terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Uma defesa... ao ataque

Eu amo a minha língua.
Não afirmo que seja uma paixão, pois alguém, ouvindo, poderia interrogar:
- Então porque não a tratas com mais carinho?
Esse amor poderia conduzir-me a um comportamento conservador no que respeita à defesa da sua integridade, tal como acontece com alguns amigos que em conversas mais do que informais se manifestam contra qualquer alteração que lhe possa ser introduzida?
No que respeita à grafia tivemos nós, há pouco tempo, exemplos dessas manifestações por causa do acordo ortográfico. Mas também no que respeita à dilatação do vocabulário, com a introdução cada vez mais rápida de neologismos, se erguem as vozes de protesto e de repulsa.
Mas a língua, porque vive, transforma-se inevitavelmente, sem apelo nem agravo.
Principalmente connosco, portugueses, com uma identidade quase milenar como nação que, ocupada por estrangeiros por diversas vezes, e demandando por esse mundo, captou influências das mais diversas linguagens.
Por isso acho que devemos ser mais condescendentes no que respeita aos neologismos… principalmente se nos lembrarmos dos “vestustulogismos”, ou seja, velhíssimos neologismos que não tivemos oportunidade de discutir por falta de comparência na data aprazada.
Estrangeirismos que já não nos indignam são aos milhares.
Branco – do germânico blank (luzente)
Bolsa – do grego byrsa passando pelo latim bursa.
Biltre – do francês bélitre (esfarrapado)
Bingo – do inglês binge (farra) e bout (luta, vez) segundo alguns autores.
Bumerangue – do inglês bumerang que por sua vez veio de Wo-mur-rang,vocábulo de um dialeto australiano que designa a arma de arremesso que volta mais ou menos ao mesmo lugar em que foi lançada.
Batata – do taino batata, língua de um antigo povo das Antilhas que eu origem a um dialeto ainda hoje falado no Haiti.
Nesga – do árabe nasj (tecido) e que significa pequena tira que se cose entre dois panos.
Calafrio - do espanhol calafrio, junção de calo (quente) e frio (frio)
Cartel – do italiano cartello.
Hoje alguém pensa contestar estes termos?
Se nos insurgimos porque aparecem novos termos nos dicionários originários de outros países lusófonos como por exemplo o célebre bué (muito) de Angola ou o sururu do Brasil (dialeto tupi-guarani), como explicamos a calma indulgência com que lisboetas e portuenses, ribatejanos e transmontanos aceitam sem pestanejar o termo algarvio alcagoitas (amendoins) ou mesmo griséus (ervilhas)?
Claro que, perante estes factos, sou invadido por uma onda de conformação que trava qualquer ímpeto de me inscrever em cruzadas fundamentalistas contra os autores de tais disseminações.
Todavia, como um homem não é de pau (passe a citação), embora eu tolere o vocábulo Big-bang que já consta do dicionário da Academia das Ciências de Lisboa, não posso aceitar nunca que o termo Big Mac (Big+McDonald), seja integrado na nossa querida língua. Embora esse malfadado termo já conste do vocabulário dos meus netos, se alguma Academia tiver o arrojo de o oficializar, nesse mesmo dia, vou para a guerra.

Oh! Se vou!
A.M.

2 comentários:

Vera disse...

Uma graça, um deleite poder ler o PROFESSOR. Ave, mestre.
Respeitoso abraço da Vera, aqui do sul do Brasil.

durindana disse...

Retribuo o cumprimento, Vera.
Só fui professor de electricidae numa escola técnica nos últimos anos da minha vida profissional.
De qualquer modo, obrigado pelo elogio.
Vá aparecendo, aqui, nesta espécie de armazém.
... e muita saúde para si e seus familiares... são os meus votos.