segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Duas vezes é para o segundo andar

Uma história, curta que talvez sirva para ilustrar a minha experiência neste tipo de discussões.
Quando após o 25 de Abril, apareceram os LCI, os AOC, os MRPP, as UDP, os PCPR, os POUS, etc., etc., que não sei onde andavam antes, e eu ainda era apenas delegado sindical do Sindicato dos Electricistas do Sul e Ilhas,vi-me confrontado com este tipo de situações:
Nas reunião do sindicato para discutir qualquer assunto, alguns grupos, como por exemplo os militantes do MRPP, impediam que se marcassem tempos para discutir os diversos pontos da agenda de trabalho com o argumento de que a mesa queria sufocar a voz da classe operária.
Cedendo, os trabalhos prolongavam-se até às cinco ou seis da matina e muitas vezes alguns de nós íamos d'ali directamente para a fábrica, sem que os assuntos ficassem definitivamente resolvidos.
O pormenor mais interessante é que o elemento do MRPP que iniciava a reunião, era substituido por outro duas horas depois e este por um terceiro, quando não um quarto, ainda.
Claro que se entendia muito bem qual era a táctica, mas como a democracia estava no início e não se podia cortar a palavra a ninguém que não se fosse logo acusado de fascista ou social fascista, ali ficava a Mesa da Assembleia amarrada a esse preconceito.
Lembrei-me destes episódios depois de mais de trinta e tal anos, porque já não sei a quem responder.
Ao Fortunato Rigueira, ao Victor Simões, ao Pablo de Andrade, ao Marco Pratas ou à Carla Brunhoso?
Caramba, 33 anos depois, uma dose igual?
Gaita eu sou só um e vocês fazem turnos.
Ora deixem cá o velhote com as suas recordações que tenho mais que fazer.
Tá, Fortunato? Tá Carla? Tá Victor? Tá Pablo? Tá Marco?
A.M.


domingo, 13 de setembro de 2009

Grão Debate

Logo a seguir ao debate, ouvi alguns comentários, entre os quais o de Luís Delgado e o de Ricardo Costa e fiquei convencido que ainda há gente que julga que povo português é estúpido.


Manuela Ferreira Leite foi absolutamente cilindrada. Meteu os pés pelas mãos, mostrou que não estava preparada para o debate, não apresentou dados estatísticos nem para fundamentar as suas críticas, nem para contrariar as de Sócrates.

Também ouvi mais do que uma opinião afirmando que ela não tinha perfil para ser PM.
E o que afirmaram estes senhores?
Que Manuela Ferreira Leite tinha vencido porque superou as expectativas.

Realmente “a minha alma fica parva” ao ouvir tal argumentação.

Raciocinando:

Se alguém excede as expectativas é porque teve um desempenho melhor do que o esperado. Não se definindo qual o grau de exigência para alinhar à partida, pode-se admitir que um concorrente que conseguiu somar 2+2 teve um bom desempenho porque ninguém esperava que ele chegasse tão longe.

Mas aquilo não foi propriamente um exame. Era um debate, um anglicismo que só não foi contestado porque Graça Moura ainda não era vivo na altura. A gente já tinha a “discussão” para referir aquilo que ontem se passou e não precisava nada do “debate” (di’beit).
Não importando a origem de um e de outro vocábulo, qual o seu significado?
- Acto em que se esgrimem razões a favor ou contra determinado tema.

Como é lógico, depois de terminado, a apreciação é muito subjectiva dado que a formação e simpatias políticas concorrem para a formação das diversas opiniões.

Se por acaso tivesse havido algum equilíbrio naquela discussão, aqueles senhores nunca teriam referido que ela vencera por exceder as expectativas.

Isto digo eu, que não vou votar em nenhum dos dois, dado que, como isto anda lá por Bruxelas, só vamos escolher um gestor para gerir a coisa sem dissonâncias de maior com as regras da EU.
Todavia, a escolher entre os dois ainda preferia Sócrates a não ser que defendesse a teoria do “quanto pior, melhor”, caso em que votaria M.F.L.

Para amenizar, dado que esta coisa de eleições é repetitiva e nos provoca algum sono, deixo aqui uma graçola brasileira a propósito de debates, neste caso, parlamentares.
Um deputado brasileiro ao ouvir um seu adversário acusá-lo de ser um autêntico purgante, respondeu-lhe:
- E vossa excelência é o efeito!

