha, tentando impedir a sua aprovação no parlamento.
A oposição critica o governo por estar a perder tempo com coisas sem importância em vez de resolver problemas mais graves, mas, ela própria, bloqueia a discussão de temas essenciais, promovendo uma campanha nacional contra uma insignificância.

Se alguma vez vier a ser feito algum referendo nacional sobre este tema, pela primeira vez, depois do dia 25 de Abril, não votarei.
Quero lá saber se o meu vizinho é casado com o tipo que vive lá em casa!?
Que me importa a mim que a minha prima Mariquinhas seja casada com uma enfermeira do hospital S. José!?
Entrámos na EU. Fizemos, por acaso, algum referendo?
E sobre a moeda única, fizemos?

Se a forma de governo de um qualquer país passa por referendar toda a legislação produzida, que se faça da Assembleia Nacional uma casa de espectáculos ou, arrasando-a, se venda o espaço para um qualquer pato bravo que ali se proponha construir um arranha-céus.
Teremos assim, uma democracia directa, mesmo directa.
O povo, poderá então pronunciar-se, por exemplo sobre os privilégios dos políticos, dos directores dos institutos, do TGV, das pontes, dos aeroportos e auto estradas e porque não sobre o sigilo bancário, também.

A igreja, ou alguém por ela, já recolheu (dizem) 80 mil assinaturas para exigir um referendo sobre se o meu vizinho pode, ou não pode, casar com o seu companheiro.
Será que a moral do país ficará afectada porque a minha prima se casou com a enfermeira?

Deixem lá de chatear o Sócrates por causa disso.
Passem à frente e tratem daquilo que, como afirmam, é essencial para o país.
A.M.

sábado, 2 de janeiro de 2010

A.M. Poesia de cordel

Peço desculpa ao Figas, Luarafricano, Estilista, Omito e aos demais poetas encartados deste Blogue, pela incursão numa área que a minha insensibilidade poética me devia impedir.

Mas caramba, uma incursãozinha no septissílabo ninguém me vai levar a mal. Ou vai?

Falaste das leituras da Maitê?
Deste o mote.
Ora toma!

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Quando estava deprimida
Descontente e ansiosa
Foi tomar um comprimido.
Pôs-se a ler o Regicida
Mas desgostou-se da prosa.
Veio de lá o Camilo
Com seu bigode assanhado:
Julgas que a prosa é ao quilo?
Vai mas é p’ra outro lado!

Veio Bocage a seguir
Trazia um livro na mão:
Não te quero confundir
Nem provocar decepção
Mas gostava de te ler
Dum soneto esta parte
Que te vai enlouquecer
Ou provocar um enfarte.

E leu:

Arreitada donzela em fofo leito
Deixando erguer a virginal camisa,
Sobre as roliças coxas se divisa
Entre sombras sutis pachacho estreito.

Quem quiser que dê seguimento…
A.M.