Agora sim, lembro-me de um episódio da minha juventude que me causa muito arrependimento por me ter conluiado com mais uns quantos camaradas para fazer rir a todo o custo um colega nosso, que tendo sofrido um acidente de motorizada tinha um golpe enorme na face que terminava na comissura dos lábios. Toda a distensão que vai de :) a :( provocava-lhe enormes dores dado que os agrafes que suturavam a ferida lhe repuxavam os bordos do corte. Era uma espécie de suplício de que nem os deuses se lembrariam quando sentenciaram Tântalo.
O pobre coitado, a quem a anedota mais sem graça fazia redobrar a gargalhada, bem tentava, com os dedos, segurar os músculos que reflexamente tendem a responder ás variações do nosso humor, estendendo-se, encolhendo-se e retorcendo-se. Mas qual quê? A solução era dar corda aos sapatos e fugir para bem longe, onde não chegasse o ruído das nossas provocações.
Dei agora conta que os músculos mais susceptíveis a contracções são os abdominais, especialmente o recto abdominal. Qualquer ferida naquele sítio impede-nos de rir, de tossir e espirrar rebenta os pontos e faz saltar a tripa.
Com o frio que nos tem flagelado entrei de quarentena para evitar espirros e ataques de tosse e até mesmo calafrios.
Quanto ao riso, o meu recto abdominal absorve-o muito eficientemente desde que ria suavemente assim do tipo cachorro Mutley.
Tenho treinado muito.
Mas hoje ao ler na primeira página do Público que Armando Vara foi promovido na Caixa quando já estava no BCP, fui atacado por uma insustentável vontade de rir. Serrei os dentes e aguentei.
O pior foi quando li a justificação da administração: “É prática comum do grupo, todos os administradores quadros da CGD, quando deixam de o ser atingem o nível 18 em termos de graduação interna”.
Nessa altura não consegui reprimir duas enormes gargalhadas que me fizeram rebentar os pontos da costura.
Levaram-me para o Centro de Saúde Social onde me remendaram a brecha.
Vou passar a ter mais cuidado.
A.M.
PS – Adivinha com barbas: Qual é coisa qual é ela que antes de o ser já o era?
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