domingo, 18 de dezembro de 2011

Assoai-vos a este guardanapo

Quando, a medo, algum moderador, chama a atenção aos economistas entrevistados para os chorudos ordenados e mais subsídios e benesses atribuídos aos políticos deste paupérrimo país, logo ouvimos a lengalenga do costume: Isso é uma gota de água no oceano da nossa dívida pública e não contribuiria absolutamente nada para equilibrar as finanças do país. Disseram-no há muito pouco tempo o catastrófico Medina Carreira e o bem-humorado Miguel Belezas. Estas sábias opiniões conduzem pacificamente o rebanho para o redil da conformação onde, no remanso da noite, resolvem poupar mais no pão, no leite e nas batatas, para salvar o país do afundanço final.
Quando oiço estas opiniões costumo pensar: Não resolveria mas moralizaria com toda a certeza. Penso… apenas, mas não falo; pode estar alguém a ouvir que logo responderá: - O que tu tens é inveja! O que, não me irritando, porque sou um tipo cheio de santa paciência, me obriga a perder o meu rico tempo com explicações que eu estou a ver sair pelo ouvido do outro lado.´
Ná, o melhor mesmo é o exemplo figurado do que se passa a este nível noutros países.
Estamos habituados a ver os políticos fazer comparações com o que se passa noutros países, que escolhem cuidadosamente, para implementar medidas gravosas sobre a populaça (como eu gosto deste termo!?). Ele foi sobre a despenalização do aborto, sobre o alargamento da idade da reforma, sobre o preço da saúde, o aumento do tempo de trabalho diário, a carga fiscal, etc., etc.
Penso que também tenho o direito d ir buscar um exemplo que os nossos políticos não conhecem ou, conhecendo, escamoteiam, ignoram ou desvalorizam.   
Não sentem uma pontinha de vergonha? Um piquinho dela que seja?
Desalmadas amebas!

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

E o abismo ali tão perto!

Em 18 de Junho de 1452 uma bula papal dirigida ao rei Afonso V pelo Papa Nicolau afirmava: "(...) nós lhe concedemos, por estes presentes documentos, com nossa Autoridade Apostólica, plena e livre permissão de invadir, buscar, capturar e subjugar os sarracenos e pagãos e quaisquer outros incrédulos e inimigos de Cristo, onde quer que estejam, como também seus reinos, ducados, condados, principados e outras propriedades (...) e reduzir suas pessoas à perpétua escravidão, e apropriar e converter em seu uso e proveito e de seus sucessores, os reis de Portugal, em perpétuo, os supramencionados reinos, ducados, condados, principados e outras propriedades, possessões e bens semelhantes (...)." Hoje, sem bulas,


papais ou de outra ordem qualquer, existem ”reinos” que invadem, buscam, capturam e subjugam populações inteiras reduzindo-as a uma perpétua miséria através do “missal” dos usurários. É a ditadura do capital em toda a sua plenitude!
Enquanto se considerar que a democracia é apenas poder-se criticar e contestar sem provocar a ordem pública a caminhada para o abismo prosseguirá, cada dia com o passo mais apressado.
A.M.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Não fomos nós que descobrimos o Brasil?


Alguem já perguntou ao Clinton se ele fala português?

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Homenagem

As Forças Armadas Portuguesas têm sido alvo de muitas críticas.Poderiam e deveriam ser críticas construtivas no sentido de melhorar e rentabilizar o seu funcionamento, particularmente em tempos de paz, já que quando necessitam dela para andar aos tiros é suportada e até elogiada pela sua eficácia e empenhamento nas missões que lhe são confiadas.
No tempo dos fogos, alguns maldizentes militantes, ouvi eu, que até já estou a ficar mouco, que os tropas deviam ir combatê-los em vez de ficar a dormir nos quartéis. Sou da mesma opinião, quanto de forma planeada e organizada se formarem sapadores bombeiros no interior das forças armadas. Caso contrário corre-se o risco de acontecer o mesmo que em 1966 na Serra de Sintra onde morreram 25 militares do Regimento de Artilharia Antiaérea Nº1, sedeado em Queluz, enviados, sem a devida preparação e desenquadrados do comando operacional do combate àquele incêndio.
A memória é curta para muita gente que cega pelo desejo de se evidenciar semeia opiniões sem cuidar da sua exequibilidade, algumas vezes desconsiderando e ofendendo os agentes envolvidos, no caso em apreço – os militares.
Não acredito que o destino de cada um esteja determinado por qualquer vidente omnipotente, e portanto também não creio que qualquer maldição que eu lance sobre alguém se concretize.
Mas ao saber do drama de Caxinas e de quem contribuiu para resgatar da morte todos os pescadores naufragados há 3 dias, só me apetece rogar uma praga:
Que qualquer desses críticos se veja perdido no mar com o barco metendo água belas brechas do casco, quando já não houver uma esquadra 751 que fazendo jus ao seu lema “Para que outros vivam”, os vá salvar!
Como vingança, amanhã quando for beber a bica e passar pelo contentor do lixo, vou desfazer-me do “Equador”.
A.M

domingo, 27 de novembro de 2011

Ai, que lindas figuras!

Amigos!... Desta vez vão quinar.
Antigamente, no tempo das faúlhas, havia o maquinista e o fogueiro. O maquinista conduzia o monstro e prestava atenção aos semáforos. O fogueiro, às pazadas ateava o lume para aumentar a pressão na caldeira.
Os modernos fogueiros ateiam as hostes futebolísticas para aumentar o facciosismo e o ódio entre os adeptos dos clubes.
Não contem comigo!

“O autocarro do FC Porto foi recebido pelos adeptos no estádio do dragão com o lançamento de petardos, depois de a equipa ter perdido ontem à noite com a Académica por 3-0.”


