Vasco foi sempre avesso a acordos ortográficos em que a matriz fosse posta em causa. Sempre defendeu a teoria de que todos os países lusófonos se deviam sujeitar às nossas regras, pois nós é que demos mundos ao mundo e ao longo de mais de 850 anos de história, semeámos a língua portuguesa por tudo o que era império português.
Pelo menos, entendi que das diversas campanhas desenvolvidas tanto para bloquear o acordo como mais tarde para o anular, Vasco considerava que não devíamos ter cedido em muitos aspectos do acordo.
O Poeta, cuja obra admiro, pese o desacordo quanto ao acordo, escreve um poema que se intitula “Lamento para a língua portuguesa” em que, de forma mais que perfeita, nos transmite o seu pensamento quanto às alterações que a nossa querida língua sofreu. Como leigo não ouso discutir os pormenores técnicos que Vasco Graça Moura possa advogar para discordar desta ou daquela modificação.
Cem anos atrás escrevia-se “Deos”, “cercára”, “ceo”, “phantasia”, “patria”, “proprio”; “suicidio”; “pharoes”, etc.
Calculo que tenham existido personalidades importantes e conhecedoras da matéria que também terão protestado por muitas das alterações que ao longo do tempo estes e outros vocábulos sofreram.
Das discussões havidas sobre conservar os cês ou eliminar os cês, colocar ou retirar acentos ficou em muita gente a ideia de que os brasileiros não tinham feito cedências. É natural que tenham feito menos do que nós, dado o peso que tem uma população vinte vezes superior à nossa num acordo ortográfico.
Há dias pendurei um e-mail no sítio da Academia Brasileira de Letras em que interrogava:
- No Brasil acentuam voo e enjoo? Agradecido, A.M.
A resposta:
- Perderam a acentuação com as novas regras ortográficas, Antônio
Isto é, tiveram que retirar os acentos destas palavras enquanto nós já não as acentuávamos.
Claro que não deixo de ser o António por me chamarem Antônio.
A.M.
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