terça-feira, 6 de outubro de 2009

O regresso das melgas

Caro Adriano Pedro,

Ao falar de cavernas e esconderijos teleguiou-me para Luanda, 1966.
Ocupando as minhas folgas de serviço com a leitura, adquiri ali muitos livros, entre os quais a Campanha Alegre I e II, que entretanto estou em vias de abater ao meu espólio dado que parece não ser possível reavê-los da pessoa a quem os emprestei.
Eça de Queiroz, numa das suas mais conhecidas e verrinosas críticas, comenta os diversos textos publicados na imprensa da época sobre a visita que D. Pedro II do Brasil fez a Alexandre Herculano, que vivia na sua quinta de Vale de Lobos.
Diz:
“Sua Majestade Imperial visitou o Sr. Alexandre Herculano. O facto em si é inteiramente incontestável. Todos sobre ele estão acordes, e a História tranquila.

No que, porém, as opiniões radicalmente divergem - é acerca do lugar em que se realizou a visita do Imperador brasileiro ao historiador português.

O Diário de Notícias diz que o Imperador foi à mansão do Sr. Herculano.

O Diário Popular, ao contrário, afirma que o Imperador foi ao retiro do homem eminente que...

O Sr. Silva Túlio, porém, declara que o Imperador foi ao Tugúrio de Herculano; (ainda que linhas depois se contradiz, confessando que o Imperador esteve realmente na Tebaida do ilustre historiador que...)

Uma correspondência para um jornal do Porto afiança que o Imperador foi ao aprisco do grande, etc.

Outra vem todavia que sustenta que o Imperador foi ao abrigo desse que...

Alguns jornais de Lisboa, por seu turno, ensinam que Sua Majestade foi ao albergue daquele que...

Outros, contudo, sustentam que Sua Majestade foi à solidão do eminente vulto que...

E um último mantém que o imperante foi ao exílio do venerando cidadão que...

Ora, no meio disto, uma coisa terrível se nos afigura: é que Sua Majestade se esqueceu de ir simplesmente a casa do Sr. Alexandre Herculano!”

Na verdade, caro Adriano, para evitar as melgas e a sua infecciosa “injecção” não há retiro que nos salve. Só há uma solução. Colocar mosquiteiros em portas e janelas de nossas casas para impedir a sua entrada. Se alguma conseguir passar por descuidada frincha, ter à mão um bom insecticida, é aconselhável.
Como sabe a melga é animal hematófago e se lhe faltar paparoca, fenece e morre naturalmente.
Vá por mim!

PS. Já me esquecia. Saindo à rua devemos fugir de pantanais ou poças de água putrefacta. Corremos o risco de levar bicada. O Fenistil é óptimo para esfregar na parte ferida. Agora até existe sob a forma de batom. Muito prático.


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