quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Espelho meu, haverá pessoa mais caridosa do que eu?

Quase todos os dias vejo a minha cara ao espelho.
Apalpo os queixos para sentir o tamanho da barba, olho para as dentuças enquanto as esfrego com toda a genica, avalio o prazo para cortar o pouco cabelo que ainda me resta e de modo perfeitamente automatizado reajusto o que vejo com o tempo que tem, para não ser surpreendido mais tarde.
Conheço gente que acordou velha um certo dia. Uns porque não se viam ao espelho, outros porque tinham o sistema automático avariado.
Lembro-me de um colega da tropa que olhava deliciado para a sua figura no espelho e exclamava para que todos ouvissem:
- Meu Deus, porque me fizeste tão belo!?
Sei que morreu cedo o que me leva a pensar que o vaticínio de vida curta que Tirésias fez a Narciso se aplica a todos os narcisos.

Como é evidente quando aparece alguém dizendo que aquilo que eu vejo no espelho todas as manhãs é o resultado das decisões que tomei ao longo da vida, não se está referindo ao aspecto físico mas sim ao meu comportamento em sociedade.
Não acredito que isso se veja ao espelho. Admito, contudo, que seja uma figura de estilo procurando introduzir a consciência na jogada.

“Somos o resultado das nossas ofertas” - dizem-nos também.
Claro, que não são só ofertas financeiras (mas também, digo eu) porque essas são as mais fáceis de dar e qualquer um pode dar, temos, principalmente, de dar a vida, o nosso tempo, a nossa dedicação, os nossos esforços e o nosso amor.

Pois.

Pergunto com toda a candura que me inunda neste glorioso momento de concentração e meditação, o que vê o Bispo Edir Macedo, quando se mira ao espelho.
Será que não se envergonha de ter adquirido bens de enorme sumptuosidade à custa da boa-fé, da ingenuidade e caridade de pessoas tementes a Deus, usando, por exemplo, textos bíblicos para incitar os fiéis a pagar dízimos?
O que reflectirá tal espelho?
Talvez o ar preocupado de quem está indiciado por formação de quadrilha e lavagem de dinheiro.

Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil e Edir Macedo descobriu Portugal.
Será vingança?

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