Preparava-me para fazer um pequeno comentário ao “Liberdade? Justiça?” de Tarbraga quando um inadvertido clique disparou pelos ares uma página em branco que apenas irá testemunhar a minha presença perante o seu trabalho.
O clique, ou se preferirem, o tremelique que originou o acidental disparo não foi apenas determinado pelo nervoso miudinho que algumas dúvidas, sugestões e considerações sobre a Liberdade aqui produzidas me poderiam ter provocado, mas também pela dificuldade na leitura do referido comentário, que aqui fica fotograficamente documentada.
Só não recomendo ao seu autor que mude o tipo de letra ou o seu tamanho porque já me foi dado conhecimento das razões de tal limitação.
1 - O pássaro vivia numa gaiola quando um certo dia, por descuido deixaram a porta aberta. Imediatamente fugiu voando. Contudo, foi tão infeliz que se foi enfiar na boca do gato que dormia a sesta no parapeito da janela.
Vivia privado da liberdade e ao procurá-la perdeu-a por causa de um gato que também tinha a liberdade de o comer.
2 – Uma lebre vive feliz no campo com a sua prole. Para se alimentar vai à horta do Jeremias e toca de escavar para lhe roer as cenouras. Certo dia o Jeremias põe-se à coca de espingarda aperrada e perante o flagrante delito arruma com um balázio na coitada que até lhe fez dar três piruetas no ar.
A dona lebre vivia em liberdade e ao cumprir a elementaríssima função fisiológica que o desejo de sobreviver impõe, perdeu a vida pelas cenouras. O Jeremias, por seu lado, no direito que lhe assistia de defender as suas cenourinhas, não encontrou nenhuma barreira à liberdade de desenferrujar os canos da “bazuca”, que jazia pendurada atrás da porta da cozinha há mais de três anos.
Mas afinal será a liberdade um coquetel composto por diversos ingredientes cuja composição varia à medida do gosto de cada um?
A pergunta justifica-se porque cada um de nós fala da liberdade em função dos valores que estruturam o seu pensamento.
O facto de existirem diversos aspectos, como o económico, psicológico, social, biológico, político, etc., onde a palavra liberdade é invocada para justificar ou condenar uma determinada ideia, opinião ou acontecimento, contribui para a enorme confusão que se gera para determinar o tamanho da liberdade.
Será ela incomensurável? Qual o seu tamanho? Onde começa e onde acaba?
Daí a dificuldade dos filósofos em defini-la.
Li em qualquer lado que o desejo de ser livre é um sentimento profundamente enraizado no ser humano. Os animais irracionais têm o mesmo desejo, por isso o pássaro foge da gaiola na primeira oportunidade e o peixe luta para se libertar do anzol; mas porque esse desejo não é racional chamou-se-lhe instinto.
Por vezes ao ouvir certos desabafos fico alarmado por verificar que o sentimento de liberdade se confunde com o instinto de liberdade.
Tarbraga interroga liberdade e interroga justiça através do relato de uma decisão judicial sobre um determinado acontecimento.
Tomo a meditação que nos aconselha como um aviso para nunca falarmos de liberdade sem termos a justiça presente.
Não tenho conhecimento de que algum assassino advogue a liberdade de matar.
Ou um ladrão, de roubar.
Um aldrabão de ludibriar.
Ou um condutor, de conduzir em contramão.
Ou um corrupto de corromper-se
Ou um laxista, de não pagar os seus impostos.
Mas conheço ordinários que clamam pela liberdade de ofender os seus semelhante e gente mal-educada que pretende que se legalize a má educação.
Para terminar, acrescento ainda que a dificuldade em definir Liberdade levou os estudiosos do assunto a optarem pelo seu plural – Liberdades.
O que, como é óbvio tornou a Liberdade numa soma de liberdades singulares.
Cuidado pois, quando resolverem clamar por LI-BER-DA-DE.
A.M.
PS – Agradeço a Tarbraga o mote, especialmente porque estamos em ABRIL.
1 comentário:
Sempre que vejo a lupa, parto-me a rir... ah ah ah
Só mesmo tu!
Veijios
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