"Vítor Hugo, acusado de tentar entrar no Estádio da Luz com um petardo no jogo de futebol Benfica -FC Porto viu a sua pena de sete meses de prisão ser transformada em 210 dias de multa, num total de 1.260 euros.”


“Um very light lançado por um adepto benfiquista atingiu, do outro lado do estádio, Rui Mendes. O engenho explosivo, que percorreu mais de 130 metros na horizontal, matou o adepto do Sporting, num dos casos mais negros de que há memória no futebol português. Hugo Inácio foi o autor do disparo, que se revelou mortal.”
Concluindo:
Aquilo a que os adeptos do Sporting chamam jaula é o mesmo que o queijo (se pensasse) chamaria à rede que o protege das moscas.
Por isso, os dirigentes e adeptos do Sporting  deviam agradecer a colocação da rede que os protege dos petardos e very lights lançados pelas torcidas encarnadas.
Ou já se esqueceram do very light?


Enquanto gastamos briquetes com estas ninharias os verdadeiros e importantes problemas do nosso tempo passam-nos ao lado e só lhes vimos os rabos.
A.M.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Merci, Millôr!



No meio da praça, ainda ontem ocupada por feirantes, encontrava-se agora um pavilhão desmontável de ferro e plástico. Sobre a entrada um atractivo cartaz anunciava: “Feira do Livro”. Da rua, através do plástico transparente, viam-se as longas bancas cobertas de livros, ora perfilados ora desordenadamente amontoados sobre as compridas bancas.
Quando entrei não havia ninguém para além da jovem empregada, que solicitamente me atendeu. Lá fora, ali mesmo ao lado, a esplanada de um café encontrava-se repleta de gente que gozava o sol daquela manhã fim de Outono.
Que não! Que só queria dar uma vista de olhos, agradeci.
De um modo geral para este tipo de digressão não levo planos preconcebidos e a maioria das vezes não compro nenhum livro, a não ser em condições excepcionais em que deparo com o segundo volume de uma obra de que só tenho o primeiro, como aconteceu há tempos quando deparei com o “Trinity” que me faltava. Ou de uma outra em que num velho alfarrabista deparei com um trabalho de um autor secundário da minha terra natal em que narra os seus encontros e conversas com Ramalho Ortigão. Ou ainda da surpresa que me invadiu quando encontrei a publicação de Jorge de Sena, onde se encontrava o poema “Drama de um pai de família” que um amigo… deixa para lá… já passou.
Desta vez detive-me algum tempo em frente de um título: “Pif-paf”. O seu autor, Millôr Fernandes, transportou-me de imediato para a minha juventude e para a revista “Cruzeiro” dos anos 50 de que a belíssima Marta Rocha foi capa mais do que uma vez. Nesse tempo, Millôr era articulista desta revista com o pseudónimo de “Vão Gogo”, se a memória me não trai e cuja página era a primeira a ser lida.
Não esqueci os seus espirituosos pensamentos e as tiradas oportunas dos seus bonecos.
Desta vez, tinha que ser!
Paguei 2 euros e meio e meti o livro debaixo do braço.
Quer que embrulhe? – Perguntou-me a simpática atendedora.
- Não é preciso, é para ler já!

Nota: Abro com boneco e fecho com pensamento "profundo": Nos momentos de perigo é fundamental a presença de espírito, embora o ideal fosse conseguir a ausência de corpo”.

A.M.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

domingo, 30 de outubro de 2011

Sanguessugas mascaradas de Mecenas.

Quando se explica qualquer coisa a uma pessoa e, por mais que se tente, ela não compreende, é usual (para amigos de maior confiança) dizer-se:
- Queres que te faça um esquema?
Claro que nem tudo se pode esquematizar, principalmente quando se trata de questões sentimentais. Mas quando se trata de "caroço", nem o mais leigo em matemática deixa de compreender que se uma carcaça custa 20 cêntimos, 5 custarão 1 euro.
No caso em apreço, será fácil verificar as rotas do "caroço": para onde vai e de onde vem, quem deve e a quem e principalmente quem lucra, quem vive à custa do défice dos outros, como agiotas sem escrúpulos, monstruosas e insaciáveis sanguessugas.
E se o recurso ao crédito internacional se continua a fazer é porque dentro de cada família endividada existe um agente que mina e abre caminho para o “invejoso” especular.
Ai se essas famílias se unissem para gritar: BASTA!

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Relvas, para que te quero?

