sábado, 22 de novembro de 2008

A vida está boa para quem?

Aprendi a guiar no Chevrolet de um amigo. Tinha-lhe custado 5 contos de reis e não tinha livrete. Era um carro enorme de um azul desbotadíssimo e tinha apenas uma ligeira amolgadela no pára-choques de trás. Alguns anos antes, quando a gasolina era barata circulavam nas nossas estradas muitos carros de marcas americanas. Ainda me recordo da miudagem se sentar à beira da estrada e tentar adivinhar primeiro do que os outros a marca e o modelo do automóvel que aparecia lá ao longe saindo da curva.
Não é por me gabar mas era muito bom nisso.
Ainda hoje me recordo de marcas como o Buick, Oldsmobile, Cadillac, Packard, Studebaker, Crysler, Pontiac para além, claro está do Ford, para referir uma marca que tinha modelos de mais pequeno porte como aquele que ficou conhecido pelo "calça arregaçada".
Mais tarde o preço do combustível começou a subir e esses carros foram perdendo valor até se poderem comprar por uma ninharia.
Recordo-me agora de uma historiazinha, daquelas que intercalavam os artigos principais das selecções dos anos 50.
Um americano tinha um studebaker e não conseguia vendê-lo por preço algum.
Resolveu então colocar um anúncio no jornal informando que quem quisesse um Studebaker de 1950, podia ir buscá-lo à rua tal, em frente do número X, que as chaves estavam na ignição.
No dia seguinte, logo de manhã foi à janela espreitar para verificar se já tinham levado o carro e viu admirado que tinham estacionado encostados ao passeio mais 15 Studbakers iguais ao seu.

Por essa razão o meu amigo conseguiu comprar um carro que bebia alguns 14 litros aos 100. Saía poucas vezes com ele. Ou ao fim de semana para dar uma passeata até à praia ou então numa emergência como aconteceu no dia em que se deu o "acidente" que originou a pequena amolgadura no pára-choques.
Dirigindo-se à farmácia da zona para comprar um medicamento viu um espaço para arrumar o carro e começou a fazer a manobra para consegui-lo. Quando olhou pelo espelho retrovisor viu que um carrito pequeno se lhe tinha antecipado e zás já lá estava a tapar o buraco. O jovem condutor saiu ligeiro da viatura e com ar de gozo, gritou-lhe:
- A vida está para os espertos!
O meu amigo meteu a marcha atrás, encostou no pequenote e empurrou-o para cima do passeio, ficando a ocupar o lugar anteriormente usurpado. Deitou a cabeça fora da janela e advertiu o jovem especado e atónito no meio da rua:
- A vida está para quem tem dinheiro!

Saiu-lhe cara a brincadeira. Mas que lhe deve ter dado imenso gozo, lá isso, não duvido.
E fica a pergunta:
Afinal para quem está a vida boa?

P.S. – Os meus agradecimentos a Laranjalima pelo mote.

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