quarta-feira, 24 de julho de 2013

O Jogo sujo


   Não jogo à bola porque não tenho pernas para isso, não entro em jogadas duvidosas que a minha consciência possa aproveitar para me provocar insónias; não jogo na lotaria, totoloto ou euro milhões porque fiz as contas e cheguei à conclusão que tinha mais hipóteses de ser atropelado na rua e apesar disso todos os dias dou o meu passeio. Todavia jogo o king, a sueca ou mesmo a bisca lambida… mas a feijões, o que, mesmo assim, não deixa de me irritar quando fico sem eles para no dia seguinte fazer uma sopinha de feijão branco com repolho.
    Mas mesmo não jogando continuo a perder.
Ainda hoje, paguei 15,45 euros de taxa moderadora (1) por uma consulta para obter as receitas dos medicamentos que preciso diariamente.
    Certa vez, fui surpreendido com a conta da eletricidade porque o IVA tinha subido para 23%. De uma outra, trepou a fatura da água, porque, numa jogada oportuna, passaram a indexar a taxa de saneamento aos kilowatts consumidos, o que originou a quadruplicação automática da conta anual de saneamento, como se as condutas da água tivessem que ser desentupidas com visacor (2). Este ano, descontaram-me mais para o IRS e em vez de me devolverem algum dinheiro ainda me pediram mais. Do corte nas pensões já nem falo.
    Só gostava de saber que tipo de jogada faz Passos Coelho quando a miúde nos vem embalar com a canção “Não vamos aumentar os impostos”. Pela parte que me toca tanto me faz que o dinheiro se suma em impostos ou em taxas e sobretaxas, nos preços do gás e da eletricidade.
    O efeito que incide sobre o meu rendimento é o de uma contínua contração!
    Se sua excelência nos pretende adormecer então que nos cante:

Papão vai-te embora
De cima desse telhado
Deixa dormir o menino
Um soninho descansado

   (1)    Taxa que modera a ida ao médico e a compra de medicamentos por afetar seriamente o orçamento familiar.
  (2) Medicamento que me custa 49,47 euros para desentupir a minha própria canalização.

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