La Bandera
História que
ouvi contar a um marinheiro da armada brasileira que atracou no porto de Luanda
em 1965, se a memória não me atraiçoa.
Café Filho,
presidente brasileiro, visitou Portugal em 1955 e foi recebido apoteoticamente,
desfilando pela Rua Augusta em carro aberto perante uma chuva de serpentinas e
papelinhos coloridos. Já não me recordo, mas creio que também foi agraciado com
a “honoris causa”.
Café Filho governou despercebido durante cerca de ano e meio e segundo alguns historiadores, foi convidado por Salazar apenas para procurar apoio para a sua política colonial.
Café Filho governou despercebido durante cerca de ano e meio e segundo alguns historiadores, foi convidado por Salazar apenas para procurar apoio para a sua política colonial.
A história:
Quando regressou ao Brasil uma multidão imensa no cais onde estava atracado o navio que o transportaria, ouviu palavras de gratidão pela visita e ficou muito impressionado com uma frase do presidente português em que se referia à bandeira portuguesa: (…) e a nossa bandeira com a sua cor verde, que significa a esperança e o vermelho que significa o sangue derramado pelos heróis (…). Ficou-lhe no goto.
Daí que
chegado ao Brasil, barco atracado, e a habitual multidão que se junta para
receber os presidentes, entendeu que devia discursar.
Depois das
trivialidades costumeiras lembrou-se da referência à bandeira portuguesa e não hesitou:
(… e a nossa bandeira com a sua cor verde que significa a esperança e a sua cor
amarela que significa… que significa... e não lhe ocorrendo nada, resmungou:- Mas que merda de cor foram pôr na bandeira!
Como é
evidente não me ocorre contar esta história/anedota assim sem mais nem menos,
quando tenho algumas preocupações que até me tiram o sono. Foi o facto de um
outro presidente ter sugerido que se tirassem o vermelho da bandeira portuguesa
o problema económico e financeiro do país automaticamente se resolveria. Então
este gajo queria deitar o sangue derramado pelos heróis para a sargeta? Guilhotina
com ele, já! Ou mesmo empalado na Praça da Figueira com bancadas à volta,
repletas de público a aplaudir de pé pelo merecido castigo.
Eu acho que
a cor que devia ser retirada da nossa bandeira era o verde. Creio que para
muita gente, onde me incluo, o verde já não representa esperança nenhuma,
quando muito justificar-se-ia uma cor de um indefinido pardacento.
Triste sina
a nossa!
* Em homenagem a Pierre Mac Orlan autor do livro com este nome, que na minha juventude contribuiu para a minha formação como homem.