terça-feira, 25 de setembro de 2012

O Ministro do Interior


Quando se abre a boca deve-se ter muito cuidado. Se é para dizer asneira é melhor que entre mosca.
Só mais tarde, depois de ver a reação em cadeia que aquela frase, aludindo à fábula da Cigarra e da Formiga, provocou em todo o país, se apercebeu do disparate. Se fosse a Merkel a dizê-lo, ainda vá que não vá, pois só poderia ser acusada de meter a foice em seara alheia. Miguel vive nesta seara e logo ou é formiga ou é cigarra, ou seja, ou é preguiçoso ou é laborioso.
À noite, deitado na cama de papo para o ar, magicava num argumento, numa desculpa, que pudesse apresentar para alterar o juízo feito por todas as cigarras e formigas deste país.  

E descobriu, lá para as cinco da manhã, naquilo que lhe parecia ser uma boa explicação:
“Aquela declaração foi uma homenagem ao trabalho de todos aqueles que criam riqueza”

Ora os que não criam riqueza são cigarras. Os milhares de desempregados que nem comida têm para o dia-a-dia, quanto mais para abastecer a despensa são cigarras.
E os governantes que não produzem nenhuma riqueza mas apesar de tudo abastecem a sua despensa com o trabalho alheio serão formigas?

A tirada era bonita. Talvez até um dia venha a figurar no catálogo onde estão frases como esta: “Se soubesses o que custa mandar gostarias de obedecer toda a vida”.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

A chocadeira da corrupção


A principal caraterística das “Chain letters” é a corrente começar a saturar-se e recebermos catadupas da mesma mensagem durante algum tempo.
Uma das que me caiu no goto é aquela que aponta para uma revisão da constituição no sentido de tornar os deputados mais parecidos com o cidadão normal, que paga os seus impostos, que não beneficia de seguros de saúde, nem de senhas para o almoço, nem subsídios de deslocamento e de transporte, nem exíguos tempos para a reforma, nem subsídios de reinserção, nem tão pouco de imunidade parlamentar para fugir às falcatruas em que se mete.

Contudo os ovos são colocados na chocadeira antes da tomada de posse que se segue a uma eleição legislativa.

A norma número 1 era atribuir ao PR o dever (não o direito) de demitir o governo que não cumpre com as promessas que badalou durante as campanhas eleitorais. Houvesse algum meio de responsabilizar quem andou a enganar os eleitores para conquistar o poder e não duvido que a cotação que o povo faz da política e dos políticos, nunca teria descido tão baixo.
Devia haver uma lei das compatibilidades simples, compreensível, que não deixasse fendas por onde passa o grosso dos oportunistas. Também seria imprescindível que a lei que obriga os titulares de cargos públicos a fazer declarações de património e rendimentos fosse devidamente fiscalizada e não existisse apenas para inglês ver. Seria muito fácil com os meios que a informática dispõe para fazer cruzamento de dados se o sigilo bancário não fosse um tabu para todas as assembleias legislativas… e constituintes, também.

O argumento da defesa da privacidade tem o leve odor da defesa da ilegalidade.

Diz o povo: Quem não deve não teme!

 

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Começam a cair as máscaras

Parece que o ex-conselheiro de Passos Coelho, Nogueira Leite, teve que encerrar a sua página no Facebook dado que sofreu um ataque viral na internet depois de ter colocado ali um desabafo: “Se em 2013 me obrigarem a trabalhar mais de 7 mese...
s só para o Estado, palavra de honra que me piro, uma vez que imagino que quando chegar a altura de me reformar já nada haverá para distribuir, sendo que preciso de me acautelar. É um problema que é só meu, mas esta não é a condição de homem livre!”
Francisco Louçã comentou: “Eu fico. Porque é preciso enfrentar o governo, correr com a troika, não desistir de recuperar os salários e as pensões. É preciso vencer esta elite de Nogueiras Leites que, depois de recomendarem a redução dos salários dos outros e a proteção dos seus próprios privilégios, se atrevem a dizer que fogem.”
O que me assusta não é o Ferreira Leite pirar-se quando o barco se afunda, mas sim o sentir que a maior parte dos interesseiros que nos governam, acabarão por fazer o mesmo, saltando para os seus paraísos fiscais, de barco ou de avião, viver do que sonegaram ao erário público em seu próprio benefício. O melhor mesmo é lançá-los todos borda fora, aliviar o barco desta tara inútil de mentirosos, ladrões e assassinos de que fala o padre da Lixa, presbítero da Cidade do Porto.
Recomendo a Nogueira que não fuja para França pois o Hollande ameaça taxar de forma muito mais gravosa os altos vencimentos e então em vez de trabalhar sete meses de borla teria que trabalhar oito ou nove e dizem que é preciso fazer declaração de rendimentos cuja falsidade é severamente punida.
Este comentário tem o propósito de alertar para o crescimento de uma casta que na mais modesta posição política julgam poder-se alcandorar a lugares da esfera pública com a finalidade única de se servirem a si próprios. Vir a ser ministro ou secretário de estado é muito bom, mas um lugarzinho de presidente da Junta já não é nada mau.
É preciso interromper de forma drástica a mentalidade de que o Estado não tem por função controlar outra coisa que não seja o interesse de todos os seus membros e respetivos serventuários.
Fora com eles!

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Assim vai o mundo...


A mulher mais rica do mundo, que nos manda trabalhar mais e beber menos, sem que um neurónio, um só que seja, a faça entender que ela é apenas beneficiária dos bens de um pai rico que acumulou uma fortuna imensa sob um sistema que defende religiosamente a propriedade privada e taxa os mais ricos com delicada suavidade, foi notícia nos últimos dias.
Não sei onde a Siderurgia Nacional se abastecia para manter a sua atividade, mas não me admiraria que comprasse o ferro ao pai da gorda mulher que lá da Austrália manda tatibitates, bem demonstrativos do que se passa dentro da carola, tal como o rosado das suas bochechas deixa antever lautas refeições muito bem regadas. E se a nossa antiga Siderurgia não comprava, muitas outras, pelo mundo fora, o terão feito, pagando um preço por tonelada que permitiu a confluência de tantos milhares de milhões durante uma geração, nas mãos de uma só pessoa. Quantos operários siderúrgicos deste planeta venderam o seu trabalho com uma margem de lucro idêntica à do velho Rinehart com o negócio do ferro.
De facto quando o estado se divorcia da responsabilidade de moderar os mercados, deixando o capital regular-se a si próprio, não faz mais do que meter lobos no ovil. É fartar vilanagem!
E quando aparece algum rico a defender o aumento dos impostos, como Warren Bufett, logo é considerado um extravagante, senão um louco que não deve ser tomado a sério. Confessou que tomou essa posição depois de ter verificado que pagava menos impostos do que a sua própria secretária.
Assim, quando Obama pretendeu aumentar para 30% os impostos sobre rendimentos anuais superiores a 1 milhão de dólares os republicanos do Senado rejeitaram a proposta.
Por cá, em função da nossa dimensão física e económica, não deixa de haver exemplos de boicotes a ideias, consideradas extravagantes, que proponham, mesmo que seja a título pessoal, a distribuição de alguma riqueza acumulada. O exemplo, por si só, já é considerado muito perigoso.
Refiro-me a Jorge Carvalho, empresário têxtil, que no ano 2000 pretendeu dar um jipe a cada um dos seus 150 trabalhadores. Logo lhe foi movida pelos herdeiros uma “ação especial de inabilitação" no Tribunal Judicial da Lousã.
Doze anos depois, vem a sentença, considerando a ação improcedente e não provada.
Resumo: Jorge Carvalho faleceu entretanto sem conseguir cumprir a sua vontade. Os trabalhadores nunca mais vão receber os jipes prometidos. Parte da fortuna de Jorge já estará em segurança nas mãos dos sobrinhos herdeiros que lhe moveram a ação e uma parte substancial deve ter alimentado as contas de algum escritório de advogados que pululam por aí como cogumelos.
Todas as forças se conjugaram para bloquear o desejo de um homem que no fim da sua vida entendeu premiar os seus operários.
A mentalidade vigente é a do egoísmo e não a da solidariedade; é a da trapaça e não a da honestidade. A ambição desmedida foi inculcada com as campanhas do compre agora e pague depois, sobre milhares de produtos que pouco acrescentam ao bem-estar de cada um. A vaidade levou ao exibicionismo, que a maior arte das vezes não tem suporte económico.
Apanhada nesta teia, a sociedade deixou-se embalar, ficou presa aos hábitos criados e será muito difícil o homem renovar-se, senão depois de muito sofrimento.