Inté,
A.M.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Serafim e Malacueco

Durante algum tempo tentei compreender a razão deste súbito e irreprimível desejo de recordar os tempos de infância.
Quando o motor já fumegava e corria o risco de gripar, descobri.
Foi devido à associação de ideias, sempre muito útil nestas circunstâncias.
Já tinha passado em revista uma série de lugares, como o rio, a maracha, a escola, o Estádio da Caganita, o pontão, o Salgueiro e o Largo das Festas com os seus centenários plátanos, quando surge ao longe o Anselmo com a sacola dos jornais ao ombro.
Será que traz o meu “Mosquito”?
Trazia.
Mas não foi o Capitão Meia-Noite, nem o Tarzan, nem o Rip Kirby, nem os Flibusteiros nem o Cuto que determinaram esta rápida viagem às origens.
Foi o Serafim e o Malacueco.
Mais o Malaqueco do que o Serafim como está bem de ver.

Por causa da doação de órgãos

O termo "doação de órgãos" sugere que é necessário fazer uma declaração nesse sentido, mas na verdade julgo não ser assim.
Para não aproveitarem o meu rico coração e enfiá-lo num bilioso qualquer, é necessário que eu declare que não doo as minhas vísceras, seja para estudo, seja para transplante, para nada nem para ninguém.
Não fazer a declaração implica que me podem esvaziar o arcaboiço, o que certamente me tornaria mais leve para subir ao céu, mas que por outro lado me podia impedir de lá entrar, principalmente se já não levar coração.
Como sou ateu e por tal muito pragmático até acho que a lei, embora matreira, ainda fica aquém do que eu proporia: a disponibilidade absoluta dos corpos dos defuntos pelas unidades de transplantes e laboratórios de investigação para benefício de todos os viventes.
Porque te ris?
Sim, sim, para teu benefício, também!
Mas cuidado, como já informei aqui neste espaço quando da discussão sobre o mesmo tema, podemos sempre, deixar uma declaração orientadora do destino a dar aos nossos órgãos ou tecidos.
Ainda estou a pensar que recomendação deixar para o uso dos meus rins, do meu coração ou da minha figadeira.
Mas porque minha mente tortuosa ainda admite que depois de morto me possa vingar de alguns inimigos de estimação, já tive o cuidado de manifestar que desejo ver os meus ossos transformados em pipos de irrigador.
A.M.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

"South of the Border"

O cineasta Oliver Stone é um realizador americano, mais precisamente novaiorquino.
Diz-se que é controverso mas eu acho que deve ser comunista encapotado.
Isto é, quando produz “World Trade Center” está em mangas de camisa, quando executa Platoon veste uma samarra alentejana, quando lança Wall Street usa smoking, em W. vai em cuecas e agora enverga capote quando produz “South of the Border", que acaba de estrear em Veneza com a presença do presidente venezuelano Chávez.
Este director de cinema afirma que os meios de comunicação nos EUA e o próprio governo norte-americano procuram “demonizar” o presidente venezuelano para além de outros chefes de estado da América do Sul.
No filme ele é apresentado como o herói do povo que não teme confrontações com os mais poderosos.

Claro, o Oliver já tinha sido preso quando tinha 21 anos por causa da passa e portanto não merece crédito, é certamente um tresloucado, drogado até à medula.
Bem, um outro personagem que saiu de cena há pouco tempo dependia do álcool e chegou a presidente da maior nação do mundo.
Ali, tudo pode acontecer!
A.M.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Tamiflu

Tenho por hábito, se me dão tempo, de considerar todas as hipóteses possíveis (e até impossíveis) de uma história, de um acontecimento ou de uma notícia.
Creio que se tivesse adquirido bagagem suficiente quando andei a roçar o rabo pelas cadeiras das escolas, havia uma característica fundamental da pesquisa científica que me teria permitido chegar mais longe do que o tu cá tu lá com os electrões – a formulação de hipóteses.
A minha mulher já nem me pode ouvir, mesmo depois de quase 50 anos de convívio, quando ao ouvir uma notícia na TV eu disparo: Esta história está mal contada.
Ela diz que eu digo: esta história tá mal contada
Mas caramba quem é que não diz tá ou mesmo tá tá?

Na verdade esta história da gripe suína nunca me cheirou muito bem.
Hum…, havia qualquer coisa que me fazia arrebitar as orelhas.
Muito tempo antes de se falar deste tipo de gripe já eu tinha chamado o 112 duas vezes para levar o meu indispensável complemento ao hospital que sofrendo de deficiência respiratória fica bloqueada com qualquer tipo de H N, seja ele 2, 3, 4 ou mesmo 5, apesar da injecçãozinha antigripal que toma todos os anos no início do inverno.

O que sabemos é que a indústria farmacêutica, tal como a de computadores, de pronto-a-vestir, de enlatados ou de transportes o que pretende é ganhar o máximo dinheiro possível e por vezes não havendo limites jurídicos, éticos ou morais para travar a ganância dos gestores que principescamente pagos procuram agradar aos accionistas, se entra numa espiral do “vale tudo menos tirar olhos”.

Toda esta conversa tem como objectivo introduzir “esta coisa” que se calhar a maior parte de vós já conhece e circula há algum tempo por tudo o que é sítio.
Também tenho direito a uma transcrição.
Ou não tenho?
Cá vai.


