terça-feira, 1 de setembro de 2009

A coerência

Talvez não seja boa altura para falar desta coisa cuja definição simplista encontrada nos dicionários não esclarece cabalmente.
Afinal, quantas coerências existem?
Li algures que se um ladrão abrir uma pastelaria e vender os cafés a 1 euro e os pastéis de nata a 3 euros, isso é um claro sinal de coerência.

Em determinada altura, sendo encarregado da área de manutenção electrónica numa fábrica, fui avaliado pelo encarregado geral, que me deu óptimas classificações em quase todos os parâmetros. Contudo havia um que mera claramente desfavorável – o relacionamento com os meus subordinados.
Procurando esclarecer a situação com o intuito de poder emendar a minha conduta nesse particular aspecto, fiquei a saber que se devia ao facto de ser “muito macio” para com eles. Ainda tentei defender a teoria de que ser mais duro não é sinal de que se obtenha um melhor desempenho da equipa. Em vão.
Alguns anos depois, como responsável pelos Laboratórios de Trabalhos Práticos de Electrónica numa unidade militar, fui chamado à pedra pela mesma razão. O director chegou mesmo a despedir-me com uma simpática palmada nas costas – “Já percebi, andas a fazer o papel de gajo porreiro”

Lembro-me agora destes episódios, precisamente por causa do défice de coerência de que me acusa Braga da Cruz.
Na verdade, era de uma atroz incoerência um tipo macio e porreiro enveredar pela vida militar. Ou até ser encarregado numa multinacional onde se exige severidade e intransigência no relacionamento com os subordinados.
Seria melhor, por mais coerente, ter escolhido uma profissão de relacionamento público onde por vezes o funcionário tem que se humilhar perante um cliente irritado e mal-educado para não ser despedido ou apenas para obter uma boa informação para o currículo.

No caso em “epígrafe” a minha incoerência deve-se ao facto de ter feito uma crítica endereçada a uma pessoa e não ter igual procedimento para com um outro.
Incoerência não há dúvida, mas apenas aparente.

Se desde que entrei nestas andanças afirmei e continuo a afirmar que cada um deve gerir os seus próprios relacionamentos e só faço críticas mais agrestes quando eu próprio sou visado ou prejudicado com o comportamento de alguém, não seria de grande incoerência, desajustar a teoria da prática?

Resumindo a coerência e a incoerência andam juntas como duas irmãs siamesas.
O erro de paralaxe produzido pelo ângulo de observação é que determina uma e outra.

Obrigado, pela oportunidade,
A.M.

Sem comentários: