Os católicos chamam-me ignorante por não acreditar em Deus.
Porque odeio os livros, porque não tenho capacidade para entender o que está escrito nos manuais religiosos, porque sou teimoso como um burro, porque sou preguiçoso e nunca me preocupei em averiguar, estudar, aprofundar e vasculhar as bibliotecas á procura da verdade suprema, que numa simples equação me demonstre a razão da minha existência, sou considerado um náufrago mergulhado até ao nariz no mar da ignorância.
Não façam ondas!
Depois batem-me à porta as testemunhas de Jeová, tentando salvar-me a alma. Vêm regularmente. Eu pergunto-lhes se não têm um ficheiro onde eu esteja catalogado como ateu para evitarem a caminhada até à minha porta, mas eles respondem que, entretanto, eu posso ter sido atingido por um raio de luz que fragilize o meu estado de não crente.
Um desses apóstolos, que por acaso também era bombeiro, ainda sugeriu que na hora das aflições é que a gente invoca Deus e vai de me contar alguns episódios da sua longa prática assistindo sinistrados em acidentes rodoviários.
Como isto se passa “vis à vis” não há insultos, mas calculo que ao virar da esquina já vão comentando sobre a minha ignorância.
Também sou uma grande besta por não acreditar nas naves espaciais que circulam pela nossa atmosfera, carregadinhas de extraterrestres que vigiam e zelam pelas nossas vidas às ordens de Ashtar Sheran, Comandante da Frota dos Homens do Espaço.
Das discussões neste espaço sobre o celebérrimo Allan Kardec e o Espiritismo também levei umas bordoadas de um nosso amigo que mais tarde tivemos o prazer de conhecer pessoalmente e verificar que afinal era uma pessoa igual à gente. Que lhe terá acontecido? Gostava de revê-lo no próximo convívio.
Temos agora a Grande Fraternidade Branca, cujos mestres nos querem ensinar a assumir a nossa espiritualidade. Como parece que ainda não têm uma sede, precisam de caroço para se organizar. Somos deste modo solicitados para comprar alguns dos seus vários produtos que nos permitirão progredir na compreensão dos ensinamentos dos “Mestres Ascensos” e da importância da “Chama Violeta”.
Temos na montra das compras o livro “Razão de Viver” da psicóloga alquimista Maria Lúcia Vieira; o livreto de orações “Comandos de Luz”; “Japa-Malas de cores diversas; uma imensa variedade de CD’s sobre as 108 “Ave Marias” e “Pai Nosso” e até nada mais do que 25 mantras, para além de um variado stock de músicas alusivas a este ramo da espiritualidade. Branca com alguns laivos violetas.
Confesso que não tenho tempo e se o tivesse também não teria disposição para me embrenhar em mais redes da nebulosa místico-esotérico, redes que nascem um pouco por todo o lado mas principalmente na América do Sul e também na do Norte.
O Brasil deve bater todos os recordes.
Pronto!
Atirem agora. Já instalei a defesa anti-aérea.
A.M.
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