Começo a ter a sensação de que me estou a esvair com as tentativas que
faço para compreender o que se passa neste país. A aldrabice é pegada, as metas
definidas e anunciadas são fracassos que se apressam a explicar com mais
promessas e mais mentiras.
O PM, numa tirada infeliz e reveladora do pouco cuidado que tem quando
abre a boca, diz que o país precisa menos de greves e mais de trabalho. Toda a
gente concorda, principalmente as centenas de milhar de desempregados, e todos
os que solidariamente não se conformam com a desgraça de quem perde a casa,
vende o carro, recorre aos bancos alimentares e passa a viver da caridade de
familiares e amigos. Claro, e
também aqueles que acham que o mercado controla tudo, incluindo a corrupção.
Nota: Claro que o termo grémio é usado noutras circunstâncias como no
antigo grémio literário, ou no Brasil, onde se escreve grêmio, para definir a
maior parte dos clubes desportivos.
Venha ele, o Trabalho!
Políticos de todos os quadran-tes, críticos profissionais e amadores
aparecem em cata-dupa nas pantalhas dos televisores para esclarecer o povo, mas
só conseguem criar mais confusão. Penso que eles só usam os canais de
comunicação para mandar recados uns aos outros.
Há dias num certo programa de televisão falava-se sobre a última greve
geral. A senhora convidada, que não sei quem é, opinou em modos brandos sobre a
adesão à greve, sobre as divergências de adesão emitidas pela CGTP e pela UGT.
Quando o moderador deu a palavra a uma besta que estava do outro lado da mesa
ele entrou assim:
- Não foi uma greve geral, foi uma greve banal.
Daqui, partiu para uma série de considerações sobre greves e
sindicatos que nunca julguei ser possível - já não se justifica a existência de
sindicatos, o mundo mudou, são outros os paradigmas e as greves deviam ser abolidas
– despejou de um fôlego.
Sei muito bem que muita gente que anda neste mundo à procura de passar
pelo intervalo da chuva não se importa que os outros fiquem encharcados desde
que ele fique seco, tão seco como a sua sensibilidade perante a desgraça
alheia.
Será que alguém pensa que o art.º 55 da Constituição deve ser apagado,
mesmo que na UE todos os países contemplem este direito? Pelo modo como falam parece
que sim, mas creio que é apenas o desconhecimento histórico da importância que
o sindicalismo teve na luta pela dignificação do trabalho.
Em 1974 fecharam os grémios. Os grémios eram associações corporativas
que não tinham lugar numa sociedade democrática. A grande maioria dos
sindicatos existentes era controlada pela ditadura vigente. Acontecia
normalmente nas reuniões da OIT os três representantes portugueses, do governo,
do patronato e dos trabalhadores votarem em uníssono nas propostas
apresentadas, o que causava alguma chacota nos plenários.
Os sindicatos tornaram-se livres e os grémios mudaram de nome – são agora
confederações como CIP, a CAP, a AIP-CE ou a CTP.
Pergunto: Será que os sindicatos só podem existir se forem controlados
pelo estado? Ou se aos sindicatos for imposta a proibição de medidas para
defenderem os seus interesses?
Então experimentem…!
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