quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

O ramerrão do Natal

Já é trivial dizer-se que o Natal devia acontecer todos os dias.

Adquiriu o estatuto de "frase feita", perdeu sentido e tornou-se pirosa.

Todavia nada mudou.

Passada a quadra natalícia, toda a gente volta ao mesmo ramerrão quotidiano e não volta a pensar nos fracos, nos oprimidos, nos famintos e nos desalojados senão no próximo ano. Não se compreende que num país católico, onde os seus professantes celebram os dias santos e as festas religiosas, se perca de tal maneira o espírito que emana do Natal.

Até o ambiente mais calmo e pacífico que se vive nos “Blogues do Leitor” são, em grande parte, resultado dessa disposição que transversalmente nos toca a todos.

E se alguém estranha que um materialista participe e cumpra as “formalidades” que caracterizam, ou deviam caracterizar, este período de cunho nitidamente religioso, é porque a língua portuguesa o atraiçoou.

Só em sentido figurado o materialista é pessoa de sentimentos grosseiros, instintos materiais que apenas procura a satisfação dos sentidos. Este é o materialista que só pensa em si próprio, no seu bem-estar, no crescimento da sua riqueza e que para o conseguir tripudia e pisa quem se atravessar no seu caminho.
Este materialista pode ser um católico, um budista, um hinduísta ou mesmo um islamita.

Na verdadeira acepção da palavra materialista é o partidário do materialismo e esta é a “doutrina dos que pretendem que no Universo só há matéria e movimento e que estes dois elementos bastam para explicar todos os fenómenos da física, da vida e da consciência.” (De Morais)

Historicamente, Materialismo é a “concepção de sistema económico segundo a qual o modo de produção de vida material condiciona de um modo geral o processo de vida social, intelectual e política.” (De Morais)

Também esta filosofia condena o outro materialismo que parece arrastar o mundo para o caos, talvez até de uma forma mais incisiva dado que tem carácter terreno.

É a figuração desse materialismo que nesta época se atenua em cada um de nós e parece que nos torna melhores e mais conformes com a nossa própria consciência.

Porque não todos os dias?
A.M.

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