sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Mais-valiaX3

Sei perfeitamente que o exemplo que vou dar e nos condena a ser um país subalterno, sem hipótese alguma de convergir com os países da UE industrialmente mais fortes, provocará argumentação, que por caminhos ínvios, diligenciará desvalorizar ou mesmo desmenti-lo.

Se eu comprar um ferro elétrico sei que não me vai durar toda a vida e estimo, por exemplo, que me pode durar 10 anos. Será aconselhável dividir o seu preço por dez e cativar todos os anos essa quantia (possivelmente com ajustamento da inflação) para ter dinheiro para comprar outro ferro elétrico e enviar o velho para o lixo.

Mas isto é o que deve fazer uma pessoa organizada e, principalmente, com capacidade para fazer algumas poupanças, pois caso contrário ficará surpreendido com a avaria súbita do ferro elétrico e, desprevenido, passará a vestir as camisas enrugadas ou, se tiver crédito, pedir dinheiro emprestado ao banco ou a algum usurário prestamista (não existe grande diferença) para substituir o traste avariado.

Suponhamos agora que sou o Helmut Gauff e resolvo entrar no negócio de penicos, depois de, como é óbvio, fazer uma prospeção de mercado que justifique o investimento. Vou, ou mando alguém ao Registo de Patentes para saber qual a máquina mais moderna que existe para fabricar os ditos penicos. Faço as contas: operador + eletricidade + água + instalacões  +impostos, etc., e também (era aqui que eu queria chegar), a amortização da máquina escalonada por sete ou oito anos para poder substitui-la, não só por estar avariada, mas porque perante uma nova geração de máquinas de penicos se impõe comprar uma, para manter ao mais alto nível a aquilo a que se chama competitividade.
Assim, ao fim de sete ou oito anos o Helmut fica a pensar que melhor do que fazer o que eu fazia com o ferro elétrico, antes de ser o Helmut, era usá-la num sítio qualquer onde as taxas e impostos fossem mais baixos, a eletricidade mais barata, as instalações cedidas gratuitamente por uma autarquia, que perante o desemprego procura minorá-lo e, principalmente, porque a mão-de-obra é mais barata

Descoberto o local, lá vai a velha máquina cumprir a missão te trabalhar mais sete anos, voltando o seu preço inicial a ser introduzido no custo dos penicos e garantindo a mais-valia gerada, igual ou superior à dos seus primeiros sete anos de existência.
Sete anos de pastor Jacob serviu
Labão pai de Raquel, serrana bela…


Informado de que em Taiwan os salários ainda eram mais baixos do que na Grécia ou em Portugal, fez as contas e verificou que a velha máquina mesmo debitando apenas seis penicos por minuto, quando as máquinas da nova geração já “chocavam” 14 no mesmo tempo, ainda lhe permitia ter o mesmo lucro, embalou-a carinhosamente, meteu-a num contentor e lá seguiu, mar fora, para dar trabalho aos desempregados taiwaneses, que agradecidos fazem vénias até baterem com a cabeça no chão.

Helmut ( ou seja eu) sou chamado ao palácio presidencial onde sou homenageado e condecorado por Lee Teng-hui, como grande amigo da Grande Ilha e do seu povo.
Agradecido e entendendo que era preciso demonstrar alguma comoção, espremo-me um pouco e consigo soltar duas lágrimas.

* Mais-valia é o termo famosamente empregado por Karl Marx à diferença entre o valor final da mercadoria produzida e a soma do valor dos meios de produção e do valor do trabalho, que seria a base do lucro no sistema capitalista

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