Abrimos, distraídos, o álbum de Menina e Moça que contem um desenvolvido cancioneiro de amor. Foi adquirido por um jovem de 20 anos que, talvez impelido por forte paixão, o adquiriu em 1930. Os versos estão divididos pelos meses do ano e, entre cada um destes, existem algumas folhas em branco para anotações referentes ao mês anterior. Aliás, o subtítulo do livro é: “Agenda de Lembranças”.
Mas aquele jovem não transcreveu nenhum sentimento, nenhuma emoção… nenhuma lembrança, e aquelas folhas, que podiam revelar factos importantes para a compreensão do passado de alguém cuja memória nos é muito querida, continuam teimosamente silenciosas. Apenas sabemos que aquele jovem levou aquele livro consigo quando cinco anos mais tarde se casou.
Os versos, na maioria sonetos, passam transversalmente sobre os diversos períodos literários. Podemos tropeçar em Sá de Miranda e dar uma cabeçada em António Boto depois de termos sido atropelados por Olavo Bilac. Se conhecemos alguns dos autores escolhidos para compor este almanaque há outros que representam uma autêntica incógnita.
Neste momento devo traçar um paralelo entre as parcas hipóteses de esclarecimento naquela época com as que existem nos nossos dias e cuja diferença é abissal.
Por exemplo:
Mal se confrange na haste a corola sangrenta
E o punício vigor das pétalas descora.
Já no ovário fecundo e intumescido, aumenta O escrínio em que retém os seus tesouros. Flora!
E ei-la exsurge a Romã. Fruta excelsa e opulenta
Que de acesos rubis os lóculos colora
E à casca orbicular, áurea e eritrina ostenta
O ouro do entardecer e o paunásio da aurora! Fruta heráldica e real, em si, traz à coroa
Que o cálice da flor lhe pôs com o mesmo afago
Com que a Mãe Natureza os seres galardoa!
Porém a forma hostil, de arremesso e de estrago,
Lembra um dardo mortal que o espaço cruza e atroa
Nos prélios ancestrais de Roma e de Cartago!
São versos do brasileiro Emílio de Meneses. Não conhecendo o poeta surge a vontade de ser esclarecido. A dificuldade em procurar informação nos anos 50 era tal que imediatamente passávamos sobre as dúvidas seguindo em frente.
Agora, ao reler algumas páginas deste almanaque, perante o descuidado “deixa andar” da juventude, só agora surgiu o “ora vamos lá ver” de velho caturra.
E como é fácil encontrar o que queremos saber!
A biografia foi fácil.
Punício e exsurge também.
Mas que raio significa paunásio?
Ó Emílio, tu és um parnasianista, eu vi, mas… paunásio da aurora? - não havia necessidade, né?
Caramba, não sei onde mais hei-de procurar. No Ciberdúvidas” não existe nenhuma entrada e não consegui colocar a dúvida porque estão de férias até Setembro.
Entretanto dão-se alvíssaras.
A.M.
3 comentários:
Não admira.
"Ao fundar-se a Academia Brasileira de Letras, em 1897, ele teria sido também um dos fundadores, mas havia preconceitos contra a sua maneira boêmia de viver. Entretanto, foi eleito para a instituição em 15 de agosto de 1914, sucedendo a Salvador de Mendonça. Deveria ser saudado por Luís Murat. Emílio compôs um discurso de posse, em que revelava nada compreender de Salvador de Medonça, nem na expressão da atuação política e diplomática, nem na superioridade de sua realização intelectual de poeta, ficcionista e crítico. Além disso, continha trechos argüidos, pela Mesa da Academia, de “aberrantes das praxes acadêmicas”. A Mesa não permitiu a leitura do discurso e o sujeitou a algumas emendas. Emílio protelou o quanto pôde aceitar essas emendas, e quando faleceu, quatro anos depois de ter sido eleito, ainda não havia tomado posse de sua cadeira."
in: academia.org.br
Então e o paunásio?
Não há novas?
Abraço,
A.M.
Nem rato...
Será alguma coisa parecida com "entusiasmo"?
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