terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Avaliação (2)

O interesse em compreender o diferendo que existe entre a classe docente e o actual Ministério da Educação é a única razão que me leva a interferir neste assunto e nunca me pronunciarei a favor daqueles ou deste sem estar devidamente habilitado a fazê-lo.

Porque já fui avaliado e avaliador em campos distintos do privado e do público gostaria de poder estabelecer comparações e de alguma forma contribuir para uma fórmula que a todos satisfizesse.

Em 1953 iniciei a minha vida profissional como voluntário na FAP. Durante 17 anos fui avaliado pelos meus chefes directos e tive que me pronunciar sobre a capacidade dos meus subordinados. Se alguns deles preenchiam os impressos de avaliação a tinta outros faziam-no a lápis por sugestão dos seus superiores hierárquicos que desejavam ter a última palavra. É certo que esta avaliação não interferia muito com a progressão na carreira e só em casos extremos se era ultrapassado pelos mais modernos. Pelo meio podia haver um curso técnico classificativo que voltava a ordenar a escala em função do aproveitamento de cada um.

Passado esse tempo, desliguei-me do serviço, e fui trabalhar numa multinacional do ramo electrónico. O meu encarregado (chefe directo) procedia à avaliação dos seus subordinados e com base nessa informação o aumento de vencimentos era escalonado e as promoções estabelecidas.

Quando dois anos mais tarde cheguei a encarregado passei a ter que fazer a avaliação dos meus subordinados e verifiquei pela primeira vez que as fichas de avaliação eram idênticas ás que se usavam nas forças armadas, o que não acontecia por mero acaso dado que tinham sido “bebidas da mesma fonte”.

Cerca de nove anos depois regresso à anterior situação ocupando o mesmo posto que tinha quando me desligara do serviço militar.

Entretanto tinha-se dado o 25 de Abril e as coisas já não funcionavam do mesmo modo, embora as fichas de informação (ou avaliação se se preferir) continuassem a ser idênticas.
Cada desempenho tem função valorativa diferente e para cada um deles são estabelecidos seis níveis. Para o desempenho de funções ou gestão de recursos, por exemplo, um 2 (abaixo da média) é o suficiente para não se ser promovido ao posto imediato ou impedido o ingresso num curso de promoção. Por sua vez aspectos como o relacionamento com subordinados ou superiores e a própria apresentação, embora pudessem originar alguns problemas na carreira não impediam a progressão.

Os últimos oito anos de carreira foram passados numa escola militar dirigindo um laboratório de trabalhos práticos de electrónica e dando aulas de disciplinas correlacionadas com a especialidade.
Era sobre esta experiência, talvez por ser a mais recente e já efectuada num ambiente de liberdade que gostaria de me pronunciar.
Ao fim e ao cabo foi uma situação em que fui avaliado e tive que avaliar duplamente: os meus subordinados e os alunos das minhas turmas.
A.M.

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