Estou a rebentar pelas costuras! Embora cosido com linha glacê nº 24, o tempo, os puxões e repuxões que ao longo dos anos fui sofrendo estão a abrir brechas cuja reparação é completamente inviável.
Hoje, por exemplo, que tinha destinado aproveitar esta aberta, anunciada pelos meteorologistas, para cortar a relva do jardim, dou de caras, com a notícia de que o Relvas me quer cortar os subsídios.
Entalado entre a relva e o Relvas decidi escapar-me para este recanto para meditar no assunto. Decidi cortar no Relvas e deixar a relva para outro dia.
Não é por acaso que eu também sou da opinião que esses dois apêndices subsidiários não deviam existir – o que deviam, já que os criaram, era dividir a soma dos dois subsídios por 12 e incorporar 1/12 em cada vencimento mensal. Como é evidente, o patronato, seja ele público ou privado, ao reter uma parte daquilo que faz parte do rendimento anual dos agregados familiares, ainda retira lucro, sobre a forma de juros, pela retenção desse dinheiro.
Miguel Relvas, julgando que o povo deste país é estúpido, acena de lá com o argumento de que há muitos países que só têm doze vencimentos. Pois haverá, e em qual desses países o rendimento das famílias, mesmo sem os subsídios, é inferior ao nosso?!
Relvas, se fosse honesto e estivesse interessado em dizer a verdade aos portugueses devia explicar-nos porque razão o nosso salário médio anual é apenas 35% do da Dinamarca, de 35,5% na Alemanha, de 37% na Bélgica, de 37,6 no Luxemburgo.
E se nos disser que é por causa da produtividade ser muito baixa, então perguntarei: - De quem é a culpa? Dos trabalhadores não deve ser, dado que, tendo emigrado para países com muito mais altas taxas de produtividade, certamente contribuem positivamente para as mesmas, facto que é unanimemente reconhecido, aqui e no estrangeiro.
Porque raio de carga de água os nossos investidores, tendo acesso à tecnologia de ponta, teimam em usar sistemas e equipamentos de 2ª e terceira geração? Deve saber melhor do que eu, dado que é uma pessoa viajada e com grande influência em países de elevado nível de vida.
E se por acaso não sabe é porque não é sócio do Clube Bloomberg, mas não desespere, pois no próximo ano será certamente convidado.
O que eu também gostava de saber é se este nosso ministro, quando parece sugerir que passemos para o sistema dos doze vencimentos, está ou não está a considerar o sector privado dado que há poucos dias o seu líder PM disse ao PR que cortar salários no privado é injusto e imprudente. Como não deve haver dissonância entre um ministro do grupo parlamentar e o seu líder governamental calculo que efectivamente os cortes nos subsídios são apenas para a função pública.
Falemos então do peso da função pública, que nos querem fazer crer ser a hormona das gorduras do estado. Um tipo qualquer (faz de conta que não conheço) sugere a degradação dos vencimentos dos funcionários públicos, de tal modo que ninguém lá queira ficar e ninguém queira entrar. Solução melhor seria matá-los! Com a raiva que anda no ar seria fácil constituir um pelotão de fuzilamento para dar cabo deles todos. Todos não, porque alguns têm de ficar para conduzir os popós dos senhores ministros e mais os dos seus amigos directores e administradores das empresas públicas e semipúblicas e talvez alguns contínuos para carregarem com as pastas dos ditos, para além, como está bem de ver, dos seus conselheiros e assessores, médicos, enfermeiros e segurança privados.
Este diabinho maldito, sabe melhor do que eu, porque já foi ministro das Finanças (vejam só) que se as forças políticas em alternância desde o 1º governo constitucional tivessem elaborado um plano para reduzir drasticamente o número de trabalhadores da função pública, hoje, 36 anos depois, o problema estaria resolvido sem causar sofrimento a ninguém. Basta pensar que 36 anos depois, se não tivesse havido admissões, já não haveria nenhum funcionário público no activo.
Para tanto bastava que calmamente os serviços fossem reorganizados de modo a que a introdução das novas tecnologias e novos métodos de trabalho fossem suplementando as saídas para a reforma.
Ter-se-ia evitado o aparecimento dos “messias de meia tigela” com soluções drásticas que vão colocar milhares de famílias em situação de insolvência.
Relvas, amigo, o povo não está contigo!
A.M.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Já encomendei um pinheirinho!

Tenho muitas esperanças que não me espoliem do meu rico subsídio de Natal.
Ela (a Esperança) dizem que é a última a morrer, mas parece-me que anda com a saúde muito em baixo! Coitada, cada vez morre mais cedo! Com a redução das verbas para a saúde ainda vai ser pior.
Conheço o caso de um amigo possuído de um ânimo inquebrantável, de um optimismo bárbaro, que bebia avidamente a vida, de tal modo, que morreram os dois na mesma hora– ele e a Esperança.
Não sou como ele e temo, apesar de me esforçar muito, nos momentos de depressão, lendo o livro de anedotas do Herman (que grande xaropada), não conseguir ir tão longe e tão fundo, como aquele amigo do peito.
Sou mais para o matemático, para o lógico, para a dedução científica, para a lei universal e intemporal, assim, as esperanças de que falo têm uma base robusta e indelével.
Ora experimentem apagar do orçamento da A.R. a rubrica dos subsídios de Férias e de Natal.
Caramba, também sou gente!

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Atitude mascarada

     Hoje, 24 de Outubro de 2011, tive a grata surpresa de saber que dois ministros do actual governo decidiram prescindir do subsídio de alojamento. Creio que nenhum deles deixará de ter um teto onde se abrigar, principalmente agora que regressou a chuva e o inverno está aí à porta. 
     O que não posso deixar de mencionar, apesar da moderação que imprimo aos meus comentários, é o facto de esta atitude ser consequência de críticas públicas e não de decisões tomadas no momento em que certamente muito penalizados e constrangidos assinavam diplomas que retiravam não só regalias, mas também direitos a quem não tem uma casa para morar, a quem corre o risco de despejo por não pagar a renda ao senhorio, ou por não conseguir pagar ao banco a amortização do empréstimo.
     De qualquer modo, registemos o facto. Pode ser que, perante estes exemplos, a vergonha, planta em perigo de extinção eminente, renasça e se multiplique.
     Seria preferível, como é evidente, que em vez de se brincar à caridadezinha, do género – eu prescindo do meu subsídio e eu do meu abono, ou do meu gabinete som secretária e carro com motorista à porta, ou de uma das três ou quatro mensalidades que recebo dos diversos conselhos de administração onde só vou de quando em quando – se legislasse para terminar com as mordomias da maioria dos políticos e dos seus amigos administradores de fundações e institutos que em vez de contribuírem para salvação da nossa economia ajudam a afundá-la. O que os impede? Têm a caneta e têm o poder!
     Não posso deixar de realçar a tentativa do Ministro da Administração Interna, tentando transformar um facto imoral, numa atitude honesta, humanista e altruista, ao realçar que foi tomada de livre vontade, visto que é um direito há muito tempo previsto na lei.
     Estará? Se está, é um privilégio, e como tal deve acabar. Tendo sido retirados alguns direitos a grupos socioprofissionais com o argumento de que eram privilégios, porque terá que ser a atitude deste sr. Ministro considerada como um caso exemplar de solidariedade.
     O sr. Ministro da defesa seguiu o exemplo.
     Para os militares, se bem me lembro e a lei não foi alterada, só têm direito ao subsídio de alojamento aqueles cuja residência se encontre a mais de 50 Km da unidade onde estão colocados.
     Por acaso estará Algés a mais de 50 quilómetros do Parlamento,
     O privilégio é uma excepção ao direito comum.
     Em que ficamos?
     A excepção não devia ser atribuir subsídio de alojamento a quem não tem casa e não a quem tem duas?!
A.M.