Sabe que o vírus da gripe suína foi descoberto há 9 anos no Vietname?

Sabe que desde então morreram apenas 100 pessoas EM TODO O MUNDO durante estes 9 anos?

Sabe que os americanos foram os que informaram acerca da eficácia do TAMIFLU (antiviral humano) como preventivo?

Sabe que o TAMIFLU apenas alivia alguns sintomas da gripe comum?

Sabe que a sua eficácia no tratamento da gripe comum está a ser questionada por grande parte da comunidade científica?

Sabe que perante um SUPOSTO vírus mutante como o H5N1, o TAMIFLU apenas aliviará alguns sintomas?

Sabe quem comercializa o TAMIFLU? Laboratórios ROCHE.
Sabe a quem a ROCHE comprou a patente do TAMIFLU em 1996? À GILEAD SCIENCES INC.

Sabe quem era o presidente da GILEAD SCIENCES INC., principal accionista?

DONALD RAMSFELD, ex-secretário da Defesa norte americana no governo Bush.

Sabe que a principal base do TAMIFLU é o anis estrelado?

Sabe quem é que detém 90% da produção da árvore de anis estrelado? ROCHE.

Sabe que as vendas do TAMIFLU passaram de 254 milhões em 2004 para mais de 1.000 milhões em 2005?
Sabe quantos mais milhões pode ganhar a ROCHE nos próximos meses se continuar este negócio do medo?

O resumo do negócio é o seguinte: os amigos de Bush decidiram que um fármaco como o TAMIFLU é a solução para uma pandemia que ainda não ocorreu e que causou 100 mortos no mundo inteiro desde há 9 anos.

O vírus não afecta o ser humano em condições normais.

Ramsfeld vende a patente do TAMIFLU à ROCHE e esta paga-lhe uma verdadeira fortuna.

A ROCHE adquire 90% da produção do anis estrelado que é a base do anti-viral.

Os governos do mundo inteiro sentem-se ameaçados por uma pandemia e compram à ROCHE quantidades industriais deste produto.

Nós acabamos por pagar o medicamento, e Ramsfeld, Cheney e Bush fazem um belo negócio.

SOMOS TODOS IDIOTAS ou é apenas mais uma gripe?


A.M.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

A coerência

Talvez não seja boa altura para falar desta coisa cuja definição simplista encontrada nos dicionários não esclarece cabalmente.
Afinal, quantas coerências existem?
Li algures que se um ladrão abrir uma pastelaria e vender os cafés a 1 euro e os pastéis de nata a 3 euros, isso é um claro sinal de coerência.

Em determinada altura, sendo encarregado da área de manutenção electrónica numa fábrica, fui avaliado pelo encarregado geral, que me deu óptimas classificações em quase todos os parâmetros. Contudo havia um que mera claramente desfavorável – o relacionamento com os meus subordinados.
Procurando esclarecer a situação com o intuito de poder emendar a minha conduta nesse particular aspecto, fiquei a saber que se devia ao facto de ser “muito macio” para com eles. Ainda tentei defender a teoria de que ser mais duro não é sinal de que se obtenha um melhor desempenho da equipa. Em vão.
Alguns anos depois, como responsável pelos Laboratórios de Trabalhos Práticos de Electrónica numa unidade militar, fui chamado à pedra pela mesma razão. O director chegou mesmo a despedir-me com uma simpática palmada nas costas – “Já percebi, andas a fazer o papel de gajo porreiro”

Lembro-me agora destes episódios, precisamente por causa do défice de coerência de que me acusa Braga da Cruz.
Na verdade, era de uma atroz incoerência um tipo macio e porreiro enveredar pela vida militar. Ou até ser encarregado numa multinacional onde se exige severidade e intransigência no relacionamento com os subordinados.
Seria melhor, por mais coerente, ter escolhido uma profissão de relacionamento público onde por vezes o funcionário tem que se humilhar perante um cliente irritado e mal-educado para não ser despedido ou apenas para obter uma boa informação para o currículo.

No caso em “epígrafe” a minha incoerência deve-se ao facto de ter feito uma crítica endereçada a uma pessoa e não ter igual procedimento para com um outro.
Incoerência não há dúvida, mas apenas aparente.

Se desde que entrei nestas andanças afirmei e continuo a afirmar que cada um deve gerir os seus próprios relacionamentos e só faço críticas mais agrestes quando eu próprio sou visado ou prejudicado com o comportamento de alguém, não seria de grande incoerência, desajustar a teoria da prática?

Resumindo a coerência e a incoerência andam juntas como duas irmãs siamesas.
O erro de paralaxe produzido pelo ângulo de observação é que determina uma e outra.

Obrigado, pela oportunidade,
A.M.