domingo, 28 de dezembro de 2008

A moderação como princípio fundamental


Em 1974 as empresas de maior dimensão em Portugal já tinham nos seus quadros uma assistente social. A função que lhe estava adstrita era a de assistir e apoiar os trabalhadores, tentando resolver os seus problemas de forma a permitir-lhes a maior estabilidade possível tanto dentro como fora da fábrica.

A função desta assistente social estava contudo minada à partida dado que o seu ordenado era pago pela própria empresa. Como é evidente, essas empresas (algumas com mais de mil trabalhadores) subvertiam a sua função.

Numa conhecida multinacional de semicondutores, era ela que informava as operárias a despedir quando nos períodos de contracção do mercado havia balões*. Quando o mercado melhorava e era preciso aumentar a produção era ela que, colocando-se á saída da fábrica no término dos turnos repetia como um autómato:- Digam lá na vossa terra às vossas amigas que a fábrica está a aceitar pessoal.

Não foi por acaso que em 25 de Abril as operárias se desforrassem do modo como eram usadas e pedindo o seu saneamento. Processo conduzido pelo ministério do trabalho que concluiu pela sua manutenção nos quadros da empresa, embora com funções diferentes. Para este desfecho contribuiu a própria administração que assumindo um papel na sua defesa, argumentou que embora a tivesse contratado como assistente social nunca lhe tinha atribuído tais funções. A senhora, muito naturalmente não aceitou.

O tempo passou, já lá vão cerca de 34 anos, mais do que aqueles que passaram entre o fim da 2ª guerra mundial e a minha maioridade, e o/a assistente social integra hoje os quadros dos mais variados serviços públicos ou privados. Praticamente todas as autarquias do país têm esse serviço estruturado que emprega milhares de assistentes sociais, tal como acontece em hospitais, escolas, clínicas, centros de dia, creches, etc.

“O assistente social é o profissional qualificado que, privilegiando uma intervenção investigadora, através da pesquisa e análise da realidade social, actua na formulação, execução e avaliação de serviços, programas e políticas sociais que visam a preservação, defesa e ampliação dos direitos humanos e a justiça social.”

No âmbito do Ministério da Justiça o assistente social tem um papel fundamental na orientação de uma decisão judicial ou no mínimo de acompanhar e atenuar a sua aplicação.Por isso, ao notar que continuam a extremar-se as posições em torno do caso Esmeralda, não posso deixar de lembrar as assistentes sociais, que também neste caso não deixaram de intervir, mas cujo papel ou é ignorado ou minimizado.

Será que ninguém acredita na sua capacidade técnica e humana para informar e acompanhar este caso tendo sempre em conta os superiores interesses da criança?
No que me diz respeito, não tomaria nenhuma atitude sem as ouvir.A.M.

* Grande quantidade de operários de uma fábrica despedidos ao mesmo tempo.
* Definição extraída da Wikipedia

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