sábado, 22 de outubro de 2011

"A minha alma está parva"

     Já lá vão seguramente mais de 60 anos em que, perante um acontecimento invulgar, ouvia a minha mãe exclamar: - “A minha alma está parva”.
     O meu característico cepticismo, que já me fez passar por algumas vergonhas, mas tem evitado a queda em muitas armadilhas, também neste caso, me impediu de considerar a minha mãe a autora desta exclamação. Nunca a questionei sobre isto, mas sempre acreditei que, dado ter sido uma inveterada leitora, bebera a frase em qualquer livro.
    Dá a ideia que isto não vem a propósito de nada e é metido aqui à martelada. Mas não é assim.
    O que havia eu de dizer depois de saber que quem ofereceu milhares de dólares para apanhar Kadafi vivo ou morto, está agora muito preocupado em apurar como é que ele foi morto depois de ser capturado, na ingénua tentativa de defender o estado de direito que devia vigorar, como lei fundamental, nos seus próprios países, exemplos da democracia, padrões do comportamento exemplar?
   Claro, só me ocorreu dizer: “A minha alma está parva”
     
Depois, logo de seguida, leio comentários de pessoas que vão à missa, mas devem roer raivosamente a hóstia, em que tecem hossanas não só à sua morte mas também, e principalmente, ao modo bárbaro como foi liquidado. Sou, por esta razão, levado a crer que ou ainda vivem no tempo do “olho por olho dente por dente” do Moisés ou então simpatizam com os esbirros da Inquisição.
E, como não podia deixar de ser – a minha alma fica outra vez parva.

Entretanto, como a admiração e a surpresa podem surgir vindas “do céu ou do inferno”, leio num diário desta manhã que Jon Bon Jovi abriu um restaurante em Nova Jérsia, onde oferece comida rápida e de alta qualidade tendo os clientes a opção de não pagar, em dinheiro, podendo saldar a conta em horas de trabalho. Os clientes podem deixar o dinheiro que quiserem num envelope. E, o que é mais surpreendente: ementa de saladas elaboradas, comida caseira e nada de hambúrgueres de minhoca.
E mais uma vez fico com a alma completamente parva!

De caminho, fico preso na notícia da menina chinesa que foi atropelada duas vezes e ignorada pelas pessoas que passavam, sendo mais tarde arrumada para um canto do passeio por um almeida lá do sítio. Teve morte cerebral… nunca vai saber o que lhe aconteceu, mesmo que sobreviva.
E a minha alma fica esfrangalhada!

Ainda, preocupado com o facto de estar a usar uma frase que não é minha fiz uma incursão na net. Descubro nessa altura, e juro que não fiquei nada admirado, que existe um livro com o título “A minha alma está parva”. É relativamente recente e portanto a minha mãe não o podia ter lido embora admita com alguma dificuldade que o tenha lido agora, se lá onde se encontra, alguma editora resolveu publicar este livro de Clara Pinto Correia.
E a minha alma só não ficou completamente estraçalhada porque descobri um bacano, gente boa e optimista, que pôs Obélix a exclamar: - A minha alma está parva e o meu espírito taralhouco!
A.M.
Nota: O título do livro não está colocado entre aspas, o que até nem é de admirar…    

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

"Cretináceos"

     Se eu acreditasse na ressurreição como algumas pessoas de que vou lendo os comentários ou simples desabafos sobre a nossa grave situação económica, creio que, regressando a este mundo milhares de anos depois, sem ter perdido a memória, e encontrando um estado ainda mais caótico e sobretudo injusto, ainda ouviria dizer que a culpa é do Sócrates.
     O Sócrates, que “fugindo” para Paris, não fez mais do que outros trânsfugas de cores muito parecidas como são os vermelho/amarelos, mas que, por cego sectarismo, não são mencionados, como se as suas omissões, os seus erros tivessem acontecido noutra galáxia.
    E que dizer daqueles que apesar dos erros cometidos, regressam ao poder como se tivessem ido à barrela. Brancos e puros como castas donzelas!
      Sei que esta gente é movida por um sectarismo primário que mesmo perante as evidências não se vai cansar tão cedo de desculpar as calinadas do seu “Chefe” lançando as culpas aos seus antecessores imediatos. Imediatos, porque existem outros, mais longínquos, que neste percurso de 36 anos, parecem ilibados da responsabilidade do estado de insolvência que paira sobre as nossas cabeças. Dos primeiros anos a culpa foi de Vasco Gonçalves e dos últimos é Sócrates.No meio, ficam mais de 30 anos em que ninguém é responsável.
     Um dos problemas mais graves que é a reforma da administração pública, e podia ter sido feita ao longo deste tempo com moderação, bastando para isso que tivesse sido elaborado um plano em que as novas tecnologia fossem compensando o trabalho dos funcionários que iam passando à reforma, não foi feito, pela simples razão de não ter havido nunca entendimento dos partidos que se têm alternado no poder, quanto às reformas essenciais. Agora, quer uns, quer outros são os responsáveis pelos despedimentos massivos e acelerados na função pública, cuja única finalidade é transferir essas despesas do Estado para a Caixa geral de Aposentações como se uma e outra não dependessem do crédito externo.
     Muita gente já percebeu e algumas opiniões que surpreendem pela sua origem reforçam a ideia, que o sistema está errado, e alguma coisa tem que mudar.
     A teoria de que o mercado se controla a si mesmo e deve deixar-se à deriva da oferta e da procura, defendida pelos neo-liberais e seus sequazes, conduziu o mundo civilizado, assim auto-denominado, para uma situação, cuja ruptura se adivinha com consequências muito trágicas.
     A sobrevalorização que estas forças deram à liberdade de expressão como ponto fundamental da Democracia, desvalorizou as outras democracias: a económica, a justiça, a saúde e a educação.
     Hoje, pessoas que têm de seu e as que não têm mas almejam ter, procuram manter este statu quo.
     Estão no seu direito, mas pelo Amor de Deus e seu Filho Crucificado, deixem de ser palavrosos, tanto agora como no cretáceo.
     Amen!

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Poupemos!

Há dias veio parar à minha caixa de correio um “panfleto” (chamemos-lhe assim) que continha o nome de diversos administradores de empresas públicas e semi-públicas denunciando o que recebem pelas presenças nos respectivos conselhos de administração.
Alguns deles já estiveram presentes em programas televisivos debitando a sua opinião sobre a crise económica e os caminhos para a resolver do qual sobressai em primeiro lugar a poupança. É preciso poupar! – Recomendam. É preciso fazer sacrifícios! – Acrescentam.
De sacrifícios falou também S. Exa. o Presidente da República:
                 “Acabaram as ilusões”.
                 “Os sacrifícios não bastam”.
                 “É necessário pôr a economia portuguesa a crescer”. 
                 “É crucial poupar mais, trabalhar mais e melhor”.
E recomendou:
                 “Os detentores de cargos púbicos devem dar o exemplo.”

Acabaram as Ilusões? Para quem?
Quem é que tem de poupar mais?
Quem é que tem de fazer sacrifícios?

Exemplificando:
Um desses administradores recebeu 193.000 euros num ano, tendo participado em 33 reuniões, o que dá 5.300 euros por reunião. Se as reuniões durassem, que não duram, oito horas teríamos 33x8 = 264 horas de trabalho, que sendo quociente de 193.000 euros representaria cerca de 730 euros por hora.
Este administrador participou em diversos programas de televisão como economista e também, tal como outros recomendou poupança e sacrifícios.

Creio que a ele e os outros como ele (que são muitos) nunca foram confrontados com um pedido de auxílio de outros (que são muito mais) no sentido de lhes ser explicado como e onde devem poupar.
Foi o que aconteceu a um economista depois de numa estação radiofónica afirmar que já há mais de dois anos vinha dizendo que era preciso poupar.
- Desculpe, Dr. acabei de o ouvir e gostava que sugerisse onde e como devo poupar, para não me endividar mais do que já estou.
- Sei lá! Olhe, por exemplo, reduza o consumo do tabaco.
- Calha bem. Eu nem fumo.
- Faça apostas mais moderadas no Euro milhões.
- Nunca joguei.
- Então deixe de ir ao futebol.
- Já me deixei disso, desde que o Matateu saiu do Belenenses.
- Use menos vezes o carro. Vá para o emprego de autocarro ou de comboio.
- Não tenho carro e às vezes até vou a pé
- Mau, experimente ir jantar fora, menos vezes.
- A última vez que fui comer fora de casa foi há 10 anos. Fui com a mulher e os filhos ao Frango na Púcara em Almargem do Bispo.
- E não consegue poupar no consumo da água, do gás, da electricidade?
- Lá em casa está estipulado que ninguém pode estar debaixo do chuveiro mais de minuto e meio. Há dias vendo que se tinha esgotado o tempo a que o meu filho tinha direito – zás, fechei o esquentador. Quando ele saiu a tiritar, avisei-o: – Para a próxima fecho-te a água!
 - Caramba, deve haver qualquer gasto que possa evitar. Em vestuário, calçado, por exemplo?
- Ultimamente a mulher corta a fralda das minhas camisas para fazer os colarinhos que de tão puídos até já se vêem as entretelas. O calçado? Vou comprar aos ciganos ou aos chineses, daqueles “use e deite fora”. Mandar pôr meias solas sai mais caro.
- Realmente não vejo…
- Para lhe poupar mais sugestões digo-lhe que só corto o cabelo 4 vezes por ano, só faço a barba de três em três dias porque as gilettes são caríssimas, lavo a cabeça com sabão azul, só ponho meio centímetro de pasta na escova de dentes e uso papel higiénico de folha simples.
- Sim, realmente… Tenho que ir andando.

E foi. Enfiou-se no volvo S 60 e saiu acelerado. Era hora de almoço e a mulher estava à sua espera no Gambrinos.
A.M.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Subversão (2)

Isaltino pede o afastamento da Juíza de Oeiras, que mandou prendê-lo.
Juíza vai ser investigada por um magistrado do Conselho Superior da Magistratura nomeado para o efeito.
Corre o risco de ser demitida do cargo e pode mesmo ser constituía arguida, condenada e presa. Dois anos de prisão talvez na mesma cela onde Isaltino ficou menos de 24 horas.

Fico por aqui porque já começo a ficar isaltinado e a minha bomba, mal ferrada, tende a perder a pressão.
A.M.

