Alguns casos de xenofobia acontecidos ultimamente, um pouco por todo o lado, como em Inglaterra (segundo Gilfer), ou em Itália onde um grupo de jovens queimou um imigrante indiano que se encontra hospitalizado em estado muito grave, transportaram-me para “O naufrágio da Medusa”, livro que creio ter lido quando andava na instrução primária. Vivia na fase de “aventuras de capa e espada”, Sandokan era um dos nossos heróis naquela época e os Tigres de Mompracem lá no longínquo mar da Malásia os personagens que procurávamos imitar nas horas de brincadeira.
O Naufrágio da Medusa, corveta francesa que naufragou no Mediterrâneo, apareceu misturado no lote e foi devorado rapidamente. O enredo é de grande violência principalmente para uma criança de 8 ou 9 anos de idade. Os mais básicos instintos do Homem vão sobressaindo à medida que os náufragos, numa pequena jangada lutam pela vida. O canibalismo foi mesmo a última solução para vencerem a morte e os mais fracos ou doentes eram os primeiros a ser sacrificados pelos companheiros.
O comportamento de qualquer sociedade aparentemente calma e cordata pode descambar rapidamente para a violência. Perante uma grave crise económica começa por se lutar por um emprego e os estrangeiros são os primeiros a sofrer a ira dos trabalhadores nacionais por entenderem que os seus lugares de trabalho estão a ser usurpados
Quando as dificuldades são tão grandes e tão extensas que começam a afectar a sobrevivência das pessoas quebram-se os protocolos, as regras e as leis. Rouba-se e mata-se por um pedaço de pão.
Só espero que do naufrágio económico de muitos países não surjam em catadupa muitas jangadas como a da Medusa.
A.M.
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