quarta-feira, 8 de abril de 2009

Materialismo versus espiritualismo

Em Setembro de 2008, em França, numa missa para 200mil pessoas Bento XVI disse que “a sede por poder, bens materiais e dinheiro é uma praga da sociedade moderna”.

Se ter sede de bens materiais caracteriza um determinado tipo de materialismo, que não tem a mínima relação com outros tipos de materialismo, convém que sejamos claros:
Porque a sede de poder, de bens materiais e dinheiro, está para o materialismo histórico como a noite está para o dia.

Esta sede a que Bento se referia origina comportamentos que têm outros nomes. Para a mitigar, as pessoas tornam-se corruptas, desumanas, perversas, egoístas e agressivas.

O Materialismo Dialéctico tende a controlar este tipo de comportamentos, por isso foi e é tão contestado. Ou seja, a Igreja que tanto combateu este materialismo por julgá-lo uma ameaça para a divulgação da sua Palavra, confronta-se agora com um outro materialismo – o que o próprio capitalismo criou.

Mas será que Ratzinger está a ser coerente com o sentido das palavras que proferiu?
Ou o seu comportamento deve ser encarado segundo a óptica popular do “olha para o que eu digo e não olhes para o que faço”?

Na verdade é conhecida por demais a tendência de Bento XVI para a liturgia da moda, que se iniciou logo no início do seu pontificado quando dispensou Annibale Gammarelli cuja família confeccionava as vestes papais desde 1792. Dizem que não gostou das vestes preparadas para a sua tomada de posse que ficaram um tudo-nada curtas e vai daí contratou Alessandro Cattaneo que já conhecia do seu cardinalato.

De qualquer modo não são agora tão compridas que não permitam ver os sapatos vermelhos de Prada, nem tão espampanantes que não notemos o seu anel de ouro maciço e os seus óculos Guci. Talvez o crucifixo de ouro cravejado de diamantes e topázios seja aquele que recebeu de presente de Sílvio Berlusconi.

Com base nestes “sintomas” que se notam um pouco por todo o mundo espiritual poderíamos concluir que na defesa deste materialismo santificado se combateram com violência os adeptos de um outro materialismo – o dialéctico.
Seria só por uma questão de fé ou seria receio de perder o “bem bom”?

Se por acaso era este o materialismo que se pretendia criticar, cá estou eu, para quem o outro, o de Marx, ainda não está definitivamente enterrado e só precisa, também ele, de sofrer algumas revisões, de que aliás a própria dialéctica não o exime.

E para terminar, deixaria uma nota de optimismo.
Quando Portugal segue sempre na cauda da Europa, quando somos constantemente confrontados com classificações desonrosas no cômputo internacional, eis que deparo com este estudo:
“Os valores materiais fazem parte da maioria das sociedades ocidentais, mas as circunstâncias de vida dos indivíduos determinam de forma diferenciada o modo como encaram a posse. Foram obtidas duas amostras de jovens universitários de Portugal, uma de 500 recolhida em 1996 e uma outra obtida mais recentemente, em 2005, com 143 jovens respostas. Procedemos à análise e comparação dos valores materialistas entre estes jovens, tendo em consideração que vivem diferentes ambientes sociais e económicos. Através da análise factorial confirmatória, com recurso aos modelos de equações estruturais estimamos as diferenças de sentimentos materialistas entre as duas gerações de jovens estudantes universitários. A diferença significativa ao nível da forma como encaram o sucesso em termos materialistas, indicam que a geração actual sente menos ansiedade relativamente à avaliação do sucesso de si e dos outros, com base em bens materiais.

Regozijemo-nos!
A.M.




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