Subversão (1)

Jardim pede “votação esmagadora” para dar uma “sova no Governo”.
Jardim é eleito com maioria absoluta.
Uma comissão, nomeada para o efeito, com representantes dos dois partidos que se “troikaram”, vão deslocar-se na próxima semana à Madeira para pedir mais autonomia para o “contenente”.
A.M.

sábado, 1 de outubro de 2011

Sobe e desce

O “Sobe e desce” na última página do Público de hoje, dia 1 de outubro de 2011, aprecia quatro individualidades.

Pinto Balsemão sobe porque continua a controlar o capital da Impresa. Admitamos que para ele e para a sua família é ótimo pois continuam a ser “donos” na SIC.


 Rui Rio também trepa pela inequívoca demonstração de independência em relação ao poder central ao exigir-lhe mais sensatez na reforma autárquica. Quem não deve gostar nada desta apreciação é o Sr. Presidente da Comissão de Moradores de Monte Tadeu.


A Isaltino Morais espetam-lhe com a seta a descer. Então o homem é solto da prisão e isso não é bom para a sua imagem? Quando ele foi para a gaiola é que lhe deviam atribuir a seta cinzenta com o bico para baixo. Hoje deviam ter colocado em seu lugar aquela senhora que anda por aí a carregar uma balança e de olhos vendados. Essa é que anda a portar-se muito mal.


A quarta personagem é Ivo Morales. Esta, vê-se claramente que foi tirada com um gancho de um sítio bem apertado. Pode não gostar-se do homem, por ser índio, por ser amigo do Chávez, por ser inculto, por ser baixote ou outra moléstia qualquer.


O argumento dado para o empurrarem para baixo é de uma “tendencionite” e palermice que espanta qualquer um. Como ele, na sequência de manifestações que foram reprimidas com violência, além de pedir desculpa aos manifestantes, de ter  cancelado a construção da barragem e demitido dois ministros, ainda acrescentou: - Ninguém no Governo imaginaria tal ato.


Então o/os autores do “Sobe e desce” resolveram pegar nesta frase para interrogar: Porquê então as duas demissões? – e pumba, seta para baixo


Se me perguntassem a mim eu teria respondido:


- Foi precisamente porque os dois ministros deviam ter imaginado e não imaginaram que poderia haver cargas policiais sobre manifestantes em protesto é que foram demitidos.


Mas claro, habituados como estamos a ver descarregar a responsabilidade do que corre mal num qualquer sistema, para o “elo mais fraco”, desvalorizamos uma atitude deste teor.


Não sei se no Público já existia o “Sobe e desce” quando nalguns governos passados houve cargas policiais violentas sobre manifestantes contra despedimentos, ou contra a construção duma estrada, ou contra o encerramento duma escola. Para onde apontaria a seta?


Para o céu ou para o inferno?
A.M.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

O camelo e o buraco da agulha

Esta manhã enquanto o Jorge me serve a bica matinal no café da esquina, onde diariamente e à mesma hora vou desde que me reformei, comunica-me:  
- O Tino foi preso!
- Já li a notícia – respondo eu
- Amanhã já está na rua – acrescento.
- Não acredito – retruca ele.
- Aposto as bicas do mês – proponho eu.
- OK! Combinado.
Hoje, à hora do almoço ainda não se sabia muito bem se o Tino era solto ou não.
Li alguns comentários e, como de costume, aparecem alguns a regozijar-se com o facto de, finalmente, prenderem um personagem público, muito conceituado, que até foi reeleito depois de ter sido condenado a 8 anos de prisão.
Ingénuos!
Isto, quando muito, foi a expressão de uma Justiça, que envergonhada, quis mostrar trabalho e independência.
Então ainda não viram que quem tem caroço (a maior parte adquirido através do desfalque do erário público) pode sustentar durante anos uma equipa de advogados que, conhece todas as portas e buracos duma lei feita à medida da gente rica e influente e que de recurso em recurso vai mantendo em liberdade, os condenados em primeira instância.
Talvez, a maior parte das pessoas julgasse que depois do recurso para o Tribunal Constitucional, terminaria o processo. Quem ia pensar que outro recurso para o mesmo tribunal ia permitir mais um adiamento para o cumprimento da pena, que começando por ser de oito anos já vai só em dois? Poderá ainda haver um terceiro?
Talvez não haja, digo eu que não percebo patavina destas coisas.
Será que não há ainda o Tribunal Internacional?
O Estado que se ponha a pau pois talvez tenhamos que pagar ao condenado choruda indemnização.
Que pena que eu tenho de não ter apostado com a minha mulher a lavagem da loiça durante oito dias quando há dias se soube quem era o principal suspeito do caso “Feteira”.
Eu disse logo:
- Se ele vir que há perigo já cavou para longe!
- Foge agora – respondeu ela.
Parece que ainda não fugiu mas dizem que está em parte incerta.
Vai uma apostinha?
A.M.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

O Crime de Serrazes

De facto, não tenho a mais pequena dúvida de que, com o peso dos anos, aumenta a atenção que damos a factos que, ou nos passavam despercebidos ou simplesmente desvalorizávamos.


Creio que isto se deve a três factores principais.
1º - A importância que atribuímos ao “tempo que nos resta para viver” e que, imparavelmente, nos conduz para um estádio de alerta muito mais apurado e interessado.
2º - O conhecimento, e apesar de tudo, também o saber, acumulados durante décadas.
3º - E não menos importante: o interesse em procurar ainda, apesar da idade, uma verdade que nos escapa, mas que perseguimos ainda, como se procurássemos arranjar um fecho dourado e digno para o nosso fim.
Deste modo, não há um único dia em que numa conversa com familiares ou amigos, numa notícia da imprensa falada ou escrita, às vezes até num sonho, surjam as molas impulsoras que nos levam a reviver, compreender e relacionar com a actualidade, factos passados há muitos anos.
Tendo iniciado um trabalho para uma amiga de família que muito estimamos e que consiste em copiar um livro antigo, editado em 1922, sobre um crime muito falado na época e referenciado como “Crime de Serrazes”, com a finalidade de fazer uma pequena edição familiar, fui confrontado com factos que buliram com a minha imaginação e me levaram a tentar compreender os valores e comportamentos daquela época quando comparados com aqueles com que hoje nos defrontamos.
Como é evidente não vou maçar ninguém com a pesada retórica dos julgamentos, da acusação pública e privada, da defesa e ainda com as repetições exaustivas das testemunhas. Só pretendo referenciar um outro aspecto que despertou o meu interesse.


