domingo, 8 de janeiro de 2012

Um caso escolhido ao acaso


O Sr. Carlos Saraiva é um ser humano de rara sensibilidade. “Sensibilidade
para as coisas da vida e a capacidade de antecipação das necessidades das
pessoas”. Por isso entrou na promoção imobiliária e depois na hotelaria e creio
que também na restauração. Segundo confessa, gostaria de ter sido astronauta mas
acabou por ser engenheiro civil por acidente.


“Tirando o trabalho e a necessidade de pensar” não tem vícios. “Como extravagância guardo um bocadinho de tempo para mim e para poder estar com as pessoas de que gosto” -acrescenta.

Na entrevista concedida à “Hotéis & Viagens” confessa também que é uma pessoa calma, que aprecia a vida e gosta de olhar o céu. Não dá um passo maior do que a perna para não tropeçar ao mesmo tempo que avalia o Grupo CS em 500 milhões de Euros.

Toda esta informação e mais aquela que não vale a pena mencionar, se encontra à nossa disposição em diversos sítios da Internet. Pormenores do “íntimo” do Sr. Carlos Saraiva que não conhecia e que só por curiosidade fui procurar por ter visto no telejornal das 13 horas duas ou três dezenas de trabalhadores reivindicando salários em atraso.

Pelos visto a tal capacidade de antecipação que possui para adivinhar as necessidades das pessoas só diz respeito aos hóspedes dos “resorts” de luxo como por exemplo o CS de Vila do Golf - Beach & Golf Suites. Ou para os hóspedes do CS Salgados Grande Hotel onde desfrutam, dado a tal capacidade que possui, de piscina, jacuzzi, sauna, banho turco, duche de contraste, salas de massagem (talvez incluindo a tailandesa), ginásio e cabeleireiro.  

Locais luxuosos, frequentados por pessoas com altos rendimentos, construídos por pessoas de muito baixo rendimento, a quem não pagam o preço do seu trabalho, aliás, única coisa que têm para vender. Os tijolos devem ter sido pagos! O cimento, a pedra, o ferro, o vidro e por certo o mármore das casas de banho também!

Leio por fim que “o Grupo Carlos Saraiva tenciona regularizar a situação até ao final de Janeiro pagando a fornecedores e trabalhadores, após desbloquear as verbas do plano de saneamento assinado pelo banco e a saída da construção, que motivou mais de 300 despedimentos”.

Considerando o apregoado humanismo do Sr. Saraiva, que gosta
de olhar as estrelas no céu, não lhe seria possível, adiantar da sua conta
corrente o dinheiro para pagar aos trabalhadores que contribuíram para o
acumular do seu pecúlio? Caramba! é para o pão e o leite com que alimentam os filhos!


Pois é! Os culpados são os bancos que financiam não só aqueles que precisam de um teto para morar mas também aqueles que se lançam em grandes projetos, como o seu, Sr. Saraiva. Se os primeiros abrem falência, perdem a casa para o banco credor e os segundos, ao abrir falência, continuam a morar nas suas bela moradias e a viajar nos seus automóveis de gama alta.

Vá lá, Sr. Carlos Saraiva. Pague o que deve aos seus trabalhadores. Eles celebraram um contrato consigo (qualquer que ele tenha sido) e não com os bancos.  

E se por acaso o plano de saneamento não fosse possível?
A.M.

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