Alguns amigos simpatizantes do partido que ganhou as últimas eleições legislativas sem obter maioria absoluta, teceram aqui alguns comentários criticando toda a oposição por tender a obstaculizar a aprovação do programa do Governo que será votado na Assembleia.
Foram culpados, segundo dizem, por não quererem fazer coligações, nem acordos de qualquer espécie, que permitisse ao PS, a quem os eleitores retiraram a maioria, governar o país como se a tivesse. Não sabendo - parece que ninguém sabe - o que se passou nas reuniões promovidas pelo Sr. Primeiro Ministro, partiram do princípio que rejeitaram óptimas propostas e algumas cedências para integrarem o executivo.
Orgulhosos, é o que eles são! E mal agradecidos.
O nosso sistema político está organizado por partidos como está definido constitucionalmente. Cada partido elabora os seus programas e sujeita-os a sufrágio popular. Se alguns são parecidos, há outros muito divergentes. Por mais obsoletos ou inexequíveis que sejam, se tiverem apoio popular que permita eleger deputados, podem, mas não devem, rasgar os compromissos que assumiram.
Tudo bem, nunca serão governo, e a única hipótese que lhes resta é poderem ser úteis para impedir que governos minoritários façam o que lhes apetece.
Depois, temos ainda um outro aspecto a considerar.
Sou defensor de pactos de regime em matérias como a educação, as obras públicas ou a saúde, para evitar os custos nos recuos, anulações de contractos, mudanças de política nalguns sectores, que acabam sempre por recair sobre os pobres contribuintes. Não tem pés nem cabeça que depois de alguns milhões gastos em estudos de projectos, venha um governo alternativo e anule tudo para aplicar a sua alternativa.
Acontece que os partidos que se têm alternado no poder são o PS e o PSD pelo que devem ser eles a estabelecer pactos de regime. Não tem pés nem cabeça fazer pactos de regime com quaisquer outros partidos da oposição. Ou tem?
Depois de algumas leituras feitas neste espaço creio que posso concluir que existe um largo consenso sobre os malefícios da corrupção entre os simpatizantes dos diversos partidos políticos. Se isto se passa no meio de grupos sociais tão heterogéneos como este, porque razão existe tanta reticência nos diversos governos que se têm alternado no governo em aceitar propostas que possam combatê-la?
E agora, já foi entregue outra na Assembleia, por deputados de uma minoria acusada de obstaculizar este governo.
Será que Sócrates, tendo-se exaurido a oferecer lugares e a fazer cedências aos partidos da oposição em reuniões à porta fechada, estará agora disposto a aceitar e a discutir esta proposta, dando, então sim, um sinal claro do seu interesse em fazer acordos.
Sim, porque um acordo, neste contexto, significa: harmonia de vistas, concordância colectiva, conformidade. O que implica cedências de parte a parte.
Houve algumas? Ora digam cá.
A.M.
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