Por exemplo:
O segundo julgamento deste crime, depois do primeiro feito S. Pedro do Sul, realizou-se em Coimbra. Dado o grande impacto que teve a nível nacional, com o aproveitamento exploratório da imprensa, (de que alguns jornais são hoje dignos representantes) geraram-se alguns conflitos, que a certa altura envolveram a Universidade de Coimbra acusando-a de favorecer ou apoiar uma das partes em litígio.
Geraram-se no interior da universidade alguns movimentos que através de declarações para a imprensa ou mesmo para o ministro da justiça, procuravam justificar e provar a neutralidade de Universidade neste caso.
Transcrevo a declaração que foi enviada para o Ministro da Justiça à época.
"Tendo-se praticado em Coimbra, depois do julgamento do crime de Serrazes, factos que, representando a subversão dos mais elementares princípios da ordem, e de desacato às decisões judiciais, constituem ao mesmo tempo uma ofensa à dignidade de homens que cumpriram honradamente um dever de consciência, os abaixo assinados exprimem o seu protesto contra esses excessos, sem que isto signifique de modo algum uma censura ao gesto daqueles que tenham assinado o pedido de indulto, movidos unicamente por um sentimento de piedade."


Coimbra, 30 de março de 1922


Eugénio de Castro
Mendes dos Remédios
Oliveira Guimarães
Gonçalves Cerejeira
Guilherme Moreira
Álvaro Villela
Alberto dos Reis
Paulo Merêa
Fésas Vital
Magalhães Collaço
Oliveira Salazar
Beleza dos Santos
Manuel Rodrigues
Cabral Moncada
Mário de Figueiredo
Adelino Vieira de Campos
Serras e Silva
Elísio de Moura
Álvaro de Mattos
Novaes de Sousa
Souto Rodrigues
Bernardo Ayres
Euzebio Tamagnini
Egas Pinto Basto
Luiz Carrisso
Pereira Dias


Lendo os nomes dos declarantes, deu-me na veneta investigá-los, agora que nem é preciso ir à Torre do Tombo, pois ela vem até nós. Se tiverdes o mesmo interesse verificareis que uma grande parte dos assinantes vieram a ser membros dos governos de Salazar como responsáveis em diversos ministérios e outros, que pela idade deviam ser professores, eram apaniguados de João Franco e tinham servido a monarquia até à implantação da república. Creio que Gonçalves Cerejeira era professor de teologia da Universidade, disciplina que mais tarde acabou por ser extinta.


Ora bem! Afinal o que mudou neste país?
Creio que foram só as moscas!
Amen!
A.M.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Desisto! (II)

Hoje apetecia-me dizer mal de alguém: agarrar num gajo qualquer e esfacelar-lhe a prosápia e o ego até nem sobrar um pedacinho maior do que aqueles que saem duma 1,2,3 a trabalhar 10 segundos.
Pensei no Alberto, porque está na moda e porque acha que a gente do ”contenente”  é que se endividou e os portugueses da Madeira não têm nada com isso. Ele afirma que lhe está a ser movida uma perseguição política por forças conluiadas da Maçonaria, dos comunistas, dos socialistas, da CIA e do KGB.
Mas, como estou a planear ir passar o fim do ano à Madeira, receio que o Alberto não me deixe desembarcar. Além disso ele tem obra feita e pelo tom de voz que usa nas suas contestações não arrecadou nada para si próprio. Consta, nas conversas à boca pequena, que está falido. 
Depois, pensei nos arguidos do antiquíssimo caso “Casa Pia”, qualquer deles, mas achei que eles são menos culpados do que a própria Justiça que anda para aí num desatino a ver se arranja alguém que lhe afira a balança. Tirei daí o sentido.
Também considerei o nosso PM como vítima possível da minha maledicência. Mas depois de pesar muito bem a justeza da crítica, acabei por achar que o verdadeiro culpado da nossa mísera situação é o Troica, que eu não conheço, mas não deixarei de investigar na Net para lhe conhecer o perfil. Ele que se cuide!
Pois é, podia muito bem cilindrar o Sócrates. Até nem seria desajustado, dado que toda agente acha que ele é que é o verdadeiro culpado do défice que nos estrangula. Certamente até seria aplaudido de pé. O ex-primeiro deve estar escondido aí em qualquer lado, dizem que em Paris mas eu acho que ele está com os lamas no Tibet a meditar profundamente e só aguarda que os portugueses comecem todos a gritar: -Volta, Sócrates, estás perdoado! Também desisti.
Diversos nomes passaram no ecrã da minha cachimónia: O Esaltino, a Fátima, o Valentim, até mesmo o Godinho Lopes por causa daquela coisa dos transatlânticos alugados para a expo 98, ou porque não do “Barão Vermelho” que escondido naquela brumosa Londres não deixa de cumprir diariamente o seu Five o’clock tea.
Estava eu nisto quando recebo um email a pedir para assinar uma petição contra a taxa de 1,5 euros que os bancos querem lançar sobre cada levantamento no multibanco. Só não fiquei varado, ali mesmo, porque estava sozinho em casa e não havia ninguém para chamar o 112 para me oxigenar a pulmoeira.  À hora do almoço avisei a minha mulher que tínhamos de voltar aos colchões de palha de milho para esconder as nossas economias pois aqueles tipos dos bancos querem-nos sonegar alguma parte, para terem, pelo menos, os mesmos lucros que no mesmo período do ano passado.
Ainda tentava restabelecer-me de mais esta desagradável e onerosa notícia quando no telejornal  vejo um gajo montado numa bicicleta a pedalar sub-aquaticamente dentro de uma piscina. Com a garrafa de oxigénio às costas pedalou até bater o recorde do Guiness que era de 3 quilómetros e tal.
Boa! – disse eu.
E não me lembro de mais nada.
Acordei deitado numa cama e a ver tudo branco à minha volta.
O tipo que se debruçou sobre mim também estava vestido de branco.
Vi logo que não estava no céu pois não tinha visto aquela luzinha que alguns privilegiados dizem que vêem quando voltam para trás a meio da viagem.
- Mas como é que eu vim aqui parar? – Perguntei.
- Onde é que eu estou?
- Tenha calma, está tudo sob controlo. Está no hospital do Telhal.
Pronto, pensei eu antes de me passar outra vez, chegou o dia há tanto tempo anunciado:
Os malucos estão a meter todos os racionais no manicómio.
A.M.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Vai chover ferro!

Eles dizem que vai cair do céu uma máquina que andava a palpitar sobre os buracos do ozónio e de forma algo incontrolável. Dizem que a queda se vai dar no dia 26 deste mês de setembro que, embora já não tenha grande significado para mim, é o dia mundial da contraceção, celebrado por uns e estigmatizado por outros.

O jornal informava, suponho que para nos acalmar, que a possibilidade de alguém levar com ele na tola era de 1 em 3.200, ou seja 0,05 por cento. Claro que se vai desintegrar e se as peças maiores podem matar alguém, as porcas e os parafusos vão certamente fazer alguns galos.
Perante esta percentagem pus-me a pensar como é possível que os ativos apostadores do “euro milhões”, se arrisquem a sair à rua nesse dia. Sim, porque têm incomensuravelmente mais possibilidades de levarem com uma peça (ver fotografia) no toutiço do que serem premiados naquele jogo.
Eu vou sair, mas por causa do azar que há anos não me larga, vou levar na cabeça um velho capacete da primeira grande guerra que um meu antepassado me ofereceu há muitos anos.
A máscara de gás é que já se estragou.
A.M.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Conversa fiada

A notícia:


Patrões não aceitam que trabalhadores levem fundo se saírem.
Só não me escangalhei todo a rir porque o caso não é para brincadeiras.
O assunto é sério e merece reflexão.
1 – Mesmo que os patrões aceitem sem reservas pagar 1% sobre o salário e diuturnidades dos trabalhadores ao seu serviço, essa despesa passará a fazer parte do custo final do produto. Mais tarde ou mais cedo o empresário será ressarcido: Condicionando o salário do seu empregado em ajustes futuros, aumentando o preço do produto final, ou as duas coisas ao mesmo tempo.
2 – Mas a parte caricatural pode resumir-se à resposta a esta pergunta:
Qual o número de trabalhadores despedidos por ano e qual o número dos que se despedem?
No contexto económico em que nos encontramos, com mais de 600 mil desempregados quantos trabalhadores se despediram das suas empresas?
Todos? Metade? Dez por cento? Talvez nem um por cento.
Ora informem-nos lá desse número, já que têm sempre as estatísticas em dia.
Nesse altura todo o país vai rir a bandeiras despregadas!


Nota: Segue o meu pedido de desculpas ao cartonista Nani que em "Vereda" produz os seus sugestivos "bonecos".
A.M.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Involução

Crise leva empresas a adiantar salários e a conceder empréstimos a trabalhadores – a notícia.
Aparentemente trata-se de um acto humanitário.
Quem terá coragem de criticar tal atitude quando ela se destina a ajudar um chefe de família que já perdeu o crédito no talho e na mercearia?
Ninguém. Nem eu tão pouco.
Contudo não posso deixar de me emocionar com situações como esta.
Emocionar e revoltar.
Vendidos ao desbarato alguns bens acumulados e empenhados os anéis, o relógio de cuco e os brincos que oferecera à mulher num dia de aniversário, o trabalhador vê-se, por fim, obrigado a empenhar a única coisa que lhe resta: A FORÇA DE TRABALHO.
Talvez nunca mais se possa desempenhar e fique toda a vida amarrado para pagar com juros tal empréstimo.

sábado, 3 de setembro de 2011

Silogismo

O Américo afinou.
- Rico? Eu? Homessa, sou um trabalhador.
Destas palavras e sem grandes cogitações pode formar-se um silogismo que vou cuidar de saber mais tarde se é falso ou verdadeiro.
Américo não gosta de ser rico. (premissa 1)
Gosta de ser conhecido como trabalhador. (premissa 2)
Logo, não se pode ser simultaneamente rico e trabalhador. (conclusão)
Ouvi dizer, ou se calhar sonhei que Américo, irritadíssimo com a classificação que lhe foi atribuída pela “Forbes” resolveu processar o director da mesma.
O advogado que o representa defenderá a teoria de que comparado com Bill Gates que tem 53 mil milhões de dólares, o Américo é um pobre trabalhador.
Caro Américo, só espero que daqui a dois anos, quando tiver a tua idade, não fique com a mania que sou rico e me zangue quando me chamarem trabalhador.
Se isso acontecer é porque estou gagá.
Cada um sabe de si… alguns momentos antes de se chegar a esse patamar